39 - O SIP - Sistema de Informação Partilhada


Desde a primeira hora em que comecei a conjeturar uma operação turística para Cabo Verde, algures em 1987, por altura do XIII Congresso da APAVT[1] em Marrakesh, em que participei com o meu ex-colega de estudos Domingos Vicente Marques, que se tinha estabelecido na Argentina como Agente de Viagens (Cascais), e cujo tema foi “Turismo, fator de desenvolvimento económico”, foi-se-me agudizando a consciência de que um dos alicerces de uma campanha de promoção turística bem sucedida radica, como aliás se torna óbvio, no conhecimento, abrangente e aprofundado, do que possa ser o “produto” turístico, nas suas diversas facetas, do destino a promover.

Foi nesse pressuposto que vim a publicar, com as minhas equipas, nos 20 anos em que fui Diretor Geral da Soltrópico, 36 brochuras de programação turística para Cabo Verde, uma em cada semestre entre 1992 e 2009, com um volume e uma profundidade sempre crescentes de propostas de férias, calibradas e tarifadas, assim como de programas culturais e de atividades as mais diversas em todas as ilhas habitadas do Arquipélago, e até digressões a Santa Luzia e a alguns ilhéus, como o Raso, ao largo do Tarrafal de S. Nicolau, ou o de Junco, à vista do Monte Leão no Sal; uma sucessão de publicações que foram evoluindo de um díptico até revistas de mais de 50 páginas, que eram distribuídas por todas as agências de viagens portuguesas, as quais por sua vez as dispensavam aos seus públicos, e de que conservo com natural orgulho e particular carinho a coleção completa.

Mas quando, em 1996, fundei a Morabitur, em sociedade entre a Soltrópico e a Praiatur, que sedeámos na Praia, com a ideia, partilhada com Alfredo Rodrigues, de dotar o mercado de Recetivo em Cabo Verde de uma DMO[2] estruturada, cuja gestão entregámos nada menos que à ex-Diretora Geral de Turismo, Filomena Ribeiro, para que fôssemos capazes de moldar em oferta turística transacionável o potencial específico de cada ilha, e de a propormos em seguida nas feiras de Turismo, sobretudo europeias, em formato adequado ao tempo e às peculiaridades de cada mercado de origem dos turistas, num tempo em que no Arquipélago o conceito de agência de viagens se limitava a pouco mais que a venda de bilhetes de avião, manifestaram-se de forma crua as carências de meios de promoção, desde os mais simples, como mapas, listagens informativas organizadas e editadas ou artefactos de merchandising, a outros mais elaborados como guias turísticos, estatísticas fiáveis, circuitos especializados, mapas de bolso, produções audiovisuais, revistas de Turismo, roteiros turísticos (com a honrosa exceção de Santo Antão, que, graças a uma cooperação luxemburguesa dispunha já de um guia evoluído propondo mapas, roteiros e trilhas), para não falar de informação e muito menos de vendas online, uma tecnologia na altura ainda em gestação… Lembro-me da primeira ITB[3] em que Cabo Verde participou, salvo erro em 1996, vigorava ainda o INATUR[4] (precursor do Promex, antes da Cabo Verde Investimentos – CI - e finalmente do Instituto de Turismo), com um stand em que não havia qualquer material de promoção institucional, exibindo prateleiras completamente despidas, não só porque não fora enviado em tempo útil, mas porque simplesmente quase nada havia ainda para expor; uma situação que felizmente foi sendo superada nas feiras que se seguiram, com a gestão competente e empenhada de Aida Duarte nos anos subsequentes.

 
    Aida Duarte                            José Armando Duarte

Em 2001, a pedido de José Duarte, que eu conhecera do INATUR e passara a tutelar o Ministério do Turismo, elaborei um Relatório[5] no qual resumi, em 13 páginas, o acervo do que eram as minhas preocupações, como empresário empenhado no ramo do Turismo, mas também no país como um todo, desde a formação profissional dos quadros ao desenvolvimento de uma imagem institucional para promover a oferta turística; à montagem de um banco de dados, não só relativos a oferta turística, mas que abrangessem a Economia, a Administração Pública, a Cultura; ao robustecimento dos media de informação e promoção turística, no país e na diáspora; ao desenvolvimento do Turismo Interno; à organização de workshops, seminários, visitas de estudo, embaixadas culturais e desportivas; à diversificação da oferta turística e cultural; à dinamização do artesanato; à organização de congressos e incentivos; a soluções de transporte aéreo de resposta à procura crescente; ao estímulo do associativismo; ao fomento de Sociedades de Desenvolvimento regionais… Ideias e recomendações que procurei corporizar num vasto conjunto de propostas concretas, que por sua vez desembocaram num documento de cariz estratégico que lhe entreguei em 9 de setembro de 2002[6], e que traçava uma perspetiva de internacionalização da Economia e do Turismo de Cabo Verde, em 6 pontos: (i)Conceitos essenciais de Turismo; (ii)Papel do Estado no Turismo Interior; (iii)Situação de Cabo Verde na Economia Global; (iv); Que interfaces entre o Investimento Externo e o Investimento Interno Sustentavel? (v)Visão Estratégica do Turismo em Cabo Verde para o Século XXI; (vi)Cabo Verde e a CPLP.

