23 - Em busca do Grande Algoritmo

 Em consonância com a proliferação de regimes avessos ao confronto que despontaram pelo mundo a partir de meados do século passado, no termo dos tempos apocalípticos das que ficaram catalogadas como “décadas do meio”, em que pelo mundo os grandes Estados continentais se enfrentaram, dos anos 30 aos 60, com armas que afinal se revelaram autofágicas, o Governo Regional da Salândia (GRS)[1], cuja arquitetura, singela[2], ancorada no travejamento proporcionado pelos automatismos da Fluxonomia Articulada de Gestão Pluridimensional (FAGP)[3], remonta à Assembleia Constituinte de 2068, desafia a lógica da maioria dos sistemas históricos de Governo, quer da era teocrática, quer das oligarquias, das plutocacias, das monarquias, das democracias e das ideocracias, pois os regimes pacificráticos, nascidos da rejeição liminar das perseguições e destruições bélicas, que condicionaram até há pouco o curso da História, privilegiam, como o próprio nome indica, a Paz como valor matricial considerado sine qua non para a emergência dos caminhos que conduzem à redescoberta e à prática, individual e coletiva, dos grandes valores magmáticos da Verdade, da Justiça, da Complacência, da Partilha, da Sabedoria, do Direito, da Plenitude, ou seja, da própria sobrevivência da Humanidade e da Natureza, como terreno e território indispensáveis à construção humana e universal.

A pomba permanece como símbolo da Paz

Enquanto que os governos dos povos até há pouco não haviam conseguido libertar-se da ideia de que o poder é fatidicamente discriminatório e por isso gera discórdia e violência, as quais só podem alegadamente ser combatidas com castigo, inibição de liberdades, exclusão, discriminação e mesmo eliminação de quem é ou pensa diferentemente, ao ponto de a memória das grandes guerras de 14-18 e de 39-45 do século XX terem sido olvidadas passado apenas um século, com nova corrida a armamento cada vez mais destrutivo nos anos 20, a Assembleia Constituinte da Murdeira de 68, em linha com os princípios pacificráticos da Convenção de Singapura de 1 de janeiro de 2065, apropriadamente celebrado no Dia Mundial da PAZ, que ousara cortar com tais pressupostos, ao conseguir que as duas centenas de países do mundo, pares na ONU, assinassem o decisivo artigo 13º, numeração propositadamente adotada para desconstruir superstições atávicas, artigo que decretou a exclusão automática do regime de peaceblockchain[4] a qualquer país que desse continuidade a alguma das novas tecnologias bélicas inventadas a partir de 1900, ou a inventar nos anos a vir no fabrico de armas, ou muito menos a usasse, e impôs a destruição durante esse ano de todas as armas explosivas, biológicas ou atómicas em stock[5], à exceção das que fossem neutralizadas e museologizadas[6], estabeleceu que na Salândia passava a ser “proibido proibir”, e estatuiu, em conjugação com o Governo Central, que a prática da antiga morabeza[7], dotada a partir de então de um Código de Convivência e traduzida em Manual de Educação Cívica[8], passava a ser considerada como a seiva das leis e normas de conduta da sociedade, a serem cultivadas nas famílias, nas escolas e nas instituições.

Foi na esteira desta transformação de mentalidades e da subsequente implantação de boas práticas pedagógicas, éticas e políticas ao longo das últimas quatro décadas que no início de 2118 o campus da Cidadela de Bela Dita se tornou no centro das atenções globais.

O grande debate

Ficará nos anais da ONU a Sabatina promovida e patrocinada pela OMP[9] naquela terça-feira, dia 13 de dezembro de 2118, no Grande Auditório da ALCA, presidida pela politóloga neozelandesa Amanda Arden, a primeira mulher Secretária Geral da ONU, filha de uma antiga governante, com a presença de todos os alunos e professores, de todos os membros da Missão Científica da Oceania a estagiar na Cidadela e outros convidados do mundo académico, artístico, científico e político internacional, de celebração dos 40 anos da Convenção de Singapura.

