17 - Sanai, o Príncipe da Serra - conto


A intrincada malha de rios e canais que fazem do bojo mais ocidental do continente africano um enigma geográfico prenhe de mistérios, adensados pelo embalo hidráulico das marés, entre caprichosas crescentes e venidas[1] que geram perigosos macaréus[2] roncantes, do Sanagá ao Salum, ao Gâmbia, ao Santa Ana, ao Rio das Ostras, ao Santa Clara, ao Casamansa, ao São Domingos (Cacheu), ao Mansoa, ao Geba, ao Rio Grande, ao Tombali, ao Cumbijã, ao Besegue, ao Nuno, ao das Pedras, ao Pougamo, ao Pichel, ao Palmar, ao Pogola, ao Tambacira, ao dos Cárceres, ao Moa, ao Mano, ao Macamala, ao Mitombe… mantivera este sacrário natural quase impoluto ao longo dos séculos, enquanto que a extensa bacia do Níger, a leste, fervilhava de povo e de atividade, estimulada  pela afluência de abexins[3], bixirins[4] e alarves[5] que chegavam do Norte e de Leste conduzindo, incansáveis, longas cáfilas de camelos pelas rotas do Saará e da Abissínia, em busca de ouro e escravos, ao mesmo tempo que industriavam prosélitos na doutrina de Maomé.

Ilustração do Mansa Musa I, Imperador do Mali (início do século XIV)

A partir do século XII foi-se intensificando a pressão expansionista do grande Império Mali, que se foi desdobrando em direção ao Atlântico em múltiplos reinos, uns soberanos, outros suseranos, outros ainda suseranos de suseranos, em cascata, numa região que os geógrafos europeus da época denominavam vagamente “Sudão Ocidental”. Daí foi resultando a densificação do povoamento para oeste do semi-círculo de pequenas montanhas a sul do rio Sanagá, desde a serra Mandinga à do Futa-Jalo e à Leoa, obedecendo os régulos mais pequenos, no litoral, aos maiores e mais antigos, para o interior, numa hierarquização complexa e instável, mas no fim de contas algo funcional.

Em meados do século XV esta região litoral estava relativamente estabilizada, e formava um xadrez de pequenos reinos, em geral minúsculos, que funcionava como uma espécie de Estado Federal informal, denominado N’Gabu[6], cujos reis obedeciam e pagavam impostos ao Grande Imperador malinke[7], o Madimansa, longínquo, mas que respeitavam e veneravam mesmo quando o não conheciam.

Os povos do N’Gabu eram, pois, já por essa altura, maioritariamente originados pela fixação aditiva de sucessivos invasores que foram chegando do interior em ondas de conquista. Os vencedores iam integrando os vencidos que sobreviviam, os quais escravizavam, mas que na geração seguinte eram de novo assimilados, pelo que as múltiplas etnias, desde fulas (futa-fulas, fulas forros ou fulas “pretos”) a mandingas, jalofos, tucolores, cobianas, felupes, balantas, brames (buramos, papéis), manjacos,  bijagós, banhuns, jabundos, cassangas, saracolés, barbacins, jaloncas, banbarãs, torancas, boencas, pajadincas, beafadas[8], nalus, sossos, landumãs, tandas e outras, eram mais a resultante de uma longa panmixia do que grupos étnicos estanques, e muito menos Estados com fronteiras e leis claras e definidas.

 

A Razia

É na dinâmica aparentemente caótica deste cenário que em meados dos anos cinquenta de mil e quinhentos a nação dos Sapes, que se instalara havia quatro décadas na Serra Leoa, entre o Rio Nuno e o Rio Mitomba, vinda da região do Futa-Jalo, a nordeste, foi invadida pelo sul, através da Malagueta, por um exército de Sumbas, assim conhecidos porque eram antropófagos e muito aguerridos e cruéis, e por isso raramente encontravam resistência pela frente, preferindo os invadidos fugir a serem caçados, mortos e comidos. Mas Abu, o rei bolão[9], ciente disso, reuniu o seu pequeno exército e convenceu os seus homens de quanto era melhor vencerem este inimigo do que serem vencidos por ele e na melhor das hipóteses tornarem-se escravos, se escapassem a serem comidos. E foi sob esta pressão que os Bolões, bem atabancados perto da Angra de Bagara Bomba, mas habitualmente pacíficos, derrotaram o poderoso invasor e mataram o capitão, filho da temível comandante Macarico, mulher de armas malinke. Ainda assim, o rei e a família foram aconselhados pelos seus a fugir, aproveitando a surpresa dos invasores, entretanto entregues às cerimónias fúnebres do chefe caído, pois sabiam que estas invasões cíclicas dos Sumbas vinham de longe e eram alimentadas no percurso pelos próprios vencidos, que, se escapavam à morte, eram obrigados a engrossar o respetivo exército, que voltava sempre a atacar, o que faria com mais ardor e raiva depois da derrota que lhe fora infligida.

