28 - As Jornadas Morabitur

 

Tendo sido concebida ab initio, em 1996, como operador grossista, com sede na Praia e capital social partilhado a meias entre a Praiatur e a Soltrópico, a Morabitur precisou de um longo tempo de gestação, de mais de meia dúzia de anos, até encontrar o registo possível de atuação no mercado turístico de Cabo Verde, condizente com a sua vocação original de criação e distribuição de produto turístico para usufruto de residentes nas ilhas, das comunidades da diáspora ou de visitantes estrangeiros, através da rede retalhista das agências de viagens. Fosse pelo tamanho exíguo do mercado, fosse pelo brio natural das firmas já estabelecidas em valorizar e rentabilizar capacidades próprias na montagem de novos produtos, pese embora as especificidades que a programação implica, tanto em recursos, humanos, financeiros e outros, como em disponibilidade para negociações algo complexas e especializadas nas diversas vertentes que a montagem de pacotes turísticos implica, seja nas ilhas ou seja em destinos a operar no estrangeiro, com a necessária participação prévia, exigente e onerosa, nas principais feiras internacionais de Turismo, a promoção dos primeiros pacotes propostos aos seus pares pela Morabitur apenas obteve resultados residuais, e só à medida que foram surgindo novas agências se foi criando alguma abertura à atividade grossista do operador.

Só mesmo com o lançamento, por um lado, em 2004,  do projeto Halcyon Air, de que foi a primeira e mais importante acionista, com 35% do capital inicial, e que por sua vez levou 4 anos a consolidar-se, e por outro lado com a criação de uma rede de novas agências cobrindo todas as ilhas, elas também tornadas acionistas da Companhia Aérea, a Morabitur, que se transferira da Praia para o Sal, primeiro sedeando-se em Espargos, depois no Aeroporto e finalmente em Santa Maria, e abrira ainda uma sucursal em Sal Rei, atingiu paulatinamente a velocidade de cruzeiro e desempenhou por fim, com vigor e intensidade, a missão há muito almejada de atrair uma percentagem significativa dos turistas que afluíam ao Sal e mais tarde, a partir de 2008, à Boa Vista, em charters chegados de diversos aeroportos da Europa, levando-os a conhecer  Santiago, S. Vicente, Fogo, S. Nicolau e Maio, e dando assim azo a que cada uma das agências do grupo se tornasse simultaneamente sua fornecedora de produto local, mormente garantindo transfers, excursões e programas de turismo ativo, e ao mesmo tempo sua parceira, beneficiando da capacidade que foi adquirindo de agregar o transporte aéreo aos pacotes disponibilizados em cada uma das ilhas, e sobretudo de angariar turistas nessas ilhas de chegadas intensivas em que se estabelecera, que os comprassem e viessem usufruir deles em cada uma das diferentes parcelas do arquipélago.

Foi ponto assente na Soltrópico, desde a sua criação em 1989 até 2010, respeitar o papel da rede de distribuição ao público, quer em Portugal quer em Cabo Verde ou nos outros destinos que foi programando, por o grupo de trabalho que nesse período conduziu os seus destinos ter procurado sempre distinguir com clareza o papel de cada ator no funcionamento correto da indústria do Turismo, eminentemente transversal, e por isso mesmo sensível a eventuais desvios gerados por tentações verticalizantes, à primeira vista mais pragmáticas, por darem a ilusão de evitarem a complexidade de negociação de parcerias entre os diversos players do ramo, desde o alojamento à restauração, aos transportes, aos serviços, à cultura, ao desporto, etc. A Morabitur, firmemente convicta da importância de cada uma das camadas de todo o tecido socio-empresarial em que se inseria, suportou 8 anos de travessia de um deserto com vendas diminutas, percebendo que a componente tempo (tempo de auscultação, tempo de entendimento, tempo de negociação, tempo de aproximação…) é um dos parâmetros incontornáveis da sustentabilidade, que assenta não apenas na vertente económico-financeira, mas tem como pilares mais profundos preocupações de cariz psicológico, social, cultural e ambiental, que exigem equilíbrios por vezes morosos e difíceis de conseguir entre os diversos atores que laboram e vivem no terreno.