Bandeira dos Direitor Humanos da ONU

Um debate entre os eminentes cientistas Anaru Moko, neurólogo e antropólogo, e o sociólogo Imanuel Cohen de Brito, com a moderação do também neurólogo e sociólogo ancião Joel do Rosário, e a colaboração cénica do Coro Grego da Troupe de Teatro da UIC[10], convidada para sublinhar os pontos fortes do debate, sob o tema em análise na programação da ALCA deste ano: o “Fluxo e a Força”, de que a seguir se transcreve um extrato.

Joel do Rosário

Senhora Presidente da Organização das Nações Unidas, estimados colegas da Comunidade Científica e Artística, senhores Governantes, estimados parceiros da Sociedade Civil, queridos discípulos da Academia de Línguas e Comunicação Avançada, prezados convidados, bem-vindos ao Xº DIP[11] da Cidadela do Conhecimento de Bela Dita.

Ao festejarmos os 40 anos desta Academia, erigida sob o signo “Ab humilitate ad Sapientiam”, herdado dos grandes sábios greco-latinos, simbolicamente postado em caracteres luminosos e coloridos no topo do Arco de Entrada no túnel norte de acesso ao campus desta Universidade, nada melhor do que celebrarmos com a humildade socrática de reconhecermos que pouco sabemos, parafraseando o lema adotado por esta Instituição já madura, como predisposição metódica para perseguirmos laboriosamente a conquista da Sabedoria genuína, cujo clímax é o jubiloso paradoxo de nos sentirmos tanto mais realizados quanto mais conscientes da infinidade e da perenidade da extensão, da profundidade, da bondade e da beleza do Universo, em que fomos gerados, no qual convivemos e que porfiamos em compreender, cientes de que nos escapa à compreensão sempre muito mais do que o que sabemos, mas gratos por dele fazermos parte, certos que estamos de que a luz da Verdade é um perene e vibrante desafio à descoberta de sempre novos e cada vez mais vastos horizontes, como estrela que conduz a navegação a bom porto...

Este Décimo Debate Quadrienal de Bela Dita reveste-se de particular importância, porquanto foi projetado como charneira entre o primordial tema que dominou os nove anteriores, o da PAZ, em boa hora reinante em todos os recantos da Casa Comum de todos nós, e o novo paradigma socioeconómico que domina o debate público atual nos meios académicos e políticos, a saber, o da Fluxonomia do viver.

E quem mais competente para nos introduzir neste novo patamar de entendimento e potenciação das virtualidades do sistema de governo da pólis que perfilhamos há décadas que os excelsos antropólogos-sociólogos Mestre Imanuel Cohen de Brito e Mestre Anaru Moko, a quem peço para ocuparem os respetivos púlpitos, e que dispensam apresentações, pois a vasta obra de um e de outro é do conhecimento público[12], e são numerosos os alunos que, à semelhança dos de Bela Dita, beneficiam da partilha do seu saber e dos métodos de pesquisa que criaram e praticam, nas diversas universidades e auditórios em que exercem atividades académicas.

Quero ainda agradecer ao Grupo Teatral Eurípides, da UIC, uma presença costumeira nos Quadrienais de Bela Dita, pela participação em mais este debate histórico.

 

Coro: Alea jacta est.

 

Joel do Rosário

Os dados estão lançados. Caberá a Mestre Imanuel enunciar o tema. Mestre, tem a palavra.

 

Imanuel Cohen de Brito

Obrigado, douto Moderador e estimado Mestre Joel do Rosário.

Retomando a deixa da referência que acaba de fazer às quatro décadas que acabamos de completar em regime de pacificracia, começarei por recuar um pouco no filme da História para evocar os 200 anos da pax romana, talvez o período mais longo, desde o idílico paraíso terreal, em que um vasto conjunto de povos conseguiu viver, na globalidade restrita de então, à volta do Mediterrâneo, em paz e prosperidade, na história de que nos chegou notícia. Mais recentemente, de 1945 aos anos 30 de 2000, no nosso mundo, desta vez bem mais vasto e conectado, dito civilizado e globalizado, as nações reagiram à grande destruição das chamadas “grandes guerras” da primeira metade do século XX, associando-se na Organização das Nações Unidas, e lograram viver em paz e prosperidade em boa parte do Globo por 80 anos.

