11 - Soltrópico, um operador turístico focado em Cabo Verde

Logótipo inicial da Soltrópico (1991)

 A década de oitenta de século passado foi um período charneira na minha vida e na vida da minha família. Sem prejuízo do que deixávamos para trás na Bélgica, que de resto nos orgulha, decidimos em 1983 regressar a Portugal, movidos sobretudo pela ideia de que os nossos filhos, o David e a Isabel, no limiar da escolaridade, precisavam de se inteirar do passado histórico e da realidade sociocultural paternos e maternos, como forma de ligarem em plenitude as suas raízes com o seu futuro, o que felizmente veio a acontecer com naturalidade, até à autonomia, social, cultural e económica que almejaram.

Quanto a nós, a Guiomar e eu, enveredámos, a par das responsabilidades familiares,  por uma carreira empresarial, que passou por diversas iniciativas, a começar pela ECOPOR (Empresa de Comercialização de Produtos de Portugal), cujo objeto principal foi o de intermediar serviços de transporte de mercadorias, em associação com o cunhado Manuel Afonso Duarte Lopes e o pai, o saudoso sr. Joaquim de Sousa Lopes, que detinham na altura uma das empresas mais conceituadas do país no setor (Transportes Casais). A Ecopor viria a transformar-se mais tarde, em 2001, na “Contacto Virtual, design de comunicação”, na sede que compráramos na rua Manuela Porto, em Carnide, reconvertendo-se assim a empresa à criatividade gráfica, que durante 20 anos alimentaria em marketing de imagem não só a Soltrópico como diversas empresas ligadas ao Turismo, particularmente a rede de agências e operadores que fui abrindo em Cabo Verde, e mesmo algumas outras, que se aliaram no grupo de operadores turísticos Terra Sab... Logótipos, brochuras, prospetos, sites, mapas, capas de voucher, autocolantes, documentação de office, stands de feira, diretórios de hotéis, roll-ups, painéis, anúncios, outdoors, foram pensados e desenhados pela nossa equipa de criativos, e executados por empresas gráficas diversas…

Em 1990, a Soltrópico

Mas a iniciativa empresarial que mais marcou a minha vida foi a da Soltrópico, pois construí-lhe o berço e acompanhei-a dia e noite desde a constituição, logística, promoção, imagem, seleção de recursos humanos, até à maturidade, quando em 2009, ano em que também atingi a idade da reforma, depois de 20 anos aos comandos, a Empresa se tinha guindado ao mais alto nível da operação turística em Portugal.

Com a adesão à Comunidade Europeia (12 de junho de 1985) sopravam em Portugal ventos cada vez mais fortes de empreendedorismo nas várias facetas da Economia, e o Turismo, quer na sua vertente de Recetivo, potenciando o acolhimento de visitantes de lazer, cultura e negócio ao país, quer na vertente Emissora, proporcionando aos residentes conhecer mundo, aparecia já como um dos setores mais promissores para quem se lançava na atividade empresarial, mau grado a impressão comum a todas as épocas de que o mercado já estivesse saturado de oferta… Como veio a verificar-se, não estava, nem em quantidade, nem em diversidade, nem em qualidade!

Em Marraquexe, 1987, jantar no El Mamounia. O Domingos é o 2º, da esquerda

O primeiro incentivo a que me dedicasse ao Turismo surgiu de um colega dos tempos do Seminário, o Domingos Vicente Marques, que tinha lançado em Buenos Aires uma agência de viagens a que deu o nome de Cascais. Ele procurava um parceiro em Lisboa, que servisse de placa giratória para os turistas que enviava de visita a Portugal e à Europa. Fomos juntos participar no XIII Congresso da APAVT (Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo) em 1987, em Marraquexe, e no regresso aprofundámos a ideia de abrirmos, os dois com outro ex-colega, o António Torres Vieira, uma agência em Lisboa. Comprámos para o efeito espaços na Torre 2 das Amoreiras, o complexo comercial mais in da altura, e aprestávamo-nos para arrancar quando um acidente numa passagem de nível vitimou o Domingos na Argentina.