Cabe aqui uma palavra de grande apreço ao papel de moderação e calibragem do ímpeto reformador que o projeto Morabitur acarretava, no contexto do quadro ainda incipiente que era o dos fluxos do Turismo em Cabo Verde, exercido pelo parceiro Alfredo Rodrigues, o fundador da Praiatur, homem empreendedor mas discreto e ponderado, conhecedor dos constrangimentos da realidade local de então, cultor da velha máxima de que “água mole em pedra dura, tanto dá até que fura”… Refreando impulsos de impaciência, acreditando que devagar se vai ao longe, dando tempo ao tempo, apostámos num modo sereno e paciente de atuar no mercado, valorizando ao máximo a vertente informativa, formativa e programadora, veiculada por uma série de iniciativas estruturantes a que chamámos JORNADAS MORABITUR.

 
Alfredo Rodrigues

Tratava-se de criar um canal de reflexão desde logo a nível interno,  no seio das equipas das duas empresas fundadoras, que por um lado pusesse o dedo nas feridas dos constrangimentos que tendiam a atrapalhar o avanço das ideias e a subsequente concretização das decisões, mas por outro fosse descobrindo terapias e processos de concretização de planos, alguns deles até já gizados, mas travados por peias incapacitantes e burocracias inibidoras. Por outras palavras, uma via de disponibilização e partilha de informação, formação, tecnologias, métodos de trabalho, projeção, arrojo e decisão. 

Estávamos, no crepúsculo do século passado, em plena era do desabrochar da agilização das comunicações, o telex e o fax tinham passado sucessivamente à história, e já era possível trocar documentos extensos e complexos por email, ou estabelecer contactos por telefones pessoais fora do Escritório. Pusemos por isso em prática um programa de troca de informações e conhecimento por via eletrónica entre as empresas, ao mesmo tempo que se foi desenvolvendo uma intranet informativa-formativa entre todos os colaboradores, instalando ferramentas tecnológicas de última geração na altura, veiculando os novos procedimentos emergentes na organização das Viagens e do Turismo, acompanhando a transição dos CRS (Computer Reservation Systems) para as GDS (General Distribution Systems) e logo para viagens e pacotes “pronto-a-usar”, à disposição não só dos profissionais das viagens mas também dos clientes finais nas plataformas da net, procedimentos operativos que tornaram de caminho vetusta a antiga perícia das permilagens e do complexo manuseamento do vetusto ABC, uma forte mudança de patamares que, se é verdade que perturbou profundamente o mercado da distribuição do Turismo, ao eliminar barreiras e feudos protecionistas, teve porém o condão de forçar as agências a modernizarem-se e a procurarem soluções mais originais, maleáveis e criativas, capazes de justificar a sua própria existência e sustentabilidade na cadeia de valor do setor.

Foi neste caldo de cultura que nasceram as primeiras Jornadas Morabitur, a Primeira realizada na Praia, em 1998, que se limitou a reunir informalmente alguns responsáveis da Praiatur e da Soltrópico, ao passo que a Segunda, realizada no Sal, no Belorizonte, nos dias 9 e 10 de outubro de 1999, refletia já a soma apreciável de troca de informação no decurso daquele ano, e constituiu uma espécie de revisão da matéria dada, em que se procurou realçar a destrinça entre Turismo Interno, Emissor e Recetivo, perceber a complementaridade entre operador grossista e agente de distribuição e entre produto e serviços,  e se elencaram os diversos atores da indústria do Turismo, do transporte ao alojamento, à restauração, à animação cultural ou desportiva, aos eventos, com apresentações feitas por Alfredo Rodrigues, que dissertou sobre  gestão de frotas, e por Hélida Brito e Anacleto Soares, que explanaram as diligências necessárias à organização e venda de excursões para usufruto do produto local disponível.