Mas o coro das nações assim reunidas foi desafinando e as pulsões negativas da desconfiança, da ganância, da soberba, do domínio do homem pelo homem, foram-se sobrepondo aos desígnios de paz, respeito e entreajuda, o poder discricionário de veto dos mais poderosos sobre os mais indefesos levou-os a arrogarem-se privilégios de iniquidade, e as armas voltaram a falar mais alto e a exibir os reiterados argumentos destrutivos, espalhando o horror e a discórdia, com a agravante da ameaça de entrarem em liça armas de destruição maciça...

Exultemos pois, e festejemos com júbilo os primeiros 40 anos de um período novo de paz que desejamos duradouro, próspero e universal, congregados numa ONU que logrou redimir-se e sobreviver às intempéries, percebendo enfim que a violência apenas é capaz de gerar violência, e que urgia ultrapassar a velha máxima “si vis pax para bellum”[13].

Coro: καθολική ειρήνη![14]

 

Joel do Rosário

Sim, saudemos a Paz Universal, aqui corporizada pela presença entre nós dos seus principais garantes, a OMP[15], pelo lado institucional, e a Comunidade Científica Internacional, aqui bem representada pela Embaixada Científica da Oceania. Mestre Anaru Moko traz-nos, do Pacífico até ao Atlântico, uma dimensão nova de fortalecimento da Paz, com um conceito de economia enriquecida. Ouçamo-lo.

 

Anaru Moko

Sim, os desenvolvimentos da Inteligência Híbrida, surfando conceitos mais antigos como o da realidade aumentada, o do conhecimento exponenciado por algoritmos, o da comunicação por IoT[16] e hologramas, o da telemedicina, o da implantação de sensores cerebrais de análise e de comunicação, entre muitos outros, ligados à majoração da sanidade e da longevidade física e mental das pessoas e da Natureza em geral, à comunicação informativa e científica, à preservação do meio ambiente, à produção de alimentos sãos, à preservação das espécies, etc., proporcionaram um salto qualitativo de feliz disrupção de uma Economia de Consumo, do ter, para uma Economia de Fluxos, do ser… Um salto gigantesco, para um patamar ainda pouco experimentado e pouco compreendido, de fluxos de criação, ampliação e disponibilização de riqueza que adivinhávamos mas de que não conseguíamos desfrutar, porque a sociedade se regia por paradigmas de poder e de domínio pela guerra, em vez de enveredar por fluxos de empatia, de serviço e de paz. Na verdade já éramos ricos, mas falhávamos no usufruto partilhado das riquezas, embora elas estivessem sempre disponíveis e ao nosso alcance…

É a distância que vai do visível ao invisível, da matéria palpável e corruptível ao espírito imaterial, perene e incorruptível, do simples conhecimento empírico à excelsa sabedoria potencializada e inesgotável, pois a riqueza e a felicidade que ela proporciona nascem da criatividade e não do consumo. Paralelamente, é também de sublinhar a distância que vai do particular ao comunitário, pois o crescimento brota da partilha e não da fruição egoísta.

A vós que me ouvis na serenidade gerada pela aliança entre a sabedoria e a tecnologia, sem as antigas barreiras da distância, de filamentos condutores ou até mesmo do ar, graças à superação de sucessivas fontes de resistência dos elementos,  fácil me é falar-vos e contar com a vossa anuência, como se vos segredasse ao ouvido, sem necessidade de levantar a voz ou de retransmissores ou colunas de som, contando com a vossa atenção para a interação da criatividade com a partilha num cadinho colaborativo e solidário, e assim deixar demonstrado sem mais delongas como ela produz efeitos multiplicativos de valor, que incentivam em simultâneo a economia produtiva, o equilíbrio ambiental e social e a própria ética, ao reduzir a uma expressão ínfima, residual, e por isso insignificante, desigualdades, desequilíbrios e injustiças, por despoletar, sempre que necessário e conveniente, feromonas positivas na natureza, desde a humana à de todos os seres, cada um no grau de desenvolvimento em que se encontra, no seu percurso evolutivo.