Após uma pausa, cruzei-me em 1989 com o Gustavo Araújo, como eu um ex-emigrado da Bélgica, que planeava abrir um operador turístico em Cabo Verde. Conversámos durante alguns meses, mas acabámos por concluir que os nossos projetos não eram compatíveis, pelo que ele avançou com a Exosol e eu prossegui com a Soltrópico.

Tratei com o primo Silvestre, advogado em Lisboa, e a filha Carla, também jurista, estabelecidos na rua José Falcão, junto à Praça do Chile, dos preparativos legais, obtive a Certidão Negativa do nome, elaborámos os estatutos, e convidei o cunhado Manuel Afonso Duarte Lopes para a sociedade, que anuiu e por sua vez convidou outros cinco, o irmão José Armindo, o empresário Augusto Machado e o filho Eduardo, o seu amigo Joel Rocha, funcionário superior na Câmara da Feira, e o empresário metalúrgico António Cepeda Alves, estabelecido na Maia, vindo a completar o elenco Manuel Marques da Silva, um conhecido empresário cabo-verdiano estabelecido em Lisboa, no Bairro Azul, e o meu irmão Manuel Álvaro,  ambos a meu convite, e ainda José Gomes de Pina, na altura chefe de vendas da Ytong Portugal, a convite do meu cunhado.

Na altura o estatuto de agência de viagens exigia a figura de um Diretor Técnico, com provas dadas de conhecimento e gestão no ramo. A conselho da Direção Geral do Turismo de então recorri ao Carlos Pessoa de Amorim, que pouco mais tarde foi para outro projeto e deu lugar ao Constantino Pinto. Quer um quer outro estavam rotinados em Recetivo, particularmente de grupos de estudantes espanhóis, que por isso se tornou o core business da Empresa nos primeiros tempos.

Mas a vocação da Soltrópico, que já me tinha inspirado a escolha do nome, orientava-se fortemente para os trópicos. A começar por Cabo Verde, um destino cujos povo, cultura e geografia se tinham tornado para mim particularmente familiares e inspiradores. Por outro lado, eu tinha a perceção de que um operador turístico novo no mercado tinha de descobrir caminhos também novos, e por isso a grande aposta foi feita em gente nova, acabada de formar nas faculdades de turismo que se iam afirmando então em Portugal. Ao primeiro anúncio respondeu Nuno Mateus, um jovem bacharel formado no ISLA, cuja entrevista me convenceu de rompante, quer pela competência profissional, já algo rodada no estágio curricular feito na UGTur, na Baixa de Lisboa, quer na atitude assertiva que desde logo deixou transparecer. Juntamente com mais alguns jovens que foram chegando, do Instituto Superior de Novas Profissões (INP) ou do Instituto Superior de Línguas e Administração (ISLA), ou ainda das Universidades do Algarve e de Aveiro, entre outras Escolas, fizemos juntos um verdadeiro tirocínio, que nos levaria nos anos que se seguiram a identificar objetivos e métodos de atuação diferenciadores no panorama das Viagens e Turismo em Portugal.

1990 - Os pioneiros da Soltrópico: Alexandra, Constantino, Nuno e Armando

Nunca me esquecerei da cultura de reuniões e debates que instituímos juntos, a começar pelo estabelecimento de um briefing diário de arranque do dia que se tornou incontornável ao longo dos 20 anos em que liderei a equipa. Comparecíamos 10 minutos antes das 9 horas, e era ali que relançávamos o dia, com um empenho e um entusiasmo que nunca definharam, quer quando éramos apenas meia dúzia, quer quando chegámos a ser mais de 30, anos mais tarde…