As Terceiras Jornadas decorreram em S. Vicente, no Hotel Foya Branca, em 1 e 2 de abril de 2000, e revestiram já um carácter mais abrangente, com a participação ativa de algumas entidades relevantes do ainda titubeante mundo do Turismo cabo-verdiano. A abertura foi feita pela Vereadora do Turismo e Ambiente da Câmara Municipal de S. Vicente, Maria Miguel Estrela. O Delegado dos TACV no Mindelo, Idino Évora, foi orador do 1º painel, em que explicou aos participantes o importante papel do transporte aéreo num pacote turístico. Fez-se a apresentação pública da oferta de pacotes de turismo interno da Morabitur para o verão seguinte. E a representante do Promex no Barlavento, Ana Ribeiro, veio desejar sucesso aos participantes na sua missão de desenvolvimento do turismo no país. Seguindo o padrão já lançado nas anteriores, e que se manteria ao longo dos anos, a jornada concluiu-se com um périplo de visita às estruturas e atrações turísticas da ilha. 

Ana Ribeiro

Estas primeiras jornadas de S. Vicente (outras haveria) foram das que mais contribuíram para a qualificação dos serviços prestados pelas agências participantes, fruto da preparação continuada através de mensagens e contributos regulares, presenciais ou à distância, durante todo o ano. Foi nessa altura que se estabeleceu uma tabela normativa para o acolhimento dos turistas nas ilhas, delineando os passos a cumprir por cada agente em cada momento, no aeroporto de chegada, durante o transfer para os hotéis, na visita de cortesia do dia seguinte no hotel de alojamento, na oferta de excursões e outros serviços durante a estadia, no guiamento das excursões… Uma outra circular informava os contactos das agências parceiras em cada ilha, para que pudessem ser comunicadas alterações de última hora à escala seguinte, nos circuitos com várias ilhas.

Em 2000, os serviços do Grupo eram garantidos no Sal pela Morabitur (Anacleto Soares, Hélida Brito, Edna Freire e Chia Andrade); na Boa Vista pela Dunamar (Paolo Pinciroli e Francesco); no Fogo pela Ecotour (Maria de Lourdes Afonseca); no Maio pelo Hotel Marilu (Tuna, Guilhermina, Luís e Benvindo); em Santiago pela Praiatur (Alfredo Rodrigues, Marvela Rodrigues, Teresa Gomes e José Monteiro – Zezinho); em Santo Antão pela Residencial Chez Luisete (Luisete Marcelino); em S. Nicolau pela Sanitur (António Silva e Aquilino Ramos); e em S. Vicente pela Agytur (Miguel Morais, Ildo Lima e Francisca). Um verdadeiro naipe de pioneiros do turismo de circuitos em Cabo Verde…

Igualmente, foi distribuída nessas Terceiras Jornadas uma Circular a todas as agências do grupo em que se consubstanciavam regras de procedimento e se apelava a valores de natureza cultural, social e ética, desde o cultivo sustentado da qualidade à prática da morabeza, à seriedade e empenho na prestação dos serviços, à preocupação com um modo de relacionamento inclusivo, tolerante com as diferenças, e se lembravam momentos importantes de sinalização de uma presença com elevado grau de profissionalismo, desde logo com a mostragem bem patente da placa de receção na área de chegada, a verificação dos vouchers,  o encaminhamento aos autocarros, a manutenção dos expositores e dossiês informativos nos hotéis, a notificação atempada de eventuais modificações ao programa estabelecido…

Das Terceiras Jornadas saiu um conjunto de conclusões e recomendações à atenção não só dos profissionais das agências, como também dirigidas às diversas entidades da cadeia de valor do Turismo:

§  As frotas de transporte de turistas precisam de ser qualificadas, sendo considerado indispensável o ar condicionado e a caracterização dos veículos, e progressivamente a utilização de veículos dedicados, sem prejuízo de respeitar a clientela que pretenda experiências mais imersivas, em transporte público.

