30 - A Conectividade na Indústria do Turismo
Num tempo em que a dialética da História
parece estar a querer balancear-nos para uma curva baixa e côncava de
isolacionismo protecionista, numa opção que por natureza propende para a
exacerbação da iniquidade entre pessoas, comunidades e povos, voltando a
privilegiar a força sobre o direito, a soberba sobre a razão ou o egoísmo sobre
a partilha, numa clara regressão ao arrepio dos notáveis progressos conseguidos
em oito décadas, para não irmos mais longe, desta feita a crédito das lições
aprendidas com as chamadas “grandes guerras” do século passado, como
testemunham documentos refundacionais da sã convivência entre indivíduos e
nações (Declarações Universais de
Direitos do Homem, das Crianças e das Mulheres, da ONU, e Declaração sobre a Raça e os Preconceitos
Raciais, da UNESCO…); ou a Doutrina Social da Igreja, expressa em
encíclicas e decretos como a Gaudium et
Spes do Vaticano II ou a Laudato Si
do Papa Francisco; ou ainda Organizações globais de pacificação, desenvolvimento,
justiça e liberdade, como a Organização
das Nações Unidas, a Organização
Mundial do Comércio, a Organização
Mundial do Turismo, o Tribunal Penal
Internacional, o Tribunal
Internacional de Justiça, a Amnistia
Internacional, entre outras, o Turismo ganha foros cada vez mais
pertinentes de “indústria da paz”, continuando a promover o convívio universal
das pessoas e dos povos, fazendo-os interagir no âmago das comunidades humanas
e dos recantos da natureza, como água que persistentemente vivifica as plantas
pela raiz, transpondo barreiras e preconceitos e assegurando novas primaveras
de florescimento, novos verões de amadurecimento e novos outonos de colheita…
Paradoxalmente, esse aparente
ensimesmamento, tomando como exemplo os Estados mais populosos, com economias
mais desenvolvidas e os exércitos mais armados do mundo atual, ocorre em
paralelo com a superabundância de informação e consequente potencial de formação
científica, cívica, política, cultural ou moral de todos os cidadãos, pese
embora este manancial ser dispensado em fórmulas que chegam a ser diametralmente
opostas, quanto a métodos, sistemas de organização e filosofias adotadas, o que
em teoria significaria mesmo assim maior abertura, compreensão e partilha
com a vizinhança, próxima ou afastada, que a globalização trouxe para o pé da
porta, ou forçou mesmo os portões de entrada…
Razão para nos questionarmos seriamente
sobre o que é que terá falhado no élan
de mundialização e de inclusão que parecia desenhar-se ainda há pouco, no
limiar deste século, para que se verifique este refluxo cada vez mais nítido a caminho
de um autismo que só pode atuar como boomerang, como a história tão pendularmente
demonstrou durante séculos.
Neste cenário, aos pequenos países, de
pouca população e parca riqueza natural, como é o nosso caso em Cabo Verde,
importa sopesar com sabedoria, sem precipitações mas com diligência, assente em
apurada prudência, servida por uma análise madura dos diversos contextos em
presença, qual o papel que mais se adequa ao nosso desempenho num universo em
reordenamento, em que se entrecruzam interesses atomizados, por um lado, mas
também todo um reescalonamento de valores e oportunidades em reavaliação, por
outro.