Debatíamos tudo, sem reservas nem preconceitos, como se todos fôssemos ao mesmo tempo investigadores e sócios da empresa. Desde a folha de rosto do processo de reserva (lembro-me de que elaborámos 27 modelos sucessivamente aperfeiçoados ao longo dos primeiros meses até atingirmos um modelo que nos satisfizesse), à seleção das ferramentas de comunicação mais avançadas (data desse tempo a transição do telex com comutador alfa-numérico para o telex com memória RAM, e logo para o FAX, antes de se impor, nos finais do século XX, o e-mail em ambiente INTERNET...), à escolha de um parceiro especializado em redes informáticas (a seleção recaiu sobre uma das poucas soluções disponíveis no mercado português no início dos anos 90, a TURIGEST do sr. Hélder Guerra, com Escritório na rua do Possolo), ou à previsão diária da evolução dos negócios preparada pelo Diretor Financeiro, ou ainda à elaboração da Certificação de Qualidade, de que a Soltrópico foi pioneira no mundo das agências de viagens e da operação turística em Portugal, redigida e assimilada por todos os elementos da equipa ao longo de 8 anos, formalizada em 2007 por uma empresa especializada, a LearnView, e consumada pelo prestigiado e internacional BUREAU VERITAS em julho de 2008…

O capital inicial da Empresa foi de 20.000 contos, subscritos de forma equilibrada pelos acionistas, e de que boa parte serviu desde logo para a compra da sede, na rua José Galhardo, no Lumiar. Fizemos as obras de acabamento, comprámos os equipamentos essenciais, e começámos a operar em março de 1990.

Não cabem num texto de um blogue os detalhes da evolução da equipa que moldou a Empresa Soltrópico, mas resumo de seguida alguns passos e alguns episódios marcantes desta experiência empresarial, que deixou uma marca bem vincada no pequeno mundo da operação turística em Portugal da última década do século XX e da primeira deste que estamos a viver.

A aposta em Cabo Verde

A primeira grande decisão da jovem equipa (eu era então um “velho” de 45 anos, a par de colegas todos eles na casa dos 20, à exceção do Diretor Técnico, o Constantino Pinto, que andava pela casa dos 30) decorreu de termos compreendido, de resto na linha do memorando fundacional que eu escrevera como plataforma à atenção dos acionistas, que tínhamos de apostar, para além dos grupos de Recetivo, em destinos emissores que pudessem inovar nas opções de férias dos portugueses e tivessem potencial de progressão. A primeira escolha recaiu naturalmente sobre Cabo Verde, ainda pouco conotado como destino turístico, mas com a vantagem de já na altura eu o conhecer bastante razoavelmente por lá ter vivido 3 anos muito ativos da minha juventude. O Nuno e a Alexandra aderiram à ideia com entusiasmo e lançámos a primeira brochura em 1991. Apenas 4 páginas, mas já com 3 ofertas, uma de 8 dias (Santa Maria do Sal), e duas de 15 dias (Panorama de Cabo Verde – Santiago, S. Vicente e Sal –, e Cabo Verde Profundo – Boa Vista, Santiago, S. Vicente e Sal).

Numa altura em que a única agência especializada nas Ilhas da Morabeza – a Vector – fechava portas por morte prematura do seu mentor, sr. Ferro, o sucesso desta programação incipiente mas já bastante robusta, em boa parceria com os Transportes Aéreos de Cabo Verde, foi imediato e progressivo, ao ponto de rapidamente se tornar o destino líder do operador, surpreendendo os próprios acionistas da empresa, que não haviam escondido as suas dúvidas e até algum ar de descrédito quanto ao potencial de Cabo Verde como destino turístico…