§  Aos acompanhantes de transfers e excursões são recomendadas as Normas de Acolhimento e Acompanhamento distribuídas nas Jornadas.

§  É urgente a formação dos guias no domínio das principais línguas e na correta transmissão de informação aos visitantes.

§  É importante a comunicação sucessiva entre os prestadores nas diversas ilhas, como forma de harmonização dos serviços nos circuitos, como transmissão de segurança e conforto aos turistas, sobretudo quando surgem alterações ao programa estabelecido, quase sempre por atrasos ou cancelamentos de voos ou travessias de barco.

§  Lidar com turistas das mais diversas procedências e culturas exige aprendizagem contínua de todos os intervenientes, através de informação e formação adequadas.

§  Importa agilizar os tempos de check-in nos aeroportos e hotéis.

§  É conveniente editar mapas de bolso de cada ilha para entrega a quem nos visita.

§  É necessário fomentar o Turismo Interno, não só para proporcionar aos nacionais e residentes o conhecimento do país, das suas populações, da sua geografia, da sua cultura e tradições, como também porque a experiência turística de uma população é a melhor e mais rápida via para acolher convenientemente quem a visita.

§  A Morabitur concluiu negociações por um lado com os TACV e por outro com hotéis em todas as ilhas, que lhe permitiram distribuir às agências um flyer com pacotes de turismo interno de fim de semana, de festividades e de concertos de verão para venda ao público, em S. Vicente (Hotel Porto Grande), Santiago (Hotel Praia Mar), Sal (Hotel Belorizonte), Boa Vista (Hotéis Dunas e Marine Club), Santo Antão (Residencial Chez Luisete), Fogo (Hotel Xaguate) e Maio (Hotel Marilú).

§  Foi lançada a Morabinews, uma newsletter mensal de suporte à articulação entre as diversas agências e operadores, à adoção progressiva de imagem, ao manuseamento das ferramentas de trabalho específicas do Turismo, à informação sobre a evolução do setor do Turismo em Cabo Verde e no mundo e à formação nas normas e nas melhores práticas recomendadas.

§  Foi encorajada a programação logo que possível de alguns destinos de outgoing, tirando partido da parceria com os TACV, sugerindo-se, para começar, as Canárias, Portugal, Senegal, S. Tomé e África do Sul. Um primeiro elan para sinalizar a importância de uma oferta, mesmo que ainda rudimentar, de pacotes de turismo emissor a partir de Cabo Verde.

As Quartas Jornadas tiveram lugar na Praia, no Hotel Trópico, de 15 a 17 de junho de 2001. O figurino estava encontrado, a Morabitur empenhou-se sempre com grande convicção e firmeza em aglutinar vontades e valências, e os trabalhos desta jornada mereceram já a atenção de um conjunto significativo de entidades, incluindo órgãos da comunicação social, que deram especial relevo ao naipe de temas apresentados e debatidos, não só por responsáveis do grupo, mas igualmente por personalidades marcantes do setor, como Conceição Monteiro, na altura Presidente da Associação de Agências de Viagens, Emanuel Almeida, Diretor Geral de Turismo, Paulo Freire, Diretor Comercial dos TACV, Conceição Melo, da TAP…

A temática apresentada e discutida em cada jornada evoluía em torno de um conjunto de temas necessariamente recorrentes de jornada para jornada, do produto à distribuição, dos fornecedores aos consumidores, da tradição às tendências de mercado, da dinâmica das empresas à necessidade de regulação, do papel do setor público à missão do setor privado, da evolução tecnológica à preservação da natureza e à ética, da formação humanista, cultural  e profissional à eficiência do trabalho, do marketing à consistência da oferta… Mas nem por isso estes eventos se tornaram repetitivos ou ineficazes, pois em cada ano a realidade da indústria do Turismo e da marcha dos acontecimentos globais em que se enquadra se foi encarregando de enriquecer e inovar conceitos, procedimentos, métodos e abordagens, e por isso partimos sempre para cada novo encontro com sede genuína de trocar ideias e experiências, e deles saímos sempre mais próximos, mais enriquecidos e mais motivados para um trabalho por que todos nos mantivemos apaixonados, como acontece sempre que o objetivo da ação é trazer felicidade, conforto e harmonia às pessoas.