 

Rios da Guiné

Refúgio na Ribeira Grande

Em fuga com toda a família, Abu dirigiu-se para o Rio dos Cárceres[10] e entregou-se com os seus em um dos barcos que sempre rondavam pelos rios e pelas costas em busca de comprar escravos. Era um navio armado por Vizinhos da Ribeira Grande, e foi a esta cidade das Ilhas do Cabo Verde que toda a família real e outros refugiados aportaram na semana seguinte, resignados a uma mudança radical das suas vidas, em alternativa à morte certa que lhes estava destinada por tão terríveis carniceiros, se tivessem permanecido nas terras da sua amada Serra. Uma opção extrema que veio porém a revelar-se tanto mais acertada, quanto se soube depois que Mabete, a irmã do capitão sumba morto, após o funeral dele e da mãe, que falecera de desgosto, valendo-se dos ferreiros, que tinham as oficinas no exterior da tabanca, os obrigou a manter as forjas ao rubro, para que os soldados nelas encandescessem as azagaias, as quais, projetadas para o interior, incendiaram o colmo da cobertura de todas as casas, obrigando os que tinham ficado a morrer ou a entregarem-se.

 Mas as surpresas iam suceder-se, algumas delas bem inesperadas. A primeira foi a de terem o rei e sua família sido comprados à chegada por um fazendeiro mestiço, Aires de Sequeira, filho de mãe burama, a quem o rei agora escravo pôde explicar as circunstâncias terríveis em que ele e os do seu povo haviam sido coagidos a fugir e a entregarem-se à servidão. De seguida, a de ouvir da boca do novo senhor que, na esteira da tradição vigente no N’Gabu, que ele bem conhecia, pois a sua mãe de lá provinha, ele e a família manteriam a sua condição de nobreza, mesmo prestando-lhe serviço. Mas o que mais lhe acalentou o coração foi a promessa de que os seus filhos menores seriam educados nos preceitos cristãos e aprenderiam a ler, a escrever e a contar juntamente com as crianças que na cidade frequentavam a Escola ainda informal dos Padres, abrindo-se-lhes assim uma vereda de plena liberdade e mesmo de enriquecimento futuro.

Abu permaneceu, com a esposa, ao serviço de Aires de Sequeira, vivendo na sua casa, mesmo quando o novo senhor formalizou, anos mais tarde, a sua alforria, por não querer afastar-se dos filhos menores que prosseguiam os seus estudos, ministrados pelos padres franciscanos, carmelitas e jesuítas que lecionavam na Cidade.

 

O aluno distinto

Sanai, assim se chamava o farã[11] de Abu, dos que com ele vieram da Serra, intuiu, apesar da tenra idade, a oportunidade que lhe foi dada, aos seis anos, mantendo-se junto dos pais em harmonia, num ambiente urbano estruturado, pois havia quase vinte anos que a Ribeira Grande fora elevada a Cidade, com comércio, agricultura, pescas, artes e ofícios, exército, justiça, saúde e ensino organizados, Câmara Municipal com a respetiva Vereação e Diocese com o respetivo Cabido, tudo ao modo da metrópole portuguesa, e dedicou-se de alma e coração aos estudos, ao ponto de se ter tornado, ao atingir os 17 anos, um douto preceptor, com bom domínio da matemática, da geografia, da oratória, da música, da literatura e até do latim. Os pais, que já na Serra Leoa utilizavam o português rudimentar, língua comercial nos rios, encantavam-se a ouvi-lo à noite citar Bernardim Ribeiro, na sua literatura galego-portuguesa ainda titubeante mas de cândida  beleza:

“Menina e moça me levaram de casa de minha mãe para muito longe. Que causa fosse então a daquela minha levada, era ainda pequena, não a soube. Agora não lhe ponho outra, senão que parece que já então havia de ser o que depois foi. Vivi ali tanto tempo quanto foi necessário para não poder viver em outra parte. Muito contente fui em aquela terra, mas, coitada de mim, que em breve espaço se mudou tudo aquilo que em longo tempo se buscou e para longo tempo se buscava. Grande desaventura foi a que me fez ser triste ou, per aventura, a que me fez ser leda. Depois que eu vi tantas cousas trocadas por outras, e o prazer feito mágoa maior, a tanta tristeza cheguei que mais me pesava do bem que tive, que do mal que tinha”.

Era uma forma de Ventura, de seu novo nome de batizado, aliás Ventura de Sequeira, que seu segundo pai lhe legara, consolar em modo feminino a sua mãe Iamá das saudades que, mau grado a memória da horrível guerra e da deportação que viveram, mantinha bem presentes; e também, jovem saindo da adolescência, expressar as primeiras fragrâncias de uma paixão nascente, idealizando coitas de um amor cavaleiro, em palavras que, não o sendo, as fazia suas, pois pareciam retratar por um lado reminiscências da sua infância junto ao rio dos Cárceres, à sombra de outras árvores, onde esvoaçavam outras aves e pascentava outro gado, pastoreado por outros ‘bernardins’, mas por outro lado se ajustavam aos sentimentos que agora nutria por uma amada que ainda desconhecia mas que os amores platónicos de Bernardim, correspondidos à distância por Arima, a angélica fada do conto, tão bem prefiguravam…

Ou lia-lhes o poema em verso já maduro, saído de outras coitas, as de Camões, intitulado “Endechas a Bárbara Escrava”, contraídas na sua juventude andante por novos continentes inexplorados, de gente até aí dele desconhecida ou tão pouco imaginada, por uma mulher de quem todavia se apaixonara, porque era ela diferentemente igual e inteira. Ventura de Sequeira dedicava-o de cada vez ao pai e à mãe, com um sentimento misto de amor sentido e correspondido, repartido entre memórias de infância e a nova ilha a que o destino caprichosamente os trouxera:

“Aquela cativa

Que me tem cativo,

Porque nela vivo

Já não quer que viva.