Mas a operação foi crescendo, e a oferta de estadias balneares e de circuitos foi-se incrementando, com prevalência de semanas inteiras de férias na Ilha do Sal, mas com uma componente apreciável de circuitos a quase todas as ilhas, que chegou a atingir a significativa percentagem de 36% de todo o volume da operação, apoiada nos poucos hotéis existentes fora das ilhas do Sal e de Santiago, caso do Xaguate no Fogo, da pensão 5 de Julho na Ribeira Grande de Santo Antão, da pensão Chez Luisete na Ponta do Sol, do hotel Dunas na Boa Vista, da pensão Tátá no Tarrafal de Santiago, da pensão Sol Mar na Praia, ou do hotel Marilú no Maio… Honra seja feita aos Diretores dos TACV em Lisboa, em especial o dr. António Cabral e o dr. João Mendes, com quem pudemos negociar tarifas adequadas combinando voos internos e internacionais, e também ao crescimento da hotelaria no Sal, onde depois do Morabeza e do Belorizonte foram surgindo os hotéis do grupo Stefanina e do grupo Oásis, entre outros, como o hotel de charme Odjo d’Água, e mais tarde os RIU, Meliã, Hilton, etc. E na Boa Vista, o Marine Club, o Iberostar, os Riu, os Ouril…

O sucesso da operação para Cabo Verde foi de tal modo sustentado que não tardámos a liderar o destino, não só em Portugal, mas atraindo também numerosos clientes de outros países, com destaque para França, Suiça, Espanha, Checoslováquia e Polónia, estes três últimos tendo montado mesmo operações charter.

Operações charter para Cabo Verde

Como não há bela sem senão, este êxito de uma empresa neófita no mercado gerou alguns desafios, dos quais o mais delicado nos veio paradoxalmente do parceiro mais chegado: os Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV). Corria o ano de 2003 e o volume de turistas da Soltrópico para Cabo Verde atingiu as centenas por semana, exigindo-nos uma solução para além das que tínhamos com os voos regulares, com os TACV e a TAP. E quando esperávamos uma anuência entusiástica dos TACV ao posicionamento de um voo charter semanal, a Companhia cabo-verdiana de bandeira retirou-nos o tapete, secundada aliás pela TAP, e colocou-nos assim perante um constrangimento que ameaçava impedir-nos de continuar a crescer, tanto mais que as duas companhias estavam alinhadas num duopólio para a ilha do Sal, na altura o único aeroporto internacional do país.

Como soe dizer-se, a necessidade aguça o engenho, e foi assim que se iniciaram diligências, discretas mas eficazes, junto das Aeronáuticas Civis de Lisboa e da Praia, lideradas pela Air Luxor, Companhia com a qual tínhamos iniciado operações charter para o Egito e para o Brasil. As negociações demoraram cerca de um ano, e no dia 31 de março de 2004 era assinado na Praia pelos Presidentes da República dos dois países o Acordo de Abertura dos Céus entre Portugal e Cabo Verde, que nos permitiu iniciar a desejada operação charter semanal Lisboa-Sal-Lisboa logo no dia 4 de abril seguinte, a preços bem mais competitivos que os que até então nos eram disponibilizados pelas duas Companhias Regulares. Foi um sucesso fulgurante, que se traduziu na multiplicação de voos já no verão desse ano, de Lisboa e também do Porto, o mesmo vindo a acontecer com a Boa Vista daí a 4 anos, em 2008. Uma enorme oportunidade perdida pelos TACV, difícil de explicar, ao não aceitar assumir o papel de liderança no transporte aéreo de turistas, um mercado que à partida lhes parecia destinado. E mesmo quando, anos mais tarde, a Air Luxor mudou de rumo e deixou as operações regulares, foi ainda a açoriana SATA que aproveitou a oportunidade, e mais tarde a própria TAP, que soube finalmente disponibilizar allotments em quantidade e condições adequadas ao Turismo…

E como um problema nunca vem só, os TACV decidiram ainda retaliar a aliás forçada opção da Soltrópico pela Air Luxor e retiraram-nos os preços negociados para os circuitos internos, atitude que teve duas consequências, ambas bastante negativas para a própria Companhia e para Cabo Verde: por um lado, os circuitos turísticos pelas ilhas diminuíram acentuadamente devido ao aumento substancial dos preços dos voos; o que, por outro lado, e esta foi a segunda consequência, teve por natural efeito a busca pela Soltrópico de uma alternativa exterior à oferta de transporte aéreo então existente em Cabo Verde….