O eminente cientista e não menos insigne humanista de há dois séculos, Einstein, brindou-nos com essa mensagem, a propósito da teoria da relatividade, que desenvolveu, quando se dirigiu à sua filha, no ocaso da sua vida entre nós, nestes termos: “Há uma força extremamente poderosa para a qual a ciência até agora não encontrou uma explicação formal. Uma força que inclui e governa todas as outras, que existe por detrás de qualquer fenómeno que opere no universo. Ainda não foi identificada cientificamente. Chama-se AMOR…”

Pouco tempo depois de Einstein nos ter deixado, a ciência identificaria o papel primordial das feromonas nos diversos graus de criação de empatia entre os seres vivos, e mais tarde percebeu-se a importância da segregação de dopamina na cultura da vertente construtiva e de amizade entre as pessoas e os povos, promovendo a cultura e o usufruto da Paz, uma feliz descoberta de como segregamos riquezas insondáveis e partilháveis…

 

Coro: Amor é Paz!

 

Imanuel Cohen de Brito

Tem razão o Coro, ao sublinhar com ajustada solenidade que o Amor é Paz. A título de exemplo, ocorre-me evocar a importância do Turismo na cultura do amor e da paz. Uma retrospetiva tanto mais fácil de operar quanto se debruça sobre uma realidade burilada ao longo de séculos, de par com os progressos da mobilidade das pessoas e das coisas, que nos dá conta de quanto o turismo fez progredir as sociedades humanas na compreensão e aproximação mútuas, porque precisamente as vibrações positivas exercem a sua influência com a aproximação dos indivíduos, em contraponto com as negativas, que o afastamento promove. E é com ternura e algum orgulho que aqui em Cabo Verde nós celebramos como componente indissociável da nossa idiossincrasia a nossa “morabeza”, quem sabe, numa intuição telepática precoce com uma sabedoria que de algum modo viaja na biosfera da nossa casa comum, e que resultou da aproximação de pessoas que antes não se conheciam e passaram a conhecer-se, não conviviam e passaram a conviver, não se entendiam e passaram a entender-se, como se os quatro ventos que sopram sobre estas ilhas exercessem sobre elas bênçãos benfazejas…

 

Coro: Turismo, Indústria da Paz!...

 

Joel do Rosário

Será que a Filosofia, no seu papel de questionar, e a Ciência, no seu papel de se aventurar em hipóteses, se esfalfar em experimentações, e de se ir chegando, em teses engenhosas,  ao cerne da verdade dos seres, nas suas múltiplas dimensões, terá logrado aproximar-se de um patamar em que o Pacifismo criativo, reprodutivo e bem-aventurado se torne irreversível?

 

Anaru Moko

A Filosofia e as Ciências adquiriram um ritmo de aceleração vertical (aprofundamento) e horizontal (alastramento) que abalaram, num registo positivo e de esperança, toda a estrutura da construção da Economia e da Sociedade.

Como resultado, os cidadãos do século XXII já não se reveem nas antigas baias por que se regiam os países e as organizações, desde as locais às nacionais e às globais.

Há assim uma disrupção nos conceitos (sistemas políticos, jurídicos, financeiros, económicos, ambientais, sociais, religiosos, etc.) a exigir um realinhamento corajoso mas nem por isso difícil com uma nova ordem ainda emergente mas inelutável…

A Filosofia e a Ética ganham, sub-repticiamente mas irreversivelmente, uma importância fulcral à luz da fusão numérica que penetrou, em combinação binária, toda a realidade, desde a física à mental, energética, biológica, colocando tudo e todos em diálogo permanente e ilimitado, eliminando margens de erro e de insídia que antes permitiam o crescimento de numerosas e variadas excrescências e narrativas alienantes, embustes que facilmente passaram a ser desmascarados pela Inteligência Híbrida, promovida e monitorizada pela rede de Dispensários de Informação Partilhada (DIP), Centros de Investigação e Desenvolvimento (CID) e Estações de Desambiguação e Avaliação de Notícias (EDAN) implantada nos sistemas de Educação e Administração Pública e fiscalizada pelos Órgãos de Governação[17].


