18 -Nos Cutelos do Fujão Matias

 

    As investidas do corsário Francis Drake à cidade de Ribeira Grande, ao serviço da rainha inglesa Isabel I, no último quartel do século XVI, ao provocarem a fuga desordenada dos habitantes para as ribeiras e montanhas do interior da grande ilha cabo-verdiana, terão criado as primeiras oportunidades sérias de dispersão de fujões[1] pelos cutelos de Santiago.

Bairro de S. Sebastião, Ribeira Grande

    Enquanto os Vizinhos e os Eclesiásticos do Cabido iam estabelecendo Morgadios e Capelas nos pauis férteis das ribeiras, onde as enxurradas das as-águas[2] deixavam aluviões aráveis e úberes, propiciando culturas e rebanhos que produziam muito para além das necessidades de sobrevivência das populações, provendo ademais à armação de navios no porto e ao comércio de trocas nos Rios da Guiné, alguns dos escravos que eram deslocados para estas quintas de chão de massapé[3] ou fugiam de ataques e perseguições, aproveitavam o ensejo para se escapulirem e se embrenharem pelos interstícios dos montes, onde saboreavam o gosto agridoce da liberdade, por um lado sujeitos a serem assinalados, recuperados e castigados, mas por outro provando o ímpar, novo, inebriante, insubstituível e definitivo sentimento de quem se sente senhor de si próprio, das suas escolhas, dos seus sucessos e dos seus fracassos.

    Pouco a pouco, os recantos mais férteis das montanhas e planaltos do interior da ilha-mãe foram sendo assenhoreados por ex-servos tornados donos de si próprios, dos seus funcos, dos seus animais, das suas culturas, das suas decisões, assim Deus lhes mandasse as chuvas de verão e de outono que lhes fizessem crescer palha e arbustos para o gado e germinar, medrar e frutificar nas hortas o milho, o feijão, a mandioca, a batata doce, amadurecer na ladeira as deliciosas papaias sob as umbelas protetoras de largas folhas no topo dos finos e aprumados troncos, corar as mangas, suspensas como brincos rosados das frondosas copas da mãe… Assim também a abundância das culturas nos vales entretivesse os seus donos, deixando-os satisfeitos com as colheitas, sem tempo para perseguições, e com dinheiro para comprarem novos escravos que os substituíssem nas duras tarefas da lavoura… Porque faltando as abençoadas chuvas, a carestia fazia com que a sua sorte se invertesse perigosamente, os senhores olhando-os como capital perdido e a recuperar, os governantes da Ribeira Grande acicatando os terratenentes para que lhes pagassem impostos, incluindo os relativos a “mercadoria” extraviada, e até o rei, em Lisboa, agitando-se com a perspetiva de corrosão da ordem estabelecida, em cujas premissas, no que tocava a Cabo Verde, a mão-de-obra escrava pesava sobremaneira. Nem tão pouco eles podiam acoitar-se mais acima, expondo-se menos, forçados que eram a buscar o sustento mínimo nos vales, em investidas fugazes às minguadas colheitas e magros rebanhos, pela calada da noite…

Nos Cutelos do Fujão Matias...

    Quanto mais se ia deteriorando, em finais do século XVII, o panorama económico e político na Ribeira Grande, com os Vizinhos a serem afastados do comércio da Guiné e com a crescente relutância dos quadros administrativos em comparecerem nos postos para que eram nomeados pelo rei, mal remunerados e obrigando a morar numa cidade doentia, com a correspondente e inevitável proletarização e deterioração da administração pública e da eficácia do exército, tanto mais se degradava, em paralelo, a correlação de forças e de poder entre as classes sociais, minadas por compadrios de promiscuidade, carentes de normas, expostas à pequena corrupção de interesses imediatos e comezinhos, num contexto em que as autoridades militares e judiciais perdiam progressivamente capacidade penitenciária e punitiva, de tal modo alastrara a cumplicidade entre os seus funcionários, muitas vezes próximos ou mesmo parentes dos criminosos que supostamente deviam capturar, julgar e encarcerar.

    O início do século XVIII foi marcado pelo acontecimento rocambolesco dos autodesignados “valentes de Julangue”, que logo em 1703 deixaram na vergonha uma força militar de 400 homens comandada pelos capitães Francisco Araújo Veiga e Francisco Soares, deixando às escâncaras a impotência do poder de então para resgatar os fujões que, vivendo isolados nos cutelos, se amotinaram, armaram-se com zagaias, manducos, pistolas, bacamartes, espadas, lanças e facas, resistiram, repeliram os militares, voltaram a dispersar e a esconder-se, e assim selaram o seu estatuto de trânsfugas destemidos e ciosos da conquista da liberdade a que haviam forçado  o protocolo escravocrata… Mais ainda, quando a governação quis ao menos ter a última palavra com a prisão do mentor dos fugitivos, Domingos Lopes, de nominho “Neto”, que a custo acabara por capturar após uma década de perseguições goradas, ficou à vista quanto a cumplicidade entre fujões, homiziados, forros e até com os próprios agentes de segurança gangrenara as estruturas administrativas e militares da ilha, logrando o Neto empreender uma fuga fácil e descarada em que voltou impune às montanhas, levando consigo, para cúmulo, outros prisioneiros e mesmo alguns guardas.