Nova Companhia Aérea em Cabo Verde: Halcyon Air

Tal alternativa traduziu-se no lançamento, ainda em 2004, por minha iniciativa através da Morabitur (uma agência que fundei com o sr. Alfredo Rodrigues na Praia em 1996, que passou depois para os cuidados do sr. Anacleto Soares no Sal, e que se ergueu e prosperou com a chegada do Benoit Vilain em 2008, como Diretor e depois sócio) de uma nova Companhia Aérea, a Halcyon Air, com o objetivo de suprir a necessidade de proporcionar aos turistas que começaram a afluir em grande número à ilha do Sal, e mais tarde à ilha da Boa Vista, excursões e circuitos às restantes ilhas do arquipélago. O estabelecimento, estruturação, operação e queda da Halcyon Air foram uma aventura meteórica cheia de colorido, se abstrairmos da vertente dramática; uma história a merecer um desenvolvimento à parte.

Operação charter surpresa para o Egito

Em novembro de 2002 o dr. Agostinho Abade, que vinha desenvolvendo em Cabo Verde e no Brasil o grupo hoteleiro Oásis Atlântico, veio falar-me de um free lancer belga, de nome Jacky Arnoudt, que o tinha abordado e que procurava um operador de porte médio na altura que estivesse disposto a montar uma operação charter de Portugal para o Egito. Marcou-se um almoço num restaurante de Telheiras entre os três, durante o qual o Jacky expôs as bases da operação: teríamos de encontrar uma companhia aérea disposta a negociar um preço ajustado, tínhamos a garantia de um Recetivo no Egito ao qual ele estava ligado e que assegurava ser de grande equilíbrio qualidade/preço, e o Governo Egípcio estava em maré de oferecer um valioso incentivo, empenhado que se encontrava em superar as consequências nefastas de um atentado terrorista perpetrado anos atrás contra um autocarro de turistas alemães e que afetara gravemente o afluxo de turismo para o país… Informou-nos ainda de que na Holanda e na Bélgica estavam a conseguir oferecer ao turista um preço-base para uma semana de férias no Egito a partir de 300 euros!

Jacky Arnoudt

Ora, em Portugal os operadores estavam a oferecer por esta altura uma semana no Egito a partir de 1.300 euros em hotel de 3 estrelas em regime de alojamento e pequeno almoço, é certo que em voo regular, mas que configurava um quadro que tendia a inibir-me de dar crédito nesta primeira abordagem a uma oferta tão díspar. Mas o Jacky voltaria em dezembro à Soltrópico, trazendo com ele o sócio financeiro, Jacques, e os donos do Recetivo no Egito (Travel Ways), os arménios Tro Guevrekian e Sarkis Keselian. Foram dois dias de trabalho intenso de análise com o Nuno, Diretor Comercial, e a equipa financeira da Soltrópico, que não deixaram de exprimir as mesmas dúvidas que eu tinha tido um mês atrás, mas os detalhes trazidos pela Travel Ways fizeram o seu caminho, e quando o Jacky voltou em janeiro de 2003 para o round final de negociações, já depois de termos conseguido, em cima da BTL, o aval da Air Luxor para disponibilizar um primeiro voo semanal de um A320 de 150 lugares Lisboa-Luxor-Hurgada-Lisboa ao preço de 250 euros ida-e-volta por assento, tomámos a decisão, e colocámos no nosso stand da BTL um cartaz anunciando a operação anual em charter a partir de abril, com preços por pessoa a partir de 299 euros! Como era de prever, o stand foi invadido por agentes de viagens e público, a indagar se confirmávamos aqueles preços, e se até no hotel mais caro, o Meridien Makadi de 5 estrelas, no Mar Vermelho, corroborávamos o preço por pessoa/semana a partir de 599 euros…



Equipa de inspeção no interior da Grande Pirâmide, no túmulo de Quéops
Da esquerda para a direita: Pedro Ferreira, Sandra Ferreira, Nuno Mateus, Armando Ferreira, (jornalista), Luís Galvanito, Pedro Aguiar. O Bruno Pereira fez a foto.