Foi desse élan que nasceu a Contacto Virtual que, a partir de Lisboa, produziu para agências, hotéis e diversas outras empresas e Organizações de Cabo Verde, durante quase duas décadas, diversos meios de informação e promoção turística, como flyers, dípticos, standups, logótipos, estacionários, manuais de normas gráficas, mapas das ilhas, plantas das cidades, brochuras, sites web, vídeos promocionais, diretórios, ementas, dossiês informativos, cartazes, painéis decorativos, reclamos luminosos, e mesmo stands completos de exposição em feiras… A especialização da Contacto Virtual em Cabo Verde, particularmente ligada à indústria do Turismo foi tal, que viemos a instalar, em agosto de 2010, na Praia, uma sucursal, a Cimboa, em sociedade entre a Contacto Virtual e Carlos Pedro Simões de Santa Rita Vieira, um jovem empresário de ilustre cepa cabo-verdiana, estabelecido em Portugal, no Brasil e nos Emirados Árabes  no ramo da Imagem de Comunicação; inicialmente sedeámos a empresa no 2º andar do nº 17 da Avenida Andrade Corvo (Casa Moeda), e depois transferimo-la para o 1º andar do nº 53 da Avenida Amílcar Cabral. O objetivo pretendido era o de internalizar no país a atividade de design de comunicação já em curso intenso pela Contacto Virtual, um gesto bem intencionado, mas que veio lamentavelmente a ser abortado por não se terem conseguido quadros locais compatíveis com os objetivos programados.

 

 

A primeira brochura publicada em várias línguas com o objetivo específico de promover a oferta turística das diversas ilhas de Cabo Verde nas feiras internacionais de Turismo terá sido a que foi elaborada e publicada pela Morabitur em 1997, e foi a primeira de uma série de frequência entre bienal e trienal, num crescendo de conteúdos que se foi ampliando de 72 a 176 páginas, com informação suficientemente abrangente e robusta do país Cabo Verde[7], nas línguas mais comuns na Europa[8], que na altura representava quase a totalidade dos fluxos de turistas chegados a Cabo Verde, e serviu de prato forte de promoção turística nas feiras e em outros eventos no estrangeiro. Em uma brochura cuidadosamente trabalhada ao pormenor, profusamente ilustrada, Cabo Verde passava a dispor de uma ferramenta informativa institucional, que em 2005 passou a ser validada e assumida pela UNOTUR (União dos Operadores Turísticos de Cabo Verde), e em 2009 foi cooptada pelo Ministério de tutela do Turismo, sendo financiada antes de mais com publicidade de empresas do trade do Turismo[9], concebida e produzida pela Contacto Virtual, contendo informação histórica, estatística, administrativa, sanitária, comercial e financeira genérica de Cabo Verde, um mapa de cada uma das ilhas e respetiva descrição geográfica, de pontos de interesse, alojamentos, restauração, meios de transporte, serviços públicos, agências de viagens, festas, romarias e outras diversões, praias, etc., e destacando ainda um conjunto de atrativos em várias ilhas, com uma pequena resenha explicativa de cada um deles.

Fora também nesta onda de dinâmica informativa gerada pelo eixo Soltrópico/Morabitur/Unotur/Promex/MECC, que foi atraindo as luzes da ribalta internacional sobre Cabo Verde, que embarcaram alguns órgãos de comunicação social, caso do Turisver, uma publicação semanal dedicada ao Turismo em Portugal editada por José Luís Elias, que produziu, em 2003, uma edição cabo-verdiana em que publicaram, em artigos e entrevistas, personalidades como Jorge Santos, na altura Presidente da Câmara Municipal de Ponta do Sol; Avelino Bonifácio, Ministro titular do Turismo; Lylian Oliveira, Presidente da Unotur; João Rego, Diretor do Hotel Foya Branca; ou João Chantre Oliveira, empresário hoteleiro, entre outros. E foi também o caso do OJE, um jornal diário de distribuição gratuita na Grande Lisboa, editado por Guilherme Borba, que manteve uma edição cabo-verdiana periódica durante cerca de um ano, em 2007/2008.