 

Da oligarquia à escravocracia

    Com este episódio, os fujões e homiziados, aliados aos forros[4], deixaram demonstrado, avant la lettre, que em Cabo Verde a palavra escravocracia resgatara o direito à sua etimologia. Mais ainda, os rebeldes deixaram claro que não queriam sequer trabalhar por conta alheia, preferindo um campesinato de subsistência a servir senhorios à jorna, fosse a que preço fosse, quando muito incrementado por pequenos negócios de troca com os navios que vinham fazer aguada nas praias, uma atividade que inaugurava um novo ofício, o das rabidantes[5], protagonizado por mulheres, mais seguras que os homens na movimentação pelas ribeiras, a caminho das praias.

    Ao arrepio da ordem estabelecida, muitos preferiam mesmo integrar as milícias privadas dos senhores das fazendas, em geral também brancos da terra[6], frequentemente com laços afetivos e familiares próximos, a troco da segurança, alimentação e alojamento que por eles lhes era dispensada, pese embora o compromisso de terem de se bater em refregas frequentes e às vezes fatais.

    Em 1731, o Bispo D. Frei de Santa Maria de Jesus, a pedido do Governador Francisco de Oliveira Grans, e valendo-se da exemplar organização dos registos da Igreja, presente em todos os recantos da ilha na pessoa dos párocos, traçava um quadro clarificador da população de Santiago na altura: de um total de 18.083 habitantes de Santiago, os escravos estavam reduzidos a 3.255 (18,1%); espalhavam-se pelo seu território 11.935 forros (66%); e os mestiços de elite, ocupando a maioria dos cargos de administração, organizações militares, empresariado agrícola e poder político, ascendiam a 2.477 (13,7%); ao passo que os brancos, de origem reinol, já não eram mais do que 398 (2,2%), incluindo os que moravam nas serras e vales, pobres e iletrados. Um quadro que pode ser completado com o cálculo do número de fujões que um outro bispo, D. Francisco de Santo Agostinho, avançara duas décadas antes, que estimava ascenderem a seis centenas.

Jacques Cassard

    Quando, nas primeiras décadas do século XVIII, sobrevieram ataques externos ainda mais devastadores à Ribeira Grande, dos quais o de um outro corsário, desta vez ao serviço do rei francês Luís XIV, foi o mais demolidor, em 1712, a situação em Santiago era deplorável, fosse na vertente social, administrativa, militar ou na económica, e não foi por acaso que Jacques Cassard e as suas tripulações saquearam e incendiaram sem resistência a garbosa Cidade da Ribeira Grande, deixando-a extirpada e em ruinas irreversíveis, apesar de alegadamente dever estar na cidade uma milícia de 3.000 militares, certamente ocupados pelos senhores dos morgadios que se digladiavam com as suas milícias em contendas fratricidas.

    A manifestação do caos na ilha de Santiago haveria de agravar-se sobremaneira e de se evidenciar ainda mais, atingindo um clímax que ninguém pudera prever, com a ascensão, em 1761, do autointitulado “príncipe de Santiago”, António de Barros Bezerra e Oliveira, de capitão-mor na Ribeira Grande a Governador, no estertor de um processo que culminou em um beco sem saída, com a economia de rastos, as instituições em roda livre, uma elite corrupta, desgovernada, quase totalmente dependente da perspetiva de rendas do reino, e um povo divorciado da produção e do desenvolvimento, sedento de uma liberdade sem deveres ou compromissos.

    A cento e cinquenta anos de organização e prosperidade haviam sucedido, pois, outros tantos de desestruturação e declínio. Cabo Verde estava assim maduro, na segunda metade do século XVIII, para sofrer bem de frente o embate do despotismo iluminado que campeava em Portugal e na Europa… Após trezentos anos de ensaio do que teria sido uma simples extensão administrativa de Portugal às ilhas de Cabo Verde, estavam a chegar duzentos de regime colonial…