A viagem de inspeção, em março, não só confirmou o acerto da nossa escolha como superou todas as expectativas trazidas pelo Jacky e pela Travel Ways, quer no Nilo, onde visitámos Luxor, Karnak e Tebas, bem como os navios de cruzeiro selecionados para a nossa operação, quer em Hurghada, um forte trunfo, por se situar no mítico Mar Vermelho e porque se revelou uma excelente estreia de um destino balnear novo, com novíssimos hotéis, qual deles o mais agradável... Ainda em março fizemos um roadshow pelas principais cidades do país a anunciar a boa nova aos agentes de viagens, nossos parceiros indefetíveis. Estava a via amplamente aberta para a fam trip que, com mais de uma centena de entre eles, mais alguns jornalistas, no dia 4 de abril deu o tiro de partida à operação mais atrevida lançada pela Soltrópico no início deste século, que desvendaria, semana a semana, primeiro de Lisboa em A 320 e depois também do Porto, em Lockeed Tristar de 311 lugares, o destino Egito a milhares de portugueses nos anos que se seguiram, à razão de mais de 600 por semana em época alta…

A propósito de viagens de inspeção na Soltrópico, deixo aqui  para a pequena história um apontamento sobre a que fizemos em 2007 aos Emirados Árabes, também por sugestão do Jacky, que via, com a argúcia que o caracterizava, a hipótese de lançarmos uma operação charter para Ras Al Khaimah, um dos Emirados menos conhecidos mas já com apreciáveis estruturas turísticas e comerciais (caso do imponente outlet Manar Mall, que visitámos), aproveitando a anunciada abertura de uma nova Companhia Aérea por este Emirado, a RAK Airways. Ficámos alojados no hotel Bin Majid, dedicado ao capitão árabe que alegadamente conduziu Vasco da Gama a Melinde em 1498, uma memória bem presente no hall do hotel com um nicho alusivo à efeméride. Visitámos a partir dali toda uma série de hotéis não só em Ras Al Kheimah (Al Hamra, Hilton, além do Bin Majid) como em Fujeirah (Rotana, Meridien), em Ajman (Kenpinski) e no Dubai (Burj Al Arab, Habtoor, Hilton Jumeirah). 

Quadro alusivo a Bin Majid e a Vasco da Gama no hall do hotel Bin Majid

Na véspera do nosso regresso vivemos um episódio burlesco de que não nos esqueceremos: o Sheick de Ras Al Kheimah, Al Qasimi, convidara o grupo a jantar no seu Palácio. O Jacky, que recebera o convite de modo informal, aguardava uma chamada de confirmação, que tardava em chegar, pelo que por volta das 20 horas fomos jantar no hotel. Eis senão quando, acabados de jantar, o Jacky recebe o telefonema a convocar-nos. Não tivemos outro remédio senão dirigir-nos ao Palácio sem, é claro, cometermos a indelicadeza de denunciarmos o sucedido...  Para cúmulo, depois de um breefing de receção naturalmente centrado nos atrativos turísticos do seu Emirado, e de um sumo servido numa sala de espera luxuosamente atapetada por um empregado cerimonioso embora descalço, passámos à sala de jantar onde duas grandes terrinas nos esperavam, uma delas com um cordeiro inteiro, cerimoniosamente distribuído pela mão (em sentido próprio) do Sheick... O apetite era nulo, mas, como gente educada, lá ingerimos, o Jacky, o Nuno, o Eduardo, a Dora, o Bruno e eu, pela primeira vez nas nossas vidas, um segundo jantar no espaço de duas horas...  Infelizmente, a operação para Ras Al Kheimah não se concretizou, porque a RAK também não veio a confirmar-se... Mas ficaram-nos estas memórias únicas.