Eu nunca vi rosa

Em suaves molhos,

Que pera meus olhos

Fosse mais fermosa”.

              

Bernardim Ribeiro     e                          Luís Vaz de Camões (retratos da época)

O paradoxo

Vindo de um mundo em que a miscigenação era já regra, no qual, desde há muito, gente tão diferente como fulas, barbacins, beafares ou sapes se haviam cruzado e conviviam sem melindre, pese embora a praga do vício de se assaltarem e se guerrearem mutuamente, para Ventura aqueles anos de frequência de uma escola com colegas de todos os tons de pele, filhos tanto de brancos como de mulatos, como de negros, uns vizinhos, outros forros, outros escravos, ao mesmo tempo que os padres os doutrinavam com particular esmero, em paralelo com os conhecimentos académicos, sobre os grandes preceitos cristãos e filosóficos da primazia da alma sobre o corpo, do espírito sobre a matéria, da fé em um Deus compassivo e misericordioso, da esperança, da caridade, da igualdade, da solidariedade, pareceram-lhe de uma naturalidade meridiana, e ao mesmo tempo traduziam-se para ele em uma ascensão a um patamar um tanto surreal, quase mítico, de coexistência com a verdade e a justiça, que todavia não deixava de o confrontar com a dura realidade que não podia ignorar, pois lhe entrava pelos sentidos e lhe beliscava a sensibilidade, uma realidade que estava longe de refletir tão piedosos ensinamentos e propósitos. Sabia, por um lado, que as crianças e jovens da sua igualha que não tiveram a fortuna de estudar como ele, e eram na Ribeira Grande a maioria, desde logo as da aldeia dos Sapes, em que vieram morar as famílias suas companheiras de fuga, mais para dentro, na zona da Horta Velha, e muito mais as das ribeiras e montanhas do interior de Santiago, se confrontavam com a dura realidade do trabalho forçado, quando não da fuga ou da fome, se a monção não passasse a jeito sobre as ilhas, alternando com os secos alísios e o importuno harmatão para fazer vingar as sementeiras, ou, pior ainda, da deportação para as índias ocidentais. E perturbavam-no ainda mais os ecos que chegavam da Serra e dos Rios em geral, com os barcos que regularmente faziam o trato[12] da Guiné, dando conta de desavenças, invasões, razias, ritos macabros que continuavam a inibir o acesso às belas figurações espirituais, sociais e económicas que em teoria eram veiculadas pelos padres e pareciam poder ser aplicadas numa estrutura sociopolítica como a que apesar de tudo lhe era dado testemunhar na Ribeira Grande.

 

Uma cidade pujante

Uma Ribeira Grande que vivia, no terceiro quartel do século XVI, o auge do seu fulgor económico, com uma plêiade de gente de negócios das mais diversas origens, portugueses, venezianos, espanhóis, vizinhos forros, pretos, mestiços e brancos, que armavam navios para o trato da Guiné, importavam e exportavam para as Índias Ocidentais e para a Europa, enquanto os terratenentes de morgadios e capelas garantiam com trabalho local próprio mas sobretudo escravo, nas diversas ribeiras férteis das ilhas de Santiago e nas encostas do Fogo, a produção de víveres para as populações e para as guarnições dos navios, bem como de algodão, panos, cavalos e outras mercadorias para o trato. Uma Cidade que atingiu por esse tempo uma população de mais de seis mil habitantes, a maioria escravos, pertencentes a mais de quinhentos “vizinhos”, e em que as ruas do Bairro de S. Pedro ostentavam muitas dezenas de casas de cantaria, bem alinhadas acima da margem direita da ribeira, onde vários edifícios públicos e religiosos ocupavam posições privilegiadas, como a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, na rua da Carreira, a de Nossa Senhora da Conceição, antes chamada do Espírito Santo, no topo do Beco da Majaja, perto da nascente de água límpida de que se abasteciam os navios e a população, ou, na margem esquerda, a sede da Câmara na rua do Calhau, o Pelourinho na Praça, ou ainda os três baluartes litorais, o da Vigia a leste, o da Ribeira ao centro, e o de São Braz a oeste. E, com a chegada do bispo Frei Francisco da Cruz em 1558, arrancara também a construção da Igreja da Misericórdia, do Hospital e do Paço Episcopal, e foi mesmo lançada a primeira pedra para a edificação da Sé Catedral, impedida no entanto de avançar pelos próprios clérigos do Cabido, por considerarem o local escolhido, a leste, no futuro Bairro de São Sebastião, demasiado afastado, e que por isso teve de esperar mais de um século para ser concluída…

 

Ribeira Grande no final do século XVII - Bairro de S. Sebastião

Casamento

Ventura de Sequeira viveu intensamente este período de ouro da grande Cidade da Ribeira Grande, e foi um dos vizinhos mais reputados na época, estimado por todos, inclusive pelos bispos e capitães, que lhe confiaram missões diversas na administração pública e como professor, em Santiago e na Guiné.