 
        Jorge Santos                       Avelino Bonifácio                   Lylian Oliveira                               João Rego                   João Chantre Oliveira

Quem se dedica a tarefas editoriais sabe bem de quantas camadas se constrói uma publicação estruturada, desde a conceção arquitetónica ao design, à recolha de dados, à elaboração de textos, à revisão e validação de conteúdos, e depois a toda a trama ligada à publicação e à distribuição, já não nos atardando sequer a elucubrar sobre o nó górdio do financiamento, que apela não raras vezes a uma espada destemida que o desate, correndo por acréscimo o risco de abrir cicatrizes difíceis de sanar…

Como casa que se vai erguendo viga a viga, tijolo a tijolo, a quinta edição da brochura CABO VERDE, publicada em 2009, sempre em 6 línguas, duas a duas, em 178 páginas de alta qualidade gráfica, atingiu uma completude invejável, não lhe faltando dependências, corredores, anexos, varandas, mobílias e até adornos capazes de esclarecer quem queira conhecer o país em qualquer das suas ilhas, nas várias facetas em que se queiram analisar. Já se tinha agregado a experiência de uma década de participação em feiras, já se tinham organizado numerosas reuniões de estudo, de âmbito regional, nacional e mesmo internacional, refletindo sobre o potencial turístico de Cabo Verde, e tinha mesmo sido publicada uma obra de grande porte, em três grossos volumes, sobre o passado histórico do país[10], embora ainda circunscrito aos seus primeiros séculos. O que não era de somenos importância, se se compreender o peso que teve esse período, até ao século XVIII, na formatação da nação cabo-verdiana, o mesmo é dizer, na criação e desenvolvimento do seu modelo cultural, base profunda e definidora do que é o cerne da construção e do desenho do produto turístico na sua faceta mais nobre, aquela que as pessoas transportam, vivenciam e comunicam, como escrevi na respetiva apresentação:

Conhecer CABO VERDE é, antes de tudo, conhecer o percurso da História do seu povo. Não é um acaso que Cabo Verde se destaque hoje como um verdadeiro case study não só no contexto africano, em que geograficamente se insere, mas sobretudo numa esfera mais vasta, e ainda pouco analisada, de conquistas identitárias. Terra árida, sem riquezas naturais consistentes ou duradouras, cansada de mercadejar com a condição humana, sitiada, abandonada depois, e finalmente colonizada, a sociedade cabo-verdiana enfrentou desde há séculos um desafio empolgante: ultrapassar, superando as suas próprias tensões e sem excluir nenhuma das suas componentes de origem, as densas barreiras da perversidade do mercantilismo humano, as da comunicação, da convivência, da raça, de preconceitos ideológicos ou religiosos, da servidão, e forjar um modelo novo de ser, de estar e de se relacionar, assente na liberdade a todo o custo e na degustação do sabor da vida, colorida e musical, desfrutada sem preconceitos. É na compreensão desse longo processo de conquista ontológica em que se cultivou mais o ser que o ter, que reside o segredo do encanto secreto que esta nação encerra como um tesouro oculto e manifesta ao visitante na sabedoria do compromisso, na hierarquização pouco usual de valores, na ausência de barreiras de relacionamento, numa palavra, na misteriosa e secreta morabeza, ex-líbris da sua expressão.  O produto turístico de Cabo Verde, mais que os encantos naturais que possui, em terra, e particularmente no mar, ou até que as actividades de lazer, desporto ou cultura, reside acima de tudo nas pessoas e no relacionamento que proporcionam. Por isso a presente brochura, secundada por imagens e sons[11] e apoiada em mapas e roteiros turísticos nas suas ilhas, está estruturada para conduzir quem a consulta à pessoa cabo-verdiana e ao estabelecimento de uma relação. É desta relação que se espera que a indústria do turismo extraia o seu objectivo mais nobre, que é promover o diálogo, a harmonia, a cooperação, o compromisso, o bem-estar e a sustentabilidade de uma qualidade de vida acrescida à qual todos sejam bem-vindos.