Ilustração: Spartacus na Batalha de Lucania

Spártaco, o miliciano redentor

    Eis, em breves linhas, o quadro de que emergiu nos cutelos e vales das ribeiras de leste de Santiago a saga do fugitivo Spártaco, cognome por que veio a ser conhecido Matias Freire, nas décadas conturbadas do miolo do Século das Luzes, em que o padrão de um Cabo Verde, arduamente desenhado e trabalhado como extensão do Reino de Portugal, autárquico e burguês, com nobreza e clero importados da Metrópole, e um povo, por sua vez importado dos Rios da Guiné, em vias de ladinização e libertação lenta, se transformaria, em lume brando, em um modelo original de proletariado campesino, vagamente anárquico, desligado de um poder agora manipulado por ex-nobres e ex-burgueses, em deslocação da Ribeira Grande para a Praia, no que se refere aos poderes, e para os vales e serranias da ilha de Santiago, no que se refere ao povo, sob forte influência de um clero local já firmemente implantado, mau grado os bispos, reinóis, marginalizados por uns e outros, terem garantido distâncias de segurança, primeiro na Trindade, depois na Brava e nas longínquas ilhas de Santo Antão e S. Nicolau, até voltarem, tardiamente, já em meados do século XX, à nova capital, a Praia de Santa Maria.

    Matias nascera precisamente na Trindade em 1692, na Fazenda de João Freire de Andrade, entretanto tornada por doação propriedade do bispado, e aos 20 anos, quando do assalto de Cassard a Ribeira Grande, em 1712, era um escravo exemplar e servia com os pais o bispo Frei Francisco de Santo Agostinho, que chegara em 1709, e de quem ele recebera, tal como dos clérigos seus assistentes, em especial do Vigário Geral e Mestre-Escola António Henriques Leitão e do pároco de S. Domingos, um ex-militar, de uma família burguesa do Fogo, formado na Ribeira Grande, de nome Manuel Monteiro de Macedo, catequese e instrução de ler, escrever, cantar e contar.

    O bispo Frei Francisco viria a falecer em 1719 e foi durante a vagatura da Prelazia, que se prolongaria por dois anos, que Matias, juntamente com alguns dos rapazes da guarnição da Trindade, aproveitou a brecha para se juntar ao tropel de auto-libertos de Santiago. Sem pré-aviso, o pequeno grupo de fugitivos subiu a Ribeira até Figueira de Portugal, que bem conhecia das rixas entre morgadios e capelas em que participara regularmente, mas sobretudo por ter integrado, quando Matias completara 20 anos, a milícia que o seu dono e bispo organizara, suprindo a apatia timorata do Governador José Pinheiro da Câmara, partindo da Ribeira do Engenho, onde se abrigara, descendo com um contingente de algumas centenas de populares armados, arregimentados nas paróquias do interior, de Santa Catarina do Mato a S. Lourenço dos Órgãos até Buguende, levando o comando de Cassard a retirar-se para o mar, não sem que incendiasse primeiro o casario da cidade, o paço episcopal e a biblioteca, e levasse mesmo os sinos das torres e os canhões do Forte e dos Baluartes.

    Matias e os seus companheiros de fuga galgaram a Ribeira de Forno até Fontes de Almeida, uma zona de águas abundantes habitada por camponeses forros, de onde treparam a Espinho Cheu, junto ao Cutelo de Pedra Branca, a uma altitude à prova das rusgas de Meirinhos da Serra ou Capitães do Mato, e por ali foram ficando uns meses, acolhidos por um pequeno grupo de outros fugitivos evadidos há mais tempo da Ribeira Grande, já alojados em funcos, com água e hortas por perto, e com famílias constituídas.

    Mas a ilha de Santiago é extensa e cheia de recantos discretos, e Matias, embalado, tal como os colegas de fuga, jovens como ele, pelos relatos heroicos que circulavam no meio escravo sobre os Valentes de Julangue, perspetivando um futuro risonho e colorido pela frente, a condizer com os romances de cavalaria que lera nos serões eruditos da Trindade, como Amadis de Gaula, ou Os Cavaleiros da Távola Redonda, cogitara um cenário que o aproximasse desses bravos que ousavam rejeitar a servidão e lutar pela liberdade, mesmo que para isso tivessem de empunhar armas.

    E continuaram a fuga, tendo por objetivo atingir a Ribeira de Julangue, nas terras de Santa Cruz, e aí tomarem o gosto ao vigor e à segurança que só a liberdade usufruída e partilhada confere. Evitaram passar por S. Domingos, na altura feudo da omnipotente e imprevisível família Bezerra e Oliveira, atravessaram Caiada e Água Gato, passaram cautelosamente pelos Órgãos Pequenos e foram esconder-se nas grutas de Robão Cal, sobranceiras à Ribeira de Santa Helena, já à vista da Ribeira Seca, e por isso não longe da Ribeira de Julangue, que fendia a Achada Duas Figueiras, entre a Ribeira dos Picos e a Ribeira da Montanha. Um posto de observação e de refúgio ideal para um tempo de estudo e de espera, com água acessível e dispensando qualquer construção, que a gruta, ampla e confortável, supria com vantagem.