As recomendações foram-se sucedendo, umas antigas e outras novas:

§  Urgência da Escola de Hotelaria e Turismo, com polos no Sal, em Santiago e em S. Vicente.

§  Incremento urgente da formação profissional, não só curricular como em ambiente laboral.

§  Classificação urgente das unidades hoteleiras.

§  Fiscalização das atividades do Turismo e coleta efetiva das respetivas taxas legisladas, que deveriam reverter para o incremento do setor do Turismo.

§  Elaboração de um Inventário de Produtos Turísticos por Concelho e por Ilha.

António M. Lobo (Patóne)


Em 15 e 16 de julho de 2002, no Hotel Odjo d’Água, um ícone da capacidade de investimento local protagonizado por um dos mais antigos e experimentados cabouqueiros do Turismo em Cabo Verde, António Manuel Lobo, ocorreram as Quintas Jornadas, nas quais o tema mais quente foi o da controvérsia que opunha ao regime “tudo incluído”, que começava a insinuar-se na ilha do Sal em alguns hotéis, a integração nos pacotes de oferta local das diversas estruturas e serviços que se iam instalando, de restauração, de animação turística e de diversas outras atividades físicas e culturais, no mar e em terra; uma diatribe que chocava no entanto com a tibieza da oferta local nessas vertentes, em quantidade e qualidade. Do rol de recomendações saídas desta jornada, sobressaiu a da criação de uma imagem institucional que sumarizasse o produto-padrão que o país pretendia promover nos mercados, o que implicava insistir na necessidade de acelerar a elaboração do Inventário de Recursos Turísticos do país. Pela primeira vez nestas jornadas ouviu-se falar também na urgência em delinear e instalar sinalética cultural e turística pela geografia das ilhas.

Numa altura em que a Boa Vista, com cerca de 3000 habitantes, era ainda servida por um pequeno aeródromo de instalações minúsculas, com voos espaçados dos Twin Otter dos TACV ou do Bombardier da Guarda Costeira, que obrigavam pessoas e bens a subirem à balança antes de embarcarem, visitar e conhecer a Ilha das Dunas em digressão turística era coisa rara, mesmo para os nacionais. Foi lá que em 28 e 29 de junho de 2003 promovemos as Sextas Jornadas Morabitur, no Hotel Marine Club. Um encontro tanto mais agradável e proveitoso quanto era para a maioria dos participantes a primeira oportunidade de conhecer esta ilha extraordinária, de grande potencial turístico ainda por explorar. A volta à ilha foi o clímax desta jornada, em que nos extasiámos com o esplendor de praias como Chave, Varandinha ou Curralinho, com as dunas monumentais do Morro de Areia ao Estoril ou ao Deserto de Viana, com as salinas e extensos areais do Curral Velho e de Ervatão, com a surpreendente lagoa de Odjo d’Mar, cruzando-nos aqui e ali com pastores quase nómadas de rebanhos de cabras dispersos, de chapéus de palha de aba larga, ou com o microcosmo agrícola de hortas cercadas de ‘tapum’ das aldeias ditas ‘do Norte’, João Galego, Fundo de Figueiras e Cabeço de Tarafes.