Enamorou-se de Aja, cujo nome cristão era Raquel, uma vizinha da casa de Aires, da sua idade, na rua da Carreira, terceira filha de uma viúva de um comerciante abastado que viera de Nagar Aveli, na Índia, Samuel Coutinho, mas era judeu cristão-novo, emigrado de Castelo de Vide no início do século, e viera estabelecer-se na Ribeira Grande na década de 30, não tendo regressado, anos atrás, de uma viagem de negócios que fizera ao Recife, ao que constou, vítima de um assalto no Sertão brasileiro. Casou-os em 1573 o Bispo Bartolomeu Leitão, e foram morar na rua Direita, perto do Bairro dos Sapes. Haveriam de ter seis filhos, quatro meninas e dois rapazes, formando uma família exemplar e unida, mesmo quando Ventura veio a mudar-se para o Continente.

 Na Ilha dos Amores

Em abril de 1577 Ventura de Sequeira recebeu um convite surpreendente vindo nada menos que de El-Rei D. Sebastião. O jovem monarca ouvira falar da história atribulada do rei-escravo Abu e da sua família, e Aires de Sequeira fizera-lhe chegar subidos elogios do menino que adotara e se tornara entretanto um douto professor das crianças e dos futuros padres da Ribeira Grande, e do desejo que ele lhe manifestava de ir conhecer o mundo português do Oriente. Foi Manuel de Medeiros, comandante da Nau São Pedro, uma das quatro que acabavam de chegar ao porto para fazerem aguada, com destino a Cochim e a Malaca, que entregou a Aires o convite, firmado pelo rei. Ventura ficou exultante e não se fez rogado. Poder reviver o que fora a grande aventura de Vasco da Gama de há quase um século era o mesmo que satisfazer o mais excitante dos seus anseios.

Vasco da Gama

Embarcou com uma guarnição de escravos forros que se haviam voluntariado para as viagens ao Oriente, em troco da liberdade, como era costumeiro. Até Moçambique tudo correu como previsto, mas tiveram um contratempo na rota para Malaca, para onde se destinava a viagem, e a nau em que seguia perdeu-se nos baixios de Peros Banhos, no Arquipélago das Chagas, em pleno meio do Índico, um grupo de mais de 60 ilhas agrupadas em sete atóis que Pedro de Mascarenhas cruzara na sua viagem de 1532, desertas, embora já conhecidas dos maldivos. Mas ao invés da contrariedade manifestada pela restante tripulação com o incidente, Ventura não conseguiu disfarçar o entusiasmo com a oportunidade que a sorte lhe reservara em poder desembarcar naquele atol paradisíaco e nadar naquelas águas límpidas e nacaradas que, ao que parece, haviam inspirado Camões para descrever, nos Cantos nono e décimo dos Lusíadas, a mítica Ilha dos Amores. Acabaram por encurtar a viagem e seguiram para Cochim, passando ao largo de Ceilão, a Taprobana que o mesmo Luís Vaz de Camões fixara, a par do Adamastor do Cabo das Tormentas, convertido em Cabo da Boa Esperança, como um dos mitos europeus derrubados pelas caravelas e naus de Portugal. De lá regressaram sem outros incidentes, com a habitual carga de especiarias da Índia.

 

Partida de uma Armada para a Índia

Declínio da Ribeira Grande

Mas os tempos áureos da Ribeira Grande passaram a conhecer diversos contratempos a partir de janeiro de 1583, com o saque das tropas de Emanuel Serradas, que em nome do Prior do Crato se revoltava contra a geminação das coroas portuguesa e espanhola, assumida por Filipe I, Segundo de Espanha, e, vindo da Ilha Terceira, nos Açores, a mando do mesmo Prior do Crato, buscava apoio em Cabo Verde, depois de já ter assaltado e saqueado a Feitoria de Arguim. Como não o obtivesse em Santiago, as duas centenas de soldados franceses e portugueses que integravam a sua armada roubaram tudo o que havia na Cidade, em particular nas igrejas e edifícios públicos, incluindo canhões que guarneciam os baluartes, e o bispo, na altura Bartolomeu Leitão, com quem Ventura trabalhava no ensino das crianças, teve de recorrer a uma astúcia para escapar à fúria de Serradas. Pediu-lhe que o deixasse viajar para o interior da ilha, alegadamente para buscar o apoio que o Comandante não lograra obter na Cidade. Mas o bispo só voltou à Ribeira Grande quando Serradas desistiu e seguiu para a Ilha do Fogo, em busca de melhor apoio, mas onde acabaria de resto por ser igualmente ludibriado nos seus propósitos anti-filipinos.