    Nado e criado na Trindade, numa das fazendas mais fecundas e produtivas da ilha, Matias estava familiarizado com a natureza, não apenas nos produtos hortícolas que lá cultivara, feijões diversos, milho, abóbora, mandioca, mas ainda saborosas frutas, quer as vindas da Metrópole, como laranjas, figos, maçãs, melancias, marmelos, quer as novíssimas e deliciosas papaias importadas do Brasil ou as odorosas mangas chegadas da Índia e os cocos vindos das costas do Índico. Brincara mesmo nos ramos de uma das calabaceiras mais antigas de Santiago, certamente com séculos de vida, de que, pela quaresma, se colhiam os frutos pendentes para os abrir e lhes introduzir mel e assim se obter, misturando-o com a polpa farinhenta, o delicioso ponche de calabaceira. Mas a paisagem das encostas do interior, que agora calcorreavam, exerciam sobre ele e os companheiros de aventura um encanto novo, por um lado pela novidade de algumas espécies vegetais, como a gestiba, utilizada para tratar cáries, ou a erva-cidreira, eficaz em infusões contra a tosse, ou o funcho, muito apreciado pelas indispensáveis cabras, ou arbustos e árvores de altitude, como o tortulho, a losna, a língua-de-vaca, a carqueja, o dragoeiro, o espinho branco, a figueira brava, o marmulano… Ao encanto silencioso da vegetação, que só a brisa do crepúsculo vinha agitar ao de leve, juntavam-se, por outro lado, as aves que, usufruindo da proteção arredia das alturas, por ali escondiam os seus ninhos, e enchiam o ar com cantos variados, desde o arrolhar dos pombos aos pios estridentes dos andorinhões, até ao burburinho dos ranchos de galinhas do mato vasculhando o chão, à chinfrineira dos bandos de pardais, aos pios raros e discretos de francelhas e milhafres assassinos depois de mergulharem das alturas sobre as suas presas, ao piar soturno das corujas pela noite dentro, ao crocitar brigão e ruidoso dos corvos, ou ao silêncio sagaz de uma ou outra garça vermelha à cata de insetos nas moitas. Já nas ribeiras, abundavam as deslumbrantes passarinhas, coloridas e vigilantes em voos rasantes pelas poças de água, as garças boieiras, de uma alvura angélica, pé ante pé na pegada do gado em pastoreio, ou, ao escurecer, em bandos pacatos voando em formatura a caminho dos seus dormitórios, nas raras copas de árvores desfolhadas; ou ainda, quando desciam ao Litoral, à Achada do Portal ou à Achada Baleia, à Praia Formosa, à Achada da Ponte,  S. Tiago ou Santa Cruz, e ao odor fresco da maresia se associava uma fauna abundante de aves marinhas, gaivotas irrequietas e palradoras, alcatrazes de asas enormes, em voos altos e planados, rabos de palha arrancando voos graciosos de rochas altas, por sobre as vagas, bandos de pilritos debicando na areia pulgas do mar trazidas no vaivém das ondas…  

 
Papaieira                                                            Passarinha                                                Frutos de calabaceira

    Tal como o vento refrescante, o chilrear dos pássaros, o brilho dos astros no céu da noite ou a luz do sol trazendo cor e vida às paisagens, da ténue e fresca alvorada ao zénite escaldante do meio dia e à calma repousante do crepúsculo, a natureza espalhada pelas encostas palpitantes daqueles vales plácidos de leste, longe das vozes de comando de capatazes nas fazendas, tudo no Cutelo de Robão Cal soava a uma música nova, suave, melodiosa, celestial, aos olhos e aos ouvidos de Matias e dos companheiros. 
    Instruído nos preceitos da fé e da Igreja pelos donos e tutores na catequese dos bancos da pequena capela oitavada da Trindade, Matias conseguia mesmo aliar o ar de libertação que agora respiravam no ermo paradisíaco em que se refugiaram à doutrina que ainda há pouco lhe parecia desligada da realidade:  “…não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”, aprendera ele de uma das cartas de Paulo, o Cavaleiro do Amor. Mas a afirmação que mais lhe martelava o pensamento era um versículo que retivera do Evangelho segundo S. Lucas, e que lhe soava de cada vez aos ouvidos como um milagre longínquo num horizonte escondido do espaço e do tempo, mas que agora se desvendava: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e a restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e proclamar o ano da graça do Senhor”. A catequese imprimira uma marca profunda no carácter de Matias, ao ponto de ele ter trazido da Trindade um Missal, uma Bíblia e o Catecismo de José de Anchieta, escrito havia um século no Brasil por aquele missionário jesuíta, que lá catequizava e instruía escravos oriundos de Angola, o qual servia também em Cabo Verde para as aulas de ladinização, livros que ele continuava a ler regularmente, e que iam alimentando no seu íntimo uma tensão paradoxal mas criativa entre uma ligação profunda e inabalável com a liberdade, subjacente à fonte da doutrina cristã donde bebera, e, sub-repticiamente, a má consciência de se ter eximido à condição de escravo, ao arrepio da estrutura social então em vigor; uma tensão que encontrara bem presente nos sermões de um outro missionário, coevo de Anchieta, António Vieira, que se é certo que defendera a dignidade humana dos escravos, não fora ainda capaz de extrair daí a ilação necessária da sua libertação plena. 
 