Em 18 e 19 de dezembro de 2004 foi pela terceira vez o Sal, a ilha onde era mais fácil na altura congregar os participantes das várias procedências, quando Espargos era ainda o único aeroporto de chegadas internacionais de aviões de médio e grande porte e também o hub de chegada e partida dos voos das ilhas, a acolher as Jornadas, desta vez as Sétimas, de novo no Hotel Belorizonte, em ambiente pré-natalício. O desenho do programa era sempre o mesmo nas suas linhas gerais: chegada e concentração no primeiro dia à tarde, trabalhos no segundo e volta à ilha no terceiro, que terminava com o regresso a casa. A participação ia-se alargando, e tivemos connosco desta vez a participar nos trabalhos o Presidente da Câmara do Sal, Jorge Figueiredo, o Diretor Geral da Unotur, Nelson Évora, o pessoal da Morabitur (Anacleto Soares, Emanuel do Rosário, Hélida Brito, Celso e Dirce), Aida Melo Mendes, da Pousada da Boa Vista, Ildo Lima da Agytur, Marx Nobre da Turambi, Alfredo Rodrigues da Praiatur, Lurdes Afonseca da Ecotur, Sónia Regateiro da Soltrópico, Carlos Henrique Santos do Leme Bedje, António Manuel Lobo do Odjo d’Água e Presidente da Assembleia Geral da Unotur, Astragilda Almeida da Air Luxor, Jacopo Cattaruza do Hotel Crioula.


Alguns dos participantes da Sétimas Jornadas MORABITUR, em dezembro de 2004

Com cobertura da TV e da Rádio Nacionais e do Jornal A Semana, foram atualizados os temas habituais de debate, com incidência no tema programado, “Potencialidades e Estrangulamentos de Cabo Verde como Destino Turístico”. Entre as conclusões e recomendações saídas destas Sétimas Jornadas, num ano especialmente marcante, com a abertura dos corredores aéreos a charters, novos aeroportos internacionais a serem construídos na Praia, em S. Vicente e na Boa Vista, aumento substancial de oferta em quartos, em quantidade e qualidade, início de operações de alguns gigantes do Turismo do centro e norte da Europa, destacam-se algumas de particular relevância e atualidade:

§  Urgência em fomentar a iniciativa privada como forma de internalizar o Turismo como atividade económica relevante para a sociedade cabo-verdiana.

§  Regozijo pela descida do IVA do Turismo para 6%.

§  Constatação de melhorias sensíveis no capítulo da segurança pública, devido a progressos nas prestações da Polícia de Ordem Pública e das Forças Armadas, chamadas a colaborar.

§  É premente a necessidade de mais e melhor formação em línguas por parte de quem lida com o Turismo, particularmente nos aeroportos, nas agências, nos hotéis e nos restaurantes.

§  Recomenda-se a criação de um Observatório do Turismo para seguimento e monitorização das forças, fraquezas, oportunidades e tendências da indústria do Turismo em Cabo Verde.

§  Sugere-se à UNOTUR a organização de Encontros Internacionais anuais ou bienais de Turismo para partilha de conhecimento e tecnologias com parceiros internacionais.

§  Insistência na diversificação temática e geográfica da oferta turística como forma de combater a sazonalidade e a concentração da oferta e do consumo de produto turístico.

Em 2005 a grande jornada foi a do Primeiro EITU (Encontro Internacional de Turismo) promovido no Mindelo pela Unotur, que anuiu à recomendação feita nesse sentido nas Jornadas de 2004.

Com a progressiva participação do Grupo em feiras de turismo internacionais foram aproveitadas algumas oportunidades para uma ou outra jornada fora do país, em geral em Lisboa. Foi o caso da Décima Segunda, à margem da BTL de 2007, de 20 a 22 de janeiro, em que foi abordada a questão relevante dos seguros de viagem, tendo a Morabitur assumido a representação em Cabo Verde da Aide Assistance, e que serviu ao Grupo de prelúdio para o Terceiro EITU, que aconteceria no Sal de 3 a 5 de outubro do mesmo ano.