Apesar dos esforços de Filipe II para fortalecer as defesas, mandando construir a Fortaleza com o seu nome, que seria concluída em 1593, ao mesmo tempo que criava um sistema de prevenção e alerta noturnas por semáforos com tochas nos montes mais elevados próximos da costa, entre a Praia e o Monte Facho, a nordeste da Cidade, corsários da França, da Inglaterra e mesmo da Holanda, países que hostilizavam a Coroa Espanhola, intensificaram os ataques à Ribeira Grande, ao mesmo tempo que neutralizavam em grande parte o trato dos Vizinhos de Cabo Verde nos Rios da Guiné.

 Regresso ao Continente

Viviam-se tempos difíceis e desencorajantes para todos os moradores da Ribeira Grande no início dos anos noventa de quinhentos, e Ventura, que por diversas vezes viajara nos navios que faziam a naveta para o trato dos Rios, desde o Senegal a Angra de Bezeguiche, Ale, Joala, rio dos Barbacins, rio Gâmbia, com todos os seus braços e estreitos, Casamansa e São Domingos, rio Grande, Bijagós, rio Nuno e toda uma série de pequenos locais entre este último e a Serra Leoa, de onde era natural, e conhecia como a palma da mão os portos, os povoados e as feiras em que se trocavam panos, cavalos, algodão, cera, aguardente, açúcar, uvas, figos, melões e alguns outros produtos por escravos, arroz, marfim, gatos de algália, papagaios, etc., e tinha mesmo por lá permanecido em pequenos períodos como língua[13] de tangomãos[14] e outras vezes mesmo, mais recentemente, em missões de catequese por conta do Bispo Carmelita Pedro Brandão, estava pronto para atender ao apelo do Continente.

Aos 52 anos de idade, tendo já falecido os pais, Ventura de Sequeira decidiu, com a anuência e mesmo encorajamento dos familiares, do Capitão Geral de Cabo Verde Soares de Melo e do Bispo de então, Pedro Brandão, voltar mesmo à Guiné, ainda não à sua Serra Leoa natal, mas à zona do rio de S. Domingos, onde, tal como na Ribeira Grande, uma aldeia de refugiados Sapes se formara, na altura da invasão dos Sumbas, quando ele próprio e a família haviam sido também eles forçados a emigrar para Cabo Verde. Esta aldeia não ficava longe de Bianga, mais tarde conhecida por Cacheu, a aldeia próxima da fortificação que os lançados tangomãos (portugueses e grumetes[15]) haviam construído por sua conta para se protegerem das investidas e abusos de que periodicamente vinham sendo vítimas por parte de alguns locais, que alegadamente se supunha que os protegiam, embora tivessem a garantia de livre trânsito por parte do rei local, de nome Chapala. Os portugueses tinham mesmo logrado obter de outro rei mais a norte, em Casamansa, chamado Masatamba, por intercessão de Francisco de Andrade, Sargento-Mor da Ilha de Santiago, que os lançados que moravam com famílias locais em Buguendo (mais tarde S. Domingos) se estabelecessem também em terrenos mais seguros, próximos da fortificação, beneficiando assim da respetiva custódia, num povoado a que deram o nome de São Filipe.

Estátua de Diogo Gomes, arrumada no Forte de Cacheu

Proclamação

De estirpe real, ainda mais enobrecida e consolidada pelos conhecimentos que adquiriu na Ribeira Grande e firmada pelas importantes funções que exercera em serviço da Administração Pública e da Igreja, Ventura de Sequeira foi proclamado rei da Aldeia dos Sapes, próxima de S. Filipe. Ninguém até ali tinha exercido com maior zelo e eficácia na região do N’Gabu um governo baseado na paz, no cultivo das virtudes e preceitos evangélicos, na busca de conhecimento, na prática da justiça. As crianças eram batizadas e era o próprio rei Ventura que diariamente passava horas sob a sombra do grande poilão[16] da aldeia a ensiná-las a ler e a escrever e a prepará-las para o batismo, introduzindo-as nos mandamentos da lei de Deus e da Igreja, nas virtudes cardeais que deviam cultivar, nos pecados capitais que deviam evitar, nas bem-aventuranças por que deviam ansiar.

Já aos jovens rapazes e raparigas adolescentes, aprendendo embora com igual entusiasmo as letras e as contas, e mesmo a doutrina cristã, fazia-lhes confusão que Ventura de Sequeira desaconselhasse as práticas de iniciação tradicionais, por eles aguardadas com ansiedade, pois viam nelas a passagem para o estatuto tão desejado da maioridade e do respeito dos velhos, também eles pouco permeáveis à ideia de cortar com as tradições ancestrais dos seus pais e dos pais deles, desde tempos esquecidos.