Gramática, de José de Anchieta                                                                                                  Capelinha da Trindade

A conquista do Paraíso

    Para todos os efeitos, Matias e os companheiros de evasão estavam a viver, em 1720, literalmente entre o céu e a terra, o Ano da Graça das suas vidas, o verdadeiro, o supremo, o libertador. Foram ensaiando descidas tímidas ao mundo mais real, pelo vale de Santa Helena, travando conhecimento primeiro com outros fugitivos, depois com alforriados acomodados com suas hortas em Caiombe e no Barril, e no ano seguinte, atingira Matias a bela idade de 29 primaveras, perderam todo o temor de se mostrarem nos vales, tanto mais que os próprios terratenentes da região, de Mendo Faleiro ao Poilão, da Achada do Bargado à Achada Duas Figueiras ou até mesmo a Santiago e Santa Cruz, no litoral, sendo eles próprios mestiços alforriados, uns por nascimento e outros por testamento, viam nos recém-chegados às abas das suas propriedades, fossem forros ou fujões, ou até mesmo homiziados[7], mau grado os riscos que comportava o respetivo acolhimento, potenciais aliados na preservação e exploração das suas terras, em contraponto com os agentes da Administração e do Governo, que encaravam mais como sanguessugas a sorver com impostos e monopólios o sangue  do seu labor, e como concorrentes disfarçados e opressores a travarem-lhes os negócios, do que como aliados na manutenção de um sistema escravocrata moribundo.

    O mesmo divisionismo se passava, de resto, por essa altura, na hierarquia da Igreja de Santiago, com o sucessor de D. Frei Francisco, D. José de Santa Maria de Jesus de Azevedo Leal, um franciscano, ele sim mais interessado na pastoral que no governo da Diocese, que se apressou a confiar ao seu Vigário Geral, António Rodrigues Leitão, a quem investiu de plenos poderes para o efeito, a maçada de se ocupar dos bens materiais e dos compromissos protocolares e de aturar as quezílias com que quer os governantes seculares quer os próprios clérigos do Cabido e das paróquias armadilhavam regularmente o trabalho de cura das almas, atrapalhando a missão nuclear do clero.

    O Padre Manuel Monteiro de Macedo, pároco em S. Domingos e em S. Lourenço dos Órgãos, onde mantinha, ele também, uma milícia privada, no sítio da Gamboa, estendia a sua influência, meio religiosa meio profana, a condizer com a sua proveniência da esfera militar, a toda aquela região, e não tardou que se apercebesse da presença de Matias e do seu pequeno grupo, que se apressou a convidar para integrar as suas hostes, vendo neles, que já conhecia da Trindade, potenciais colaboradores preciosos, instruídos, honestos, devotos, fortes e voluntariosos, novos Paulos capazes de percorrer aqueles montes e vales a catequizarem e a congregarem aquela malha humana, heterogénea e dispersa, mas firme e unida no propósito de se eximir a uma sina em cujo horizonte não se vislumbravam nem os portais da libertação espiritual nem a saída do túnel da pobreza material; havia de o conseguir reunindo todos à volta de um ideal, algo indefinido nos métodos e contornos, mas assente na ideia basilar da libertação de amarras formais e inibidoras que o Evangelho claramente desatava, a caminho das Bem Aventuranças; um objetivo a conseguir pela prática das regras de vida consagradas pelo Concílio de Trento: Mandamentos da Lei de Deus, Mandamentos da Santa Madre Igreja, combate aos pecados capitais, prática das Obras de Misericórdia… Um padre de personalidade forte, que lhe valera já desavenças em 1705 com o Governador Gonçalo Lemos de Mascarenhas ou, ainda há pouco, com o Vigário Geral, que pretendia substituí-lo nas suas paróquias, cedendo a pressões de alguns poderosos, que o consideravam desestabilizador, ao proteger e até amotinar forros, fujões e homiziados, e mesmo com o Bispo, com quem só veio a reconciliar-se mais tarde, em 1727, pela intervenção do Governador Francisco de Oliveira Grans, e do Ouvidor José da Costa Ribeiro, acabados de chegar, com mandato real para pacificarem o clima agitado em que vivia a ilha. 