Foi neste ano (2007) que as entradas de turistas em Cabo Verde passaram a barreira das trezentas mil e as dormidas em hotel se aproximaram do milhão e meio, números que mais do que duplicavam os de 2000, e que por sua vez viriam a ser duplicados em 2016, ano das últimas Jornadas, já com o designativo de Terra SAB, com quase 650 mil entradas e mais de quatro milhões de dormidas em hotelaria.

Em 2008 a Boa Vista foi o centro de todas as atenções, quando o novo aeroporto internacional, já inaugurado em 2007, mas com limitação durante o primeiro ano a voos triangulares com escala no Sal, se tornou finalmente operacional a 100% em novembro, com as principais valências instaladas, a última das quais foi a chegada de equipamento para os despejos sanitários dos aviões. O primeiro charter direto ponto-a-ponto escalou o Aeroporto Aristides Pereira no dia 8 de novembro, operado pela Soltrópico com um Airbus 310-300 da SATA, Lisboa-Boa Vista-Lisboa. Excelente oportunidade para as Jornadas Morabitur voltarem à Ilha das Dunas, desta vez com pompa e circunstância, pois o voo trazia uma fam-trip de uma centena de agentes de viagens portugueses que o operador convidara a conhecerem o destino, acompanhados de uma orquestra de câmara de 12 jovens instrumentistas de cordas (violinos, violas, violoncelos e contrabaixo), a Camerata Medina, que maravilhou os habitantes de João Galego na Praça, à tardinha, com uma rapsódia de mornas orquestrada, além de algumas obras-primas da música clássica, um concerto reposto por mais duas vezes nessa semana, primeiro em Sal Rei, à noite, na Praça de Santa Isabel, e finalmente no palco do Hotel Karamboa.

Orquestra de Câmara Camerata Medina, que marcou presença regular nos Encontros de Turismo


É interessante e instrutivo acompanhar pari passu a evolução de estruturas como esta, do Grupo Morabitur, e tentar perceber o grau de causalidade entre a capacidade de estudo, programação, socialização, motivação, execução e monitorização que um projeto consegue inocular nos seus grupos de trabalho e os resultados conseguidos. Salvo o devido respeito e consideração por outras organizações similares que nas últimas décadas foram construindo também o setor que passou a ser considerado o principal esteio da Economia de Cabo Verde, este grupo de operadores, cuja evolução foi trazendo transformações diversas, como é próprio de um organismo vivo, incluindo a criação de novas empresas de iniciativa local, como foram a Marlinvest em S. Nicolau, a Natur em Santo Antão, a Qualitur no Fogo e na Brava, a Magic Tour no Maio, a Atlantur em S. Vicente ou a Clamtour na Boa Vista, tem motivos de sobra para se orgulhar de ter estado na vanguarda da inovação, do investimento, da operacionalização do produto turístico e da oferta de emprego no setor em Cabo Verde.

Com regularidade exemplar, as vinte e quatro jornadas Morabitur foram-se sucedendo e refletiram, ano após ano, a pujança que animou o Turismo em Cabo Verde na fase do seu crescimento juvenil, até 2016, altura em que o grupo de agências decidiu formalizar uma estrutura de representação mais formal e robusta, que desde 2009 adotara a designação sugestiva de Grupo Terra SAB, sob o impulso organizativo e opercional de dois gestores notáveis, Anacleto Soares e Benoit Vilain.

 
Anacleto Soares                                                                                        Benoit Vilaain

Da Praia à Cidade Velha, ao Mindelo, a S. Filipe, a Sal Rei, a Porto Novo, a Santa Maria ou mesmo a Lisboa, as colaboradoras e os colaboradores da grupo Morabitur, mesmo quando cresceu e se formalizou transformando-se no operador Terra SAB, pelo menos uma vez por ano reuniram, conviveram e refletiram sobre os projetos em que estavam envolvidos, estabeleceram objetivos e melhoraram progressivamente as performances das suas empresas. 


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