Nada melhor que folhear a revista  e visionar o DVD que a acompanha, com mostragem das paisagens e do viver em todas as ilhas, e descobrir, página a página, imagem a imagem, sonoridade a sonoridade, as informações úteis, os mapas e o roteiro turístico de cada ilha, e depois a geografia, a fauna e a flora do país, a sua história, a sus cultura, o seu sistema político e militar, a sua economia, o seu sistema financeiro, a sua evolução e estrutura sociais, e finalmente o que é o produto turístico que Cabo Verde tem para oferecer a quem visita o país, vindo de perto ou de longe.

                                                                

Fátima Fialho

A Ministra de tutela da altura, Fátima Fialho, definia também, apresentando a publicação, o Turismo como um Eixo Estratégico da Economia Cabo-Verdiana:

O turismo é considerado um eixo estratégico para o desenvolvimento da economia de Cabo Verde, pela sua capacidade de gerar emprego, equilibrar as nossas relações económicas com o exterior e impulsionar o desenvolvimento local. Para além da qualificação da oferta turística, o Governo aposta numa estratégia de promoção apelativa de Cabo Verde como destino turístico competitivo e de elevada qualidade. É neste sentido que o Ministério da Economia, Crescimento e Competitividade se engajou neste projeto promocional. A presente brochura oferece ao leitor um apanhado profundo de toda a realidade cabo-verdiana. Retrata, por um lado, a evolução histórica do povoamento das Ilhas, a geografia e endemismo cabo-verdiano, a cultura e o surgimento das diversas modalidades musicais e danças tradicionais, a gastronomia típica e a realidade socioeconómica de Cabo Verde. Por outro lado, a brochura apresenta um leque variado da oferta turística existente nas diversas ilhas de Cabo Verde, destaca os principais pontos a visitar, aconselha itinerários de passeio e fornece informações práticas e úteis do dia-a-dia nas ilhas de Cabo Verde. Os textos apresentados são produto de uma aturada recolha de elementos da história de Cabo Verde, procurando gravar alguns factos da sua cultura e tradições, que poderão orientar os leitores na construção de um turismo fortemente assente na cultura cabo-verdiana. A descrição de certos aspetos em detalhe contribuirá certamente para ajudar na procura de experiências ricas, diversificadas e autênticas, contribuindo, deste modo, para o desenho de um produto cultural diferenciado e único, intimamente ligado à realidade global de Cabo Verde. Com a leitura desta brochura, certamente nascerá a vontade de vir experienciar, pessoalmente, a morabeza do povo cabo-verdiano.

A evolução da UNOTUR para Câmara de Turismo, entretanto operada com brilhantismo sob a batuta do seu Presidente, Gualberto do Rosário Almada, catapultando-a a um estatuto que lhe conferia outro peso no tabuleiro da Economia do país, designadamente abrindo caminho a meios financeiros para além das parcas quotas sociais arrecadadas, fosse acedendo a fundos disponíveis como o Fundo de Sustentabilidade Social para o Turismo (FSST), ou fosse avançado com uma Fundação agregada à Câmara[12], que angariasse junto de Instituições de apoio internacional a Cabo Verde e ao seu Turismo recursos capazes de sustentar planos mais ambiciosos para um setor reconhecidamente estruturante do desenvolvimento económico, cultural e ambiental do país, apresentava-se como uma promessa de um período áureo de transformação das várias iniciativas até então um tanto intermitentes e dispersas num caudal de planeamento e ação mais sustentado e eficaz, tanto mais que o Governo, tutelado por Fátima Fialho, acabava também de apresentar, com a chancela da experiente Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, um plano[13] consistente e trabalhado para o desenvolvimento do Turismo no país, de que emergiu uma task force, orientada por Olavo Correia, a elaborar as guide lines por que deveria orientar-se a indústria turística, no concerto dos diversos clusters[14] em que procurou programar-se a Economia em 2012, e mais tarde, em 2015, a elaboração bastante criteriosa dos tão almejados Inventários de Recursos Turísticos por Autarquia[15], da Direção Geral de Turismo, presidida por Emanuel Almeida.

 
Leonesa Fortes                             Emanuel Almeida

Dir-se-ia que os astros se tinham alinhado para que Cabo Verde saltasse para um patamar dourado da sua construção da Indústria da Paz, por todos reconhecida como pedra basilar da Economia Nacional.