Seguiram-se anos de grande performance da Soltrópico, que logrou afirmar-se no mercado português como uma marca de inovação, qualidade e preços abordáveis, introduzindo destinos ainda pouco conhecidos, como foram as Seicheles, a Maurícia, a Reunião, as Maldivas, o Sri Lanka ou Moçambique, no Índico; ou as ilhas da Polinésia e Páscoa, ou a Costa Rica, no Pacífico; sem esquecer os destinos atlânticos, desde as Caraíbas ao Brasil, ao México, a S. Tomé e Príncipe, à Guiné-Bissau ou, claro, a Cabo Verde, o diamante mais lapidado pela jovem equipa-prodígio que durante duas décadas deu vida ao operador da Quinta do Lambert…

Os sucessivos troféus averbados por esta equipa nesses anos, dos quais se destacaram os de melhor Operador e de Operador com o melhor Site, promovidos anualmente pelo prestigiado PUBLITURIS, foram um belo prémio para aqueles profissionais briosos e prendados.

Cabe aqui uma homenagem sentida a todo o staff que fez a Soltrópico acontecer e prosperar, graças ao engenho e dedicação de todas e de todos os numerosos colaboradores que por lá passaram no decorrer daquelas duas décadas, com destaque para os colegas que foram integrando a Direção, desde o Nuno, Diretor Comercial infatigável e rigoroso, à Marília, uma Assistente de Direção competente, discreta e prestável, à Sónia, um poço de dinamismo e de dotes técnicos e comerciais, ao saudoso Bruno, um promotor nato sempre atento, ao Luís, um public relations bem ralacionado, ao Pedro Brito, um Diretor Financeiro particularmente organizado e seguro, ao Tiago Rodrigues, detrminante com a Marília no processo de Certificação de Qualidade da Empresa, à Claudia Caratão, responsável por largo tempo pelo complexo setor do Turiosmo Interno...

Associativismo no Turismo em Cabo Verde

Com a Soltrópico, procurei empenhadamente suscitar diversas iniciativas associativas na esfera do Turismo em Cabo Verde e cooperar com outras. Fui membro da Direção da UNOTUR, fundada em setembro de 2002, por iniciativa conjunta de Andrea Stefanina, Manuel António Lobo e outras personalidades de topo do Turismo no Sal nessa altura. A Unotur teve à frente da Direção a Lilian Oliveira (Turinvest), depois a Sophie Vynckier (Hotel Morabeza) e finalmente Gualberto do Rosário (GDP), eleito Presidente do Conselho Diretivo em 2006, e que veio a operar a sua transformação na atual Câmara de Turismo de Cabo Verde (CTCV), atualmente dirigida por Jorge Spencer Lima. Mantive intensa atividade quer na Unotur quer na Câmara de Turismo, onde me foi atribuído o pelouro dos Produtos Turísticos, Marketing e Eventos e Relação com Associados. Uma vasta tarefa, que procurei desempenhar com empenho, e que implicava a cooperação com o PROMEX/Cabo Verde Investimentos na organização das feiras anuais (as internacionais e a nacional), entre outras preocupações. 

Porém, a tarefa mais marcante que desempenhei como responsável dos eventos da Unotur e depois da Câmara de Turismo foi a organização dos Encontros Internacionais de Turismo (EITU), o primeiro no Mindelo, em 2005, os seguintes no Sal (do terceiro ao sexto) e o sétimo e último na Praia, em dezembro de 2016. Em 2017 fui convidado para assessorar o Ministro do Turismo, José Gonçalves, e deixei de integrar a Câmara, por decisão desta, que considerou incompatíveis as duas funções. Sobre os EITU justifica-se largamente um tratamento à parte, numa próxima oportunidade, dada a importância des Encontros na evolução do modo como Cabo Verde foi entendendo a importância do Turismo para a sua Economia, a sua Sociedade, a sua Cultura, o seu Meio Ambiente.