Não tardou por isso que o Príncipe da Serra, que vivera ao longo dos últimos 40 anos sonhando transmitir aos irmãos do seu povo querido as maravilhosas boas novas que o seu espírito sedento e generoso fora acolhendo e interiorizando com respeito, júbilo e gratidão como um dom da sorte e de Deus, percebesse que o caminho por ele percorrido em décadas, sob os auspícios de tutores e docentes benevolentes e prestimosos, não podia ele esperar que fosse palmilhado pelos seus agora súbditos e discípulos, em especial os mais antigos, em meses ou até em anos, num meio mergulhado em superstições e mitos. E mesmo a paciência de que se armou para conseguir os objetivos que se propunha, como rei, professor e missionário, não foi suficiente para evitar que os velhos da aldeia o viessem a colocar perante um dilema para ele insuportável, pois o obrigaria a conciliar os preceitos da doutrina cristã com as terríveis tradições ancestrais que jabacouces[17] e baloubeiras[18] porfiavam em perpetuar, sob ameaças de  sobrevirem a toda a aldeia morfeias, doenças e pragas, veiculadas pelos finados e vaticinadas pelos irãs e chinas[19] da baloba[20]… Não obstante o respeito e até a consideração reverencial com que os velhos da comunidade lhe significavam as suas preocupações e pretensões, Ventura de Sequeira não podia conciliar o inconciliável, e o minúsculo reino, que por um tempo se assemelhou a um alfobre capaz de  operar nas margens do Cacheu um milagre transformador voltou a ficar entregue a superstições fatalistas de sujeição a misteriosas forças aleatórias esotéricas ou escondidas em secretas malquerenças, vinganças ou aproveitamento, dispondo da liberdade, da vida e dos haveres das pessoas, como eram a da água vermelha, a do fogo, a do óleo a ferver, a da galinha degolada ou a do ferro em brasa[21]

 

Almadia bijagó

O rei tangomão

Desgostoso, mas recusando-se a cooperar com tamanho retrocesso, que lhe molestava penosamente a consciência, Ventura de Sequeira preferiu acolher-se por volta de 1598 à Aldeia de São Filipe, onde se dedicou por alguns anos à negociação de contratos comerciais de vizinhos da Ribeira Grande e de empresários do Reino, que regularmente continuavam a armar navios de trato, embora com variações, decorrentes das cada vez mais frequentes intromissões de navios ingleses e franceses no comércio dos Rios.

Aprofundou mais ainda o conhecimento que já tinha da geografia, dos povos, dos usos e costumes de cada povo, e tornou-se exímio conhecedor quer das mercadorias de produção local, quer dos produtos para troca que provinham da Ribeira Grande, da Europa, do Oriente e até das Índias Ocidentais,  e bem assim do curso dos preços praticados, o que fez dele, a par de um tal Ganagoga, o português mais procurado pelos armadores, incluindo estrangeiros, tanto mais que dava provas de qualidades de carácter raras no meio dos negócios, como são a honestidade e a lealdade, garantes preciosos de um elevado grau de confiabilidade para quem, ao longe, precisava de tomar decisões o mais acertadas possível.

Quer os sucessivos Capitães-Mores da Ribeira Grande da primeira década de 600, de Francisco Lobo da Gama a Fernão de Mesquita de Brito ou a Francisco Correia da Silva, quer os prelados da Diocese, do Carmelita Pedro Brandão ao seu sucessor Luís Pereira de Miranda e ao Dominicano Sebastião de Ascensão, quer o próprio rei Filipe II, o Pio, que ele visitou em Lisboa e de quem recebeu honras de monarca, nutriam por Ventura de Sequeira, que consideravam sábio e santo, a maior estima, que só não se traduziu em honrarias mais formais porque ele próprio já as tinha, sem as ostentar, não fosse ele considerado por todos o novo rei dos Sapes.

Entre as muitas viagens de negócios que o rei Ventura fez nos primeiros anos do século XVII, nas caravelas e naus da rota comercial atlântica, uma das suas preferidas era a do norte, em que navegavam de Cacheu à foz, dobravam o Cabo Roxo e demandavam Casamansa, chegando depois à foz do Gâmbia, por cujo curso subiam até Cansalá, a capital do N’Gabu. Era aqui que em geral se detinham por mais tempo, fazendo negócios na grande feira bissemanal, que se realizava às quartas e sextas. A ela acorriam agricultores, criadores de gado, comerciantes, populares e nobres vindos de toda a margem sul do grande rio, e mesmo da margem norte, de alcaides a jagarafes[22] e jagodins[23], e não era raro virem a esta feira os reis barbacins do Ale, a norte do rio, e do Borçalo, a sul, ou, mais raramente, o próprio Gran-Jalofo, Budumel, que descia de Lambaia, em Encalhor[24], com a sua guarda de honra. Com todos Ventura foi criando confiança e fazendo amizade.