Gravura: Ribeira Grande

Sementeira agreste

    Aos 38 anos tornara-se Matias o braço direito do Padre Macedo, à frente da Milícia de Gamboa, de duas dezenas de efetivos, mas também como catequista nos diversos povoados da Ribeira dos Picos, Ribeira de Santa Cruz, Ribeira do Salto e até na Ribeira dos Flamengos, deslocando-se ao longo de cada mês a Jalalo, a Serelho, ao Toril, Mato, Bel-Bel, Achada Leitão, Liberão, Cudelho, lugares de uma zona mais afastada da área de jurisdição da Paróquia aos quais o Padre Macedo tinha menos tempo de se deslocar com frequência, investindo por isso Matias da tripla missão de ensinar o catecismo às crianças, instruí-las nos rudimentos da leitura, da escrita e das contas, e transmitir aos adultos os novos ventos da liberdade, de cuja conquista ele próprio e os seus companheiros eram exemplo, mas que tinha de ser transformada em comunidade, com regras e objetivos, espirituais e materiais, como era o do socorro aos aflitos ou o da morigeração de costumes que considerava pecaminosos, alguns deles agregados insidiosamente a práticas religiosas.

    Era o caso da esteira, um ritual muito arreigado, de despedida aos defuntos, pelo qual a família do morto convidava próximos, amigos e conhecidos, e até forasteiros, estendendo como sinal uma esteira à porta, a velar o cadáver e a permanecer em vigília depois do enterro, por tempo indeterminado, em geral não menos de uma semana, provendo alimento e mesmo dormida para todos. O ritual começava por uma homenagem sentida à alma do corpo que se finara, com choros protagonizados por carpideiras em melopeias de cantochão, e recados para os que o morto iria encontrar no além, em especial os recém-falecidos, expressos pelos remetentes em mensagens proclamadas em tom rogatório, encadeadas e sobrepostas, algumas delas escritas em bilhetes que eram enfiados sob a mortalha do cadáver, na esperança de virem a ser entregues aos destinatários. A comida, cozinhada em casa ou trazida da vizinhança, era abundante, e havia grogue para toda a gente. Passado o funeral, o ajuntamento mantinha-se, e o ritual transformava-se, à noite, de luzes apagadas, numa orgia sexual a que ninguém se furtava, incluindo mulheres casadas, sob a justificação paradoxal de este ritual tácito obedecer ao preceito bíblico do Génesis, “crescei e multiplicai-vos”.

    Estas orgias repetiam-se ao ritmo dos falecimentos, mas não eram as únicas que naquela sociedade incorporavam, de forma discreta mas reiterada, comportamentos libertinos na sociedade do século XVIII no interior de Santiago. Associados a festas religiosas, os reinados consistiam na formação de confrarias, alegadamente piedosas, que elegiam anualmente um rei e uma rainha e saíam por períodos mais ou menos longos em visitas às casas, recolhendo esmolas e donativos alegadamente para o culto do santo festejado. E se na origem tal tradição, ligada à Igreja e às paróquias, fora protagonizada por  homens honrados, que canalizavam os proventos recolhidos para a manutenção das obras da sua paróquia, a tradição degenerou, e populares menos zelosos do sagrado passaram a organizar peditórios por conta própria, fazendo-se passar indevidamente por confrarias, e gastavam o dinheiro e os géneros recolhidos em festas de que o pecado da gula e o da luxúria eram uma vez mais o verdadeiro móbil.

    Também a festa das Cinzas, cuja natureza litúrgica no limiar da Quaresma é apelar à penitência, lembrando, com a prática de jejum e de abstinência, que “somos pó e que em pó nos transformaremos”, se convertera em dia de folguedos, de comida e bebida abundantes, que mais uma vez culminavam em sexo, ao ponto de se tornar o dia do ano em que numerosas donzelas perdiam a virgindade, consumando-se uma outra tradição, dita do foro, que consistia em cada homem oferecer nesse dia mel a uma mulher, fosse ela esposa ou não, a qual ficava obrigada a dormir com ele.

    O calendário destas tradições e ritos libertinos, em que comer e beber até à emriaguez e fazer sexo integravam o cardápio, alargava-se às sambunas[8], festas protagonizadas por grupos de mulheres, que dançavam e entoavam cantos brejeiros acompanhados de batidas ritmadas das mãos em trouxas de pano, que apertavam, sentadas, entre as coxas, criando variações rítmicas, as quais, alternando momentos ora de lentidão macerada, ora de repiques frenéticos, estes designados de txabêta, encadeados e progressivos, logo traduzidos em movimentos ágeis dos pés das dançarinas tendo como efeito numa convulsão balanceada das nádegas, a que chamavam da cu torno, acompanhado de rotações lentas do corpo e de flexões igualmente lentas, as transportava para um êxtase que lhes beatificava o rosto e vidrava os olhos, desembocando em um estado entre o místico e o transe, nos limites da possessão e na fronteira do profano para o religioso e da mística metafísica e cristã do além para a crença animista nas almas penadas que regressam, se apoderam de corpos vivos, os possuem e comandam,  até decidirem voltar ao mundo invisível mas poderoso dos que já foram.