Ora, se até há pouco as razões que tínhamos
para nos entusiasmarmos com o desenvolvimento do país minguavam, por o nosso
território não dispor de riqueza mineral ou vegetal significativa, a sua
geografia ser espartilhada em ilhas e ilhéus, o seu clima ser periodicamente
fustigado por estiagens e ter o mar como barreira difícil de transpor,
subitamente, nas últimas décadas, como que por magia, o que era penúria,
desconexão e isolamento passou a poder ser olhado de outra forma, graças às mais
recentes descobertas de tecnologias de informação e comunicação e à
estruturação e desenvolvimento progressivo de uma rede moderna de transportes e
comunicações; de facto, a carestia de tesouros naturais compele-nos a
redirecionar os nossos esforços e ambições com mais centralidade nas pessoas, a
nossa riqueza mais sólida e mais marcante, desde compatriotas a cooperantes e
visitantes; a diversidade das ilhas passou a ser encarada como mais-valia
paisagística; fizeram-se barragens para trazer água, verdura e alimento ao
menos aos nossos vales; melhorou-se a acessibilidade rodoviária; e o mar
revela-se no horizonte como o mais forte chamariz, vencido por ligações aéreas, valorizado por
um conjunto de oportunidades de negócio e lazer à superfície, por conexões
submarinas em fibra óptica e descobre-se como fonte de riquezas escondidas a
serem exploradas nas suas águas; ao mesmo tempo que ondas hertzianas e
satélites de comunicações cruzando os ares reduzem tempo e eliminam distâncias…
É por isso tempo de, pulando sobre a
fogueira ardida de problemas e desventuras, passados ou presentes, mais propensos a
alimentar desavenças do que a gerar riqueza e felicidade, em lugar de nos
autoflagelarmos com a face mais negra da história, tecermos loas aos
verdadeiros heróis que ao longo dos séculos da nossa existência como nação foram
desbravando limites e resolvendo problemas globais que também eram os nossos, em
particular os que nos ditavam isolamento: com a imprensa no século XV; com os
jornais e editais no século XVI; com a computação, o telégrafo, o telefone, a rádio,
no século XIX; com a televisão, a informática, os satélites, a fibra óptica, a
telecópia, a internet, o telefone celular, a rede web no século
XX. Um conjunto de tecnologias que, interligadas pela internet das coisas
e programadas por algoritmos de inteligência
artificial, potenciam no século XXI uma aproximação tal entre Nações e
Estados, no que respeita a conhecimento, ciência, cultura, tecnologia e
organização política, que nos colocam ao alcance metas de desempenho e
eficiência num patamar de sabedoria amadurecida, antes privilégio de poucos, mas que nada impede que nós também atinjamos níveis elevados, assim adotemos atitudes, métodos e ambição em conformidade.
Pressupondo que tenhamos a capacidade e a
vontade de assumirmos, individual e coletivamente, atitudes e empenho em linha
com objetivos definidos e níveis de conhecimento compatíveis, há uma vertente
metodológica particularmente determinante para sermos bem sucedidos no
aproveitamento das oportunidades que se nos deparam: estamos a falar de conectividade.
Vale mesmo a pena debruçarmo-nos sobre
este vetor medular do desenvolvimento, que a tecnologia define como conjunto
sincronizado de conexões de dispositivos, sistemas, ambientes e dados, e que
podemos legitimamente extrapolar para os diversos campos do pensamento, do
planeamento e da atividade humanas, em geral numa via de transição de dispositivos acanhados
e restritos para equipamentos com sensores apurados e abrangência de banda
larga, a velocidades e graus de fiabilidade que têm vindo a multiplicar-se,
sendo expectável que a tecnologia 6G, no horizonte 2030, atinja a velocidade de
9,6 Gbps; substituição de sistemas circunscritos por outros de escala tendencialmente
universal, integrados, transparentes e ágeis; migração de ambientes equívocos, corrompidos e
inseguros para modelos de comunicação e operação indexados a valores firmados; passagem
de dados redundantes, opacos ou viciados para informação desambiguada,
transparente e escrutinada.
Alicerçados em séculos de refinamento do
pensamento filosófico, que por sua vez colocou questões que deram abertura ao
pensamento científico e ao florescimento cultural e social, já não é aceitável
que não sejamos, enquanto comunidade, capazes de assentar o nosso planeamento e
a nossa atuação em soluções mais dinâmicas e evoluídas que as que ainda prevalecem
na praxis da nossa organização social, económica, ambiental e política,
tantas vezes lenta e burocrática a apreender e a acompanhar a evolução das melhores
práticas. As soluções estão apontadas, há sábios em diversos