 
Caju                                                    Cana-fístula                                                                Sanbiran
 
Anel de alaquecas                                    Tambacumba                                                                Gergelim


Ali se trocavam produtos vindos do interior, do sul, do norte e de fora, desde a Europa à Índia, ao Brasil… Vendiam-se e compravam-se escravos de todo o N’Gabu; cola, anil e ferro da Serra Leoa; sanbiran[25], tambacumba[26], alfarroba, caju, tamarindo, cana-fístula[27], âmbar, escudelas de madeira, dos Barbacins; chavéus[28], cascavéis[29], bezerros, vacas, chacina[30] de cabra, mancarra e sal, dos Bijagós; algodão, panos tecidos, vinho de palma e de milho, gado, ginetas, gatos de algália, arroz, fonda[31], manteiga, inhame, goiabas, mandioca e gergelim, dos Beafares; mantubilha[32] e mompatás[33], dos Buramas; prata, cera, marfim e cola, dos Banhuns, Bagas e Cocolins; laranjas, limões, cidreiras, cana-de-açúcar, madeira, ouro, âmbar e malagueta, dos Sumbas e Sapes. Já os navios chegados de Portugal traziam, oriundos da Índia, da Europa e do Brasil, bretanhas[34], vintaquatreno[35], margaridetas[36], continhas de veneza, papel, coral miúdo[37], búzio miúdo, cavalos, vinhos, contaria da Índia, cano de pata, moedas de dois reais furadas, brandil[38], pano rajado[39], pano vermelho, caldeirões de cobre, bacias de latão, alaquecas[40], estanho, panos de algodão, roupa preta e branca da Índia, panos de rás[41], barretes vermelhos, gabões pretos, chapéus, trombetas bastardas, especiarias orientais, goma arábica, jubões, calçado, camisas…

Do Gâmbia, os navios mercadores subiam ao delta do Salum, depois ao Ale, e chegavam à Angra de Beziguiche[42], uma enseada acolhedora, protegida pela ilha de Palma[43], na qual haveriam os escravos que compraram de ser acantonados e preparados para viajar, para Cabo Verde primeiro, mais tarde para a Europa e para a América, em navios vindos da Ribeira Grande, de Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Holanda. Milhões de escravos passariam por esta ilha ao longo de quatro séculos de história. Quase sempre esta viagem era uma oportunidade para Ventura se encontrar com João Ferreira, um cristão novo há muito radicado na região do Cabo Verde, o tal que era conhecido por “Ganagoga”, que na língua beafar significa poliglota, tal era o número de idiomas que dominava, quer os locais, quer os europeus…

 

Chegada de uma Caravana a Tombuctu

Viagem ao Mali                        

Em uma destas viagens aproveitou Ventura para se integrar em uma das caravanas que faziam ainda as rotas terrestres do comércio para a Europa e o Médio Oriente, e foi conhecer Tombuctu, centro nevrálgico do império malinke, de que tanto ouvira falar nos seus estudos e andanças, dando conta de como era um centro cosmopolita em que conviviam pacificamente as três religiões monoteístas, a muçulmana, a cristã e a judaica, a par das três culturas regionais, a songai, a tuaregue e a árabe. Mas a desilusão era inevitável nesta sua escapada turística, por um lado porque o tráfego comercial diminuíra a pique com o desvio do eixo do comércio para a costa e para o mar, e por outro porque o ainda há pouco poderoso império songai fora desbaratado por uma invasão do exército marroquino oatácida, no recém-extinto século XVI.           

Professor em Guinala

Mas as lides do comércio não eram decididamente, mau grado as suas insofismáveis competências na matéria, a vocação mais profunda de Sanai, aliás Ventura de Sequeira, e foi com entusiasmo que em 1605, ainda no fulgor maduro dos seus 62 anos, atendeu ao apelo do jesuíta Padre Baltazar Barreira solicitando-lhe que descesse para Guinala, no Rio Grande, e aí se juntasse a outro jesuíta, Pedro Fernandes, para ali abrirem e fazerem funcionar uma Escola para ensino das primeiras letras e cálculos às crianças, no que por sua vez dava atendimento ao líder da comunidade luso-africana local, Sebastião Fernandes Cação, com o apoio do rei de Biguba, Enchabole, “para ensinar a Doutrina e a ler e a escrever aos mininos”. A iniciativa jesuíta foi um sucesso fulgurante, e rapidamente dezenas de “mininos” das elites de Biguba e Guinala, tanto os filhos de portugueses e grumetes como os do rei, dos fidalgos e dos chefes militares, e alguns até filhos de bixirins, foram surpreendendo e encantando os pais e a restante população, pois mesmo os de colo já recitavam e cantavam hinos, e alguns mais crescidos aprenderam a ler e a escrever em menos de um ano.

Quando Pedro Fernandes foi chamado a Ribeira Grande, para abrir, em 1606, na capital de Cabo Verde, a primeira Escola formal de Ensino público, foi Ventura que ficou a segurar a Escola de Guinala, valendo-se da ajuda dos filhos e de dois dos seus antigos alunos de S. Filipe, da Escola do seu efémero reino no Cacheu, que a ele se vieram juntar.

O imponente poilão com séculos de idade que por esses anos serviu aos meninos de Guinala de Escola ficou eternizado neste soneto de Ventura, que fazia cantar em cada dia na abertura das aulas (infelizmente, não nos chegou a respetiva música):

 

Desponta a aurora clara de nascente,

Levanta-se do Buba a densa bruma.

O poilão, majestoso e imponente,

Acolhe à sua sombra a jovem turma.

 

Leal amigo, seguro e frondoso,

Que nos forneces toros[44] e adabas[45],

E almadias[46], e bâmbalos[47] sonoros,

Abriga a nossa aldeia em tuas asas.

 

Tuas raízes, fortes e seguras,

São as cadeiras em que aqui aprendem

Nossas crianças, cândidas e puras.