 
Zambuna no batuque - pintura de Kiki Lima                                        Colá-Son-Djon - um folclore híbrido - pintura

    Se, por um lado, a promiscuidade libidinosa que transparecia das festas deste povo, rebelde, pobre e abandonado à sua sorte, traduzia uma espécie de fracasso da ação morigeradora da Governança e da Igreja, evidenciando falhas na erradicação pretendida de tradições profundamente implantadas numa matriz animista que desconhecia o pecado e tudo justificava por forças misteriosas de espíritos que, como explicavam os jabacouces, vagueiam e se insinuam, ao sabor de forças misteriosas, em corpos que se sucedem de geração em geração, alterando-lhes o comportamento ou até comendo-lhes a alma e a vida, não era menos verdade que vingava no seu seio, com carácter de perenidade, uma personalidade nova, que perdera roupagens gentílicas mas guardara as vibrações mais profundas da sua intuição cósmica, ao mesmo tempo que, ladinizadas nas fazendas e paróquias da Ribeira Grande, Alcatraz, Trindade e outras, estas pessoas tinham adotado a religião cristã, ligavam-se ao Messias Redentor e Libertador, e aceitavam sem conflito a catequese, os sacramentos e os rituais que o Padre Manuel se encarregava de garantir, percorrendo a região ou delegando em diáconos e catequistas, como era o caso de Matias, mesmo se fazia vista grossa ao rigor da observação dos costumes preconizados pelos mandamentos que pregava e aos pecados que condenava. Havia sempre uma porta de saída, o sacramento da penitência, que os livrava da má consciência, a troco de uma confissão de fraqueza - “mim é coitado”! – e de umas rezas purgatórias, e em última instância lhes franquearia, como compensação às agruras da vida, as portas do céu, onde reinava um Deus omnipotente, mais amigo que castigador, e vagueavam os espíritos dos seus entes queridos a quem tinham levado a alma, em regime nómada, entre o além e o aquém…

 

Caminhos de redenção

    O Padre Manuel conhecia muito bem todos os requebros da personalidade e das convicções deste povo real e único, e por isso elegera com clareza três vetores de atuação da Igreja, de que ele era o responsável direto, neste vasto campo de trabalho, constituído pelos corpos e as almas que davam vida ao vasto território da sua jurisdição paroquial, uma longa faixa que ia, a oeste, de Praia Baixo a S. Domingos e Boa Entrada, até aos limites das paróquias de Santa Cruz e S. Miguel, a nordeste, para além do Monte Chaminé, Poilão e Bel-Bel, até à Ribeira dos Flamengos, a norte.

    A primeira das suas preocupações era, como se impunha, a manutenção da fé dos crentes e o seu aprofundamento, mantendo viva a pregação da doutrina da Igreja, garantindo a administração dos sacramentos, do batismo ao matrimónio, da penitência à extrema-unção, e celebrando a Eucaristia o mais possível, percorrendo aos domingos, alternadamente, as quintas de massapé e de sequeiro dos vales e encostas, e mesmo alguns dos ajuntamentos de fujões e homiziados que se abrigavam mais acima, nos cutelos, em que evangelizava e instruía, com homilias e conselhos, homens, mulheres e crianças, e ouvia em confissão quem já tivesse atingido rebates de consciência e se quisesse aliviar do peso dos pecados.

    A segunda das três grandes preocupações do Padre Macedo era, claramente, a de proteger todas as suas ovelhas dos agentes do poder, em que incluía o Governador, que considerava fraco e irrelevante; o Ouvidor, que acusava de perseguir os fracos e de proteger os poderosos, em vez de promover a justiça; e até o Vigário Geral, seu superior hierárquico, a quem apontava o dedo por o considerar aliado dos poderes terrenos em vez de se dedicar à cura das almas. E como o braço militar da governança se tornara irrelevante e corrupto, cedendo à proliferação de milícias antagónicas de proteção privada, viu-se forçado a estabelecer ele também a milícia da paróquia, com o fim de impor respeito a oportunistas, criminosos e assaltantes, que proliferavam na ilha.

    A terceira preocupação, e também a mais ousada, nobre e criativa do Padre Manuel, prendia-se com a convicção mais profunda que o tocava genuinamente, e que o levara a aceitar o sacerdócio depois de ser militar: tornar verdade a máxima que tanto marcara Matias, quando foi seu aluno na Trindade, exarada pelo evangelista S. Lucas, citando Jesus: …”enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e a restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos”… Sabia bem, pelo traquejo que fora ganhando com as repetidas disputas havidas quer com o Governador, quer com o Ouvidor, quer com alguns dos morgados e mesmo com o Vigário Geral, que esta terceira tarefa que se impunha a si próprio como prioritária era a mais árdua, por ferir interesses da ordem estabelecida, e por isso tratara de se munir ele também de um corpo armado de prontidão na Gamboa.