Pela parte que me cabia, recém-jubilado de responsabilidades empresariais privadas, foi essa a perspetiva que me moveu, quando aceitei na Câmara de Turismo assumir o pelouro que me foi proposto, dos “Produtos Turísticos, Marketing e Eventos, e relação com os Associados” no biénio 2013-2014, ciente de que o que me era pedido era que replicasse na Câmara uma ferramenta de definição e promoção da oferta turística de Cabo Verde, atualizada nos conteúdos e na tecnologia, na esteira do esforço de programação que desenvolvera nos 20 anos transatos nas empresas que liderei. E foi isso mesmo que me empenhei em fazer, sem limitações, durante esses 2 anos, em que propus e desenvolvi, com os técnicos da Contacto Virtual e com dois especialistas independentes, Luís Carvalho e Joaquim Cavalleri, peritos em tecnologias de design e construção de sites, nascendo assim o SIP CV (Sistema de Informação Partilhada de Cabo Verde), cujo projeto apresentei ao Presidente, com um caderno de encargos quantificado e cronometrado, que o apreciou e submeteu à aprovação da Direção, ficando a cargo do Diretor Financeiro, Carlos Santos, a gestão financeira envolvida. Após dois anos de trabalho aturado de buscas e redação, e seguindo à risca o Plano de Execução[16] proposto e aprovado, o levantamento de requisitos começou em 18 de fevereiro de 2015, com uma viagem que fiz à Praia com o Luís Carvalho, para confirmação de dados oficiais junto da Administração Pública, com a preciosa ajuda de Carlos Manuel Santos, nessa altura à frente da UCRE (Unidade Central de Reforma do Estado); foi concluída a coleta de todos os conteúdos, a seguir convertidos em bases de dados; a avaliação da versão de teste foi efetuada na data prevista, 15 de maio; foi explanada uma primeira apresentação ao Conselho Diretivo da Câmara; e no dia 20 de junho estávamos no Sal, numa reunião da fina flor do trade do Turismo, a começar pela Ministra, agora Leonesa Fortes, e pelo Presidente da Câmara de Turismo, Gualberto do Rosário, diversos agentes de viagens e hoteleiros, que não pouparam elogios a uma ferramenta profundamente inovadora, moldada num Portal de tecnologia avançada, interativo, conectivo, georreferenciado, responsivo, de atualização focalizada, dinâmico, como de forma cristalina o Luís Carvalho esclareceu na respetiva apresentação[17]

Construída, apresentada e apreciada que estava ferramenta tão necessária e ansiada por quem quer que tivesse responsabilidades na cadeia de valor do Turismo de Cabo Verde, seria de esperar, depois de tantas tentativas goradas de construir um Portal de promoção do país que servisse a todos, que desde logo a Câmara de Turismo, que encomendara e garantira o financiamento do trabalho, mas igualmente a CI (Cabo Verde Investimentos, que sucedera ao Inatur e ao Promex, e arcava com a responsabilidade institucional da organização do marketing e dos eventos que o corporizavam, com destaque para a participação nas feiras de turismo, nacionais e internacionais), e ainda a Direção Geral do Turismo, no final de contas o braço operacional do Ministério de tutela, se empenhassem em cooptar tão importante instrumento de trabalho e dele tirar o maior rendimento possível na articulação dos papéis que cada um era chamado a desempenhar nas saídas de sucesso que pareciam estar garantidas à progressão do Turismo em Cabo Verde. Era mesmo de suma importância que se agilizasse uma articulação eficiente entre os vários departamentos, públicos e privados, criados para fomentarem e operacionalizarem a indústria do Turismo, e fizessem do SIP o alicerce comum e consensual de suporte à edificação dos múltiplos corredores em que se processa e desenvolve a cadeia de valor do Turismo. O Presidente da Câmara de Turismo desenvolveu múltiplas diligências nesse sentido, estendendo-as mesmo a alguns Ministérios, como o da Cultura e o da Educação e do Ensino Superior, sublinhando a importância dada à História do país no SIP, como veio estruturante da construção do produto turístico, ou ainda ao Ministério das Comunidades, que tinha no SIP uma excelente plataforma para construir pontes com a diáspora.