Paulatinamente, através da lenta mas perseverante progressão do conhecimento, da ética, da consciência ambiental e social, induzidas pela transparência gerada na simbiótica dos avanços quer científicos, quer tecnológicos, quer sociológicos, psicológicos ou ambientais, em resposta à crescente e cada vez mais complexa corrente de questões colocadas pelo aperfeiçoamento da capacidade de nos interrogarmos e de questionarmos tudo e todos à nossa volta, vamo-nos transformando progressivamente em seres sempre mais interessantes, comunicativos, salutares e pacíferos
[18], mesmo que persistam, aqui e ali, bolsas de obscurantismo e opressão, que de todo o modo ficam cada vez mais residuais e redutíveis, perdendo a capacidade de se sobreporem à verdade, à bondade e à beleza de um paraíso que afinal não está perdido....

O ser humano simbiótico em que nos fomos transformando é, pois, realista, pragmático, positivo, construtivo e pacífico, embora inquieto e sempre insatisfeito, mas agora avesso à pilhagem, à violência e à opressão, neste pequeno mundo vibrante a que aportámos, em que nos tornámos decisivamente no organismo cósmico político, económico, industrial, cultural, cognitivo, ético, ambientalista, filosófico para que parece termos sido projetados, agora mais próximos da sintonia configurada pelos bandos de aves ou pelos cardumes de peixes que juntam à capacidade de sobrevivência e crescimento individual a de evoluírem em grupo, em perfeita harmonia de gestos, como se fossem células de um mesmo organismo…

Foi afinal uma boa notícia a que nos trouxeram, por entre ondas de turbulência e incerteza, a Filosofia, a Ciência e a Tecnologia, como mensagem preservada em garrafa náufraga resgatada de uma tempestade apocalíptica, não sem que tenhamos de ser capazes de interpretar os fenómenos de transformação de crisálida em borboleta em que estamos empenhados, mas com resultados de percurso já adquiridos, a demonstrarem que chegaremos lá, mesmo pagando o preço de Sísifo de continuar a mover a pirâmide da organização da Economia e da Sociedade, mantendo-lhe ou até apurando-lhe o equilíbrio, até a estacionarmos no ponto ajustado em que não rebole de novo encosta abaixo, passando os utilizadores a fornecedores de soluções globais, que se movem na nuvem à espera da tal ‘nova ordem’ que estamos condenados a encontrar, num equilíbrio sempre instável, quiçá desafiando as leis da gravidade...

Citando uma conhecida autoridade dos alvores da então denominada Inteligência Artificial, de nome Pedro Domingos, na altura professor de Ciências da Computação em Washington, “todo o conhecimento - passado, presente e futuro – pode ser deduzido de dados por um único algoritmo de aprendizagem universal, a que chamaria ALGORITMO-MESTRE”.

 

Coro: Quem é o Mestre? Onde está? No céu? Na terra? Em toda a parte?

 

Joel do Rosário

Ao contrário de nos acabrunharmos com a teimosa constatação de que no final de cada um destes debates quadrienais da Bela Dita não só não se fecham as pistas de exploração como até parece que se multiplicam e ampliam, gerando sempre novas dúvidas e questões a exigir novas buscas e outras respostas, atrevo-me a afiançar que todos os que hoje aqui estiveram sairão de cá confortados com a consciência de termos dado um passo largo em frente no caminho certo para o desígnio de melhor percebermos as retas, as curvas, as descidas e subidas do caminho que percorremos na compreensão da força que nos move no fluxo dialético da História.

Fica assim lançado o mote para o 11º Debate, em 2122: -Será que 4 anos serão tempo suficiente para alvitrarmos uma resposta à pergunta que aqui nos deixa o Coro da Eurípedes? Por outras palavras, será que nos aproximaremos finalmente de perto da descoberta do Algoritmo-Mestre?

 

Coro:   Que belos planos fluíram

               Nesta douta sabatina.

               De força, amor, dopamina,

               Novos conceitos se urdiram.