    Matias, Fortunato e Salvador, os três ex-fugitivos da Trindade, foram assim, a partir de 1730, primeiro sob a orientação do Padre Manuel Monteiro de Macedo e mais tarde, após a sua morte, em 1748, sob o comando do próprio Matias Freire, entretanto ordenado também presbítero, e durante vários decénios, verdadeiros apóstolos enviados pelas ribeiras que sulcavam as bacias de S. Domingos, Praia Formosa, Ribeira Seca, Ribeira dos Picos, Ribeira de Santa Cruz e Ribeira do Salto.  

Pico de Engulilança

    A Milícia da Gamboa, cujos efetivos patrulhavam regularmente ribeiras e cutelos, foi por esses tempos e até à chegada à ilha, em 1764, do contingente de tropas enviadas a Santiago pelo Marquês de Pombal para estabelecer a ordem metropolitana, um escudo duplo de proteção do povo da região, por um lado contra abusos dos poderes anárquicos reinantes e por outro dos malfeitores sem rei nem roque que assaltavam para roubar e, havendo resistência, até matavam… A proteção da Milícia aos povoados foi nesse período o garante da concretização do primeiro objetivo do Padre Macedo, o da catequização das famílias, criando um clima de paz e segurança favorável à emergência de preocupações do foro espiritual e metafísico. Tanto mais que eram os próprios milicianos que ministravam os ensinamentos evangélicos e preparavam os atos litúrgicos, ficando as confissões e restantes sacramentos para a passagem regular de um padre.

    Foi nesta vertente de miliciano-padre que Matias angariou o epíteto de Spártaco, numa evocação da história do famoso Espártaco, herói trácio que, tornado escravo, liderou uma revolta de libertação contra a Roma Antiga, história essa que o próprio Matias relatava, incentivando quem o ouvia a libertar-se da canga de uma opressão que, deixada para trás por via de alforria ou de fuga, era mister que fosse exorcizada de vez do próprio pensamento, em nome de Jesus, que veio “para pôr em liberdade os oprimidos, e proclamar o ano da graça do Senhor”.

    A porfia mais tenaz de Matias foi, porém, a do combate aos costumes lascivos da concupiscência, de tão grudados que estavam a tradições gentílicas ancestrais, entretanto insidiosamente enxertados em ritos da própria liturgia cristã… Seria a grande fome de 1747-1750, matando indiscriminadamente velhos, jovens e crianças, ao ponto de ter havido casos desesperados de antropofagia, a dar azo a Matias de brandir o terrível argumento da sentença de um Deus, que acolhia como Misericordioso, mas capaz de castigar o pecado com pragas devastadoras, como fizera no Egito para libertar o seu povo da escravatura, matando os primogénitos dos opressores, incluindo o do próprio Faraó, e que aqui usava para mostrar a quem O queira seguir que abomina a luxúria, tal como fizera com Sodoma e Gomorra.

Imagem-testemunho de um período de fomes em Cabo Verde

    Consta que a partir dos anos 50 de 700, a escassa população que resistiu, naqueles vales devastados pela fome, de S. Domingos a S. Miguel, guiada pelo santo, forte e sábio Padre Matias, qual Espártaco libertador da servidão e do pecado, pautou o seu viver pelas virtudes teologais e cardeais, esforçando-se por fugir, quanto a fraqueza humana o permitia, aos pecados mortais e mesmo aos veniais, cumprindo os mandamentos da Lei de Deus e da Santa Madre Igreja, praticando as Obras de Misericórdia, por forma a merecerem as bem-aventuranças eternas, quando Deus se servisse de receber no céu as suas almas.

    Entre avanços e recuos, sucessos e insucessos, brigas e reconciliações, fartura e fome, nascera em Santiago, torneada por uma história intrincada, única e irrepetível, uma sociedade nova, vincadamente mestiça, não só na dimensão étnica, mas igualmente nas vertentes idiossincrática, culturai, religiosa…



[1] Esvravos foragidos

[2] Estação das chuvas

[3] Planícies férteis das ribeiras

[4] Que foram libertos, alforriados

[5] Teria surgido por esta altura esta figura, reservada a mulheres, de comércio informal.

[6] Nova burguesia de libertos, qualquer que fosse a cor da pele

[7] Foragidos da Justiça

[8] As sambunas, folguedos populares aqui considerados como festas em separado, faziam normalmente parte do batuco, sucedendo à finaçon, um momento dedicado ao lamento e à crítica social.

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