 

Como teus frutos, que em teus ramos crescem,

Sejam as almas sábias e maduras

Dos de Guinala, que te agradecem.

Poilão-Escola-Tribunal-Igreja

 De novo rei, no país de infância

Por meados dos anos 10 de seiscentos, a grande invasão dos Sumbas de sessenta anos atrás que dera origem à aliás rica história de vida de Ventura de Sequeira estava completamente esquecida, e os familiares mais velhos de Sanai haviam retomado o governo da nação Sape. Acabara de falecer, sem descendência masculina, o primo que ocupara até então o trono bolão na Serra, circunstância que levou a família a pedir ao Padre Barradas, que bem conheciam, que convencesse o menino de Abu a voltar ao país e ocupasse o seu lugar agora vago.

E assim se concluiu com chave de ouro, contrariando o rumo habitual da história, o périplo de um príncipe que no exílio distante logrou preparar-se como poucos na altura para uma missão de reconstrução e superação na paz, no labor e no culto dos valores humanistas e cristãos de uma sociedade que fora sujeita às maiores violências da guerra, do obscurantismo e da exclusão.

Ventura de Sequeira voltou às margens do rio dos Cárceres, onde ocupou a cadeira de Beca[48] ainda por longos anos, o suficiente para, com novas armas, as do conhecimento, da sabedoria, da justiça e da compaixão, legar aos vindouros uma sociedade harmoniosa e progressiva.

Não foi em vão, porém, que a história da sua vida, tão rica quanto agitada, lhe ensinara que os ideais têm de ser firmados em segurança e capacidade de resistência às intempéries, como casa edificada sobre rocha e não areia, e foi por isso que o rei Sanai Ventura, a par da Escola, da Igreja e do Tribunal, empreendeu negociar com os povos vizinhos na Serra, landumas, susos e em especial com os limbas[49] um tratado de defesa comum, que de futuro pudesse impedir que novas invasões viessem a destruir a vida dos seus povos.

 

Bâmbalos


[1] Marés altas e baixas

[2] Variação ruidosa da maré nos rios. O rio Gâmbia terá sido por isso denominado de “Cantor”

[3] Habitantes da Abissínia

[4] Marabutos, clérigos muçulmanos

[5] Árabes (al-arab)

[6] Ou Gabu, ou Kabu…

[7] Mandinga

[8] Etnónimo do topónimo Jafada (hoje Cacheu)

[9] Os Sapes da Serra Leoa dividiam-se em bolões, mais para o litoral, e limbas, mais para o interior.

[10] O nome deste rio evoluiu para a corruptela Scassos e depois Scarcies. Também designado Kaba.

[11] Codé

[12] Comércio

[13] Intérprete

[14] Lançados – comerciantes portugueses residentes nos rios da Guiné.

[15] Locais ladinizados, auxiliares dos tangomãos.

[16] Baobá ou embondeiro, servia de escola, sala de reuniões, igreja e tribunal na aldeia.

[17] Adivinho, sacerdote gentio.

[18] Ritualista, guardiã da baloba.

[19] Feitiços

[20] Palhota com feitiços em que são realizados os rituais animistas.

[21] Práticas correntes nos pequenos reinos medievais da Guiné, para determinar culpados de pequenos crimes, e até de ocorrências naturais, como a morte por doença. Terá sido um dos estratagemas mais comuns para fazer escravos.

[22] Generais

[23] Governadores sob o comando dos jagarafes.

[24] Um dos reinos litorais, a norte dos de Salum, Sine e Baol, a sul do de Walo e a oeste do de Dialof.

[25] Fruto de que se fazia vinho.

[26] Espécie de maçã com caroço, o qual é consumido como amêndoa.

[27] Planta com raiz medicinal.

[28] Fruto

[29] Guizos

[30] Carne salgada e secada ao sol.

[31] Grão

[32] Espécie de malagueta.

[33] Fruto

[34] Tecidos finos de algodão.

[35] Tecido grosseiro de lã.

[36] Esta e outras miudezas, trazidas da Índia e de Veneza, assim como moedas de baixo valor furadas, eram muito procuradas para adorno.

[37] Conchas, pequenas e grandes, funcionavam como moeda na região do N’Gabu.

[38] Tecido estampado.

[39] Riscado

[40] Contas e bagas decorativas de vários tamanhos.

[41] Corruptela de Arras, cidade no norte de França.

[42] Nome dado por Dinis Dias a esta baía (hoje Dakar), em homenagem ao chefe local da altura.

[43] Idem. Mais tarde os holandeses haviam de a batizar “Goedereede” (Boa Enseada). Gorée é uma corruptela posterior daquela designação, na língua francesa.

[44] Jangadas

[45] Arados

[46] Pirogas

[47] Tambores

[48] Rei local.

[49] Ao contrário dos Bolões, os Limbas tinham um sistema de defesa baseado em abrigos subterrâneos em que se acoitavam quando eram atacados.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

26 - Cabo Verde descobre-se como Destino Turístico

11 - Soltrópico, um operador turístico focado em Cabo Verde

35 - A REDE - Sonhos Adiados