 

               Cruzando o tempo e o espaço

               Corramos, ledos e prestes,

               Procurando, passo a passo,

O ALGORITMO-MESTRE!



[1] Cf contodiprassa.blogspot.com - Salândia

[2] A estrutura dos Governos nos regimes pacificratas formados nas últimas quatro décadas do século XXI assentou na Constituição como norma diretora da governação, elaborada pelo primeiro Governo do Regime, entretanto sujeita a plebiscito, e o Executivo é constituído apenas por 5 sábios eleitos, um pelos cidadãos legistas, outro pelo mundo académico e cultural, outro pela camada laboral da população, outro pelos médicos, enfermeiros e farmacêuticos, e um quinto é eleito por toda a população, com funções de Primeiro Ministro e Chefe de Estado. Um Trio de Especialistas Informáticos (TEF) assessora o quinteto governamental, que nomeia também uma Câmara de 10 Conselheiros em matérias definidas em cada mandato de 3 anos, dos quais um exerce o múnus de Juiz Desembargador da EDAN (Estação de Desambiguação e Avaliação de Notícias), com assessoria do Trio de Especialistas Informáticos. 

[3] O Fluxograma do Sistema Informático de Governo da Pacificracia consta essencialmente dos processos de formação da Inteligência Híbrida (IH), Dispensários de Informação Partilhada (DIP), Centros de Investigação e Desenvolvimento (CID) e Estações de Desambiguação e Avaliação de Notícias (EDAN).

[4] O artigo 13º da Convenção de Singapura, também conhecido por “norma-travão da guerra”, baseou-se na filosofia de corresponsabilização das criptomoedas, conferindo a todo e qualquer país signatário a responsabilidade e a faculdade de vigilância sobre todos os outros, ao estabelecer sensores de alarme automático sempre que algum dos países da cadeia pudesse ceder à tentação de infringir as regras estabelecidas.

[5] A Organização das Nações Unidas, agora rejuvenescida e investida de autoridade efetiva, jurídica e moral, conseguiu que esta medida fosse efetivada e verificada, no rescaldo do horror que foram os milhões de mortos e de mutilados, físicos e morais, e o arrasamento das principais cidades na América, na Europa, e na Ásia.

[6] Proliferam museus da era bélica, em memória e repulsa da destruição que causaram ao longo da História.

[7] Derivada da palavra “amorável” (praticante de amorabilidade, militante de amor), a morabeza é um conceito genuinamente cabo-verdiano que está aquém e além das leis e das normas jurídicas, uma espécie de oxigénio ético e de benevolência que lhes confere alma e sentido imaterial, metafísico. Com a pacificracia, o conceito tornou-se viral e espalhou-se pelo mundo como modelo de convivência entre os povos.

[8] Estes dois documentos programáticos foram redigidos pela Câmara de Conselheiros (CC), aprovados pelo 1º Conselho de Sábios (CS) e publicados no Dispensário de Informação Partilhada (DIP), na EUN (Enciclopédia Universal Normativa).

[9] Organização Mundial da Pacificracia. Fundada em janeiro de 2065 no âmbito da Convenção de Singapura, em substituição das antigas Missões Militares de Paz, conhecidas por Capacetes Azuis da ONU. A sua missão é igualmente a manutenção da Paz, porém sem armas.

[10] Universidade Internacional do Caleijão

[11] Debate de Ideias e Propósitos

[12] Todas as publicações científicas se encontram disponíveis na Enciclopédia Universal Científica (EUC), à semelhança de publicações de outra natureza (EUL – Obras Literárias; EUA – Obras de Arte; etc.)

[13] Se queres paz, prepara-te para a guerra.

[14] Paz universal

[15] Organização Mundial da Pacificracia (departamento da ONU)

[16] Internet of Things

[17] Verificar as siglas no capítulo Salândia (contosdiprassa.blogspot.com).

[18] Do latim, pax + fero (que é portador de paz).

Comentários

Mensagens populares deste blogue

26 - Cabo Verde descobre-se como Destino Turístico

11 - Soltrópico, um operador turístico focado em Cabo Verde

35 - A REDE - Sonhos Adiados