Mas a realidade teima com frequência em contrariar as expectativas, e quando chegou finalmente o dinheiro requisitado ao FSST para pagamento parcial do SIP, alguém na orgânica da CTCV achou por bem destiná-lo a outro fim, creio que à organização de uma competição de soccer(!) em Santa Maria… O preço, já de si simbólico, faturado pela complexa construção do SIP ficou por saldar, ficando-se o plano de pagamentos pela liquidação da primeira das quatro parcelas contratualizadas, sobrando assim para a Contacto Virtual o ónus não só dos custos próprios, como ainda dos honorários dos técnicos que contratou par o estruturar, que saldou na íntegra, por sua conta e risco, como era seu compromisso e ponto de honra… Percebeu-se que havia outros interesses em jogo a cruzarem-se, comprometendo o golpe de asa clarividente que tivera o Presidente da CTCV ao adjudicar o Portal a quem sabia ser capaz de levar mais longe e com maior qualidade aquele que era o instrumento mais premente na arquitetura de promoção turística do país. Na verdade, diversas empresas pululavam na altura à volta dos financiamentos públicos, incluindo uma lançada por um ex-ministro, que logrou impor à Direção da CTCV a apreciação de um projeto concorrente elaborado sobre o joelho à 25ª hora…

Os anos sobrepuseram-se, e nunca mais houve um sobressalto, de alguém ou de alguma das entidades implicadas naquele dossiê, que desse sinais de pretender regularizar ou ao menos analisar esta situação, pese embora a Contacto Virtual ter suportado até agora a manutenção do portal em causa, e de o Joaquim Cavalleri, desde a Serra Amarela, no Gerês, onde se estabeleceu entretanto, talvez porque lhe vibre alguma corda das raízes que tem no Mindelo, fazer questão de o manter tecnicamente vivo, ao ponto de o ter atualizado com tecnologias inovadoras já em 2025, ao mesmo tempo que eu e a Guiomar, já com a Contacto Virtual inativa, o vamos alimentando e acarinhando, e vamos recebendo, como prémio de consolação, o reporte de que são aos milhares as consultas mensais ao caboverde-info.com, o site em que mantemos o SIP ativo, permanecendo, ao que parece, uma das fontes mais procuradas de informação sobre Cabo Verde… Sabe-se lá se um dia alguém no país o quererá ainda adotar e dele colher os frutos que produz…



[1] Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo

[2] Destination Management Organization

[3] Internationale Tourismus-Börse Berlin

[4] Insttituto Nacional de Turismo

[5] https://caboverde-info.com/Construindo/sip/plano-jduarte-ii

[6] https://caboverde-info.com/Construindo/sip/to-picos-internac.-economia-e-turismo-jd

[7] As 3 primeiras – 1997, 1999 e 2002 – foram da inteira responsabilidade da Morabitur, sendo a edição de 2005 assumida pela UNOTUR e ade 2008 pelo Ministério de tutela do Turismo, o MECC (Ministério da Economia, Crescimento e Competitividade).

[8] Português, inglês, francês, italiano, espanhol e alemão.

[9] A edição de 2008 foi comparticipada pelo MECC em 30.000€, e pela ASA com igual montante, para um custo global de mais de 120.000€, tendo a Soltrópico, a Morabitur e a Contacto Virtual coberto a diferença. Tratou-se de uma edição de 30.000 exemplares, distribuídos por 3 pares de línguas: português/inglês, francês/italiano e espanhol/alemão. Durante mais de 5 anos foi esta a brochura-base de promoção de Cabo Verde nas feiras internacionais de Turismo e mesmo em outros eventos de natureza económica, cultural e política.

[10] História Geral de Cabo Verde, 1991, 1995 e 2002, publicação conjunta do Instituto de Investigação Científica Tropical de Lisboa e do Instituto de Investigação e do Património Culturais da Praia.

[11] A Edição de “Cabo Verde 2009” vinha acompanhada de um DVD com filmagens-reportagem ilustrativas de todas as ilhas habitadas de Cabo Verde.

[12] GRA tinha já delineada essa Fundação, com nome aprovado (Futuris) e Estatutos elaborados. Porém, tal como tantas vezes acontece, as boas ideias são frequentemente as que mais obstáculos encontram pela frente para serem operacionalizadas…

[13] Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Turismo em Cabo Verde, 2010/13 (https://caboverde-info.com/Construindo/planeamento-turismo)

[14] https://caboverde-info.com/Construindo/clusters/turismo

[15] https://caboverde-info.com/Economia/Eixos-da-Economia/TURISMO/Produto-Turistico-ver-Inventarios

[16] https://caboverde-info.com/Construindo/sip/plano-execucao-sip-ctcv

[17] Folheto de apresentação do SIP, em junho de 2015: https://caboverde-info.com/Construindo/sip/triptico-cvinfo

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