Logótipo original da Morabitur

Uma outra iniciativa associativa de relevo foi a que a Morabitur desenvolveu a partir de 1998 com a organização anual de um Encontro entre as diversas agências que nas ilhas garantiam o Recetivo à Soltrópico. A primeira teve lugar na Praia, e nos anos seguintes fomos percorrendo diversas ilhas, aproveitando a oportunidade para todos aprofundarmos o respetivo conhecimento, na sua geografia, paisagens, comunidades, estruturas... Todos os anos eram expostos temas de atualidade da nossa indústria, convivíamos e percorríamos os territórios, cada encontro sendo sempre concluído com a partilha de Conclusões e Recomendações pelas agências parceiras (Praiatur, em Santiago e Maio; Ecotur e depois Qualitur, no Fogo e na Brava; Agytur, e depois Atlantur, em S. Vicente; Natur, e depois Atlantur, em Santo Antão; Dunamar, e depois Clamtur, na Boa Vista; Sanitur, em S. Nicolau). Como corolário natural destes encontros, em número superior a 20, veio a constituir-se o Grupo Terra Sab, já com uma vocação de pendor marcadamente grossista. Também sobre este grupo se justifica um desenvolvimento à parte, testemunhando o trabalho de evolução paulatina mas decisiva que estas agências desenvolveram na afirmação de Cabo Verde como destino turístico conhecido mundialmente.

Um outro grupo de reflexão a merecer memórias mais alargadas foi o Clube Vela, um conjunto de empresários portugueses e cabo-verdianos que reuniu mensalmente em Lisboa entre 2004 e 2006 com o objetivo de partilhar informação e coordenar ações no tocante a Turismo de Portugal para Cabo Verde. Ao meu apelo atenderam Agostinho Abade (Oásis Atlântico), Gualberto do Rosário (GDP), Francisco Manso (Cineasta), José Simões Coelho (Air Luxor), Acácio Seabra (Empreendedor hoteleiro), João Manuel Chantre (Associação Portugal Cabo Verde), Carlos Almeida (Grupo Sacramento Campos). As reuniões, de que perduram relatórios circunstanciados, decorriam à vez nas sedes das respetivas empresas.

Turismo Interno em Portugal

Da experiência inicial com o Recetivo, que foi cedendo espaço às operações emissoras, ficou-nos um relacionamento estreito com numerosos hotéis, de que nasceu, no verão de 1996, uma das ofertas mais marcantes da Soltrópico, que denominámos "FÉRIAS POR CÁ", e que disponibilizava, numa brochura de 40 páginas, vasta oferta de estadias em numerosos hotéis nas 8 regiões turísticas em que então se dividia o país: Costa Verde, Montanhas, Costa de Prata, Costa de Lisboa, Planícies, Algarve, Madeira e Açores. E sugeria já alguns pacotes interessantes de penetração mais aprofundada de autoférias, como eram "À Descoberta do Nordeste Transmontano", "Super Safari no Algarve", "Fim de Semana Beirão", "Aventura na Costa Vicentina", "Cruzeiro Esplendor do Douro", "Luso + Mini Cruzeiro no Mondego"... Um produto de confeção trabalhosa e complexa, mas que mantivemos como elo de ligação à realidade intrínseca do nosso Turismo nacional, que de resto celebrávamos regularmente com encontros de estudo nas várias regiões, de parceria com os hotéis, a que convocávamos os agentes de viagens, junto dos quais mantivemos sempre a postura de operadores grossistas, cientes da importância que no contexto desse tempo tinha o respeito pelo papel de distribuição dos agentes de viagens retalhistas junto das populações e das empresas.

 
 
Evolução do logótipo da Soltrópico de 1990 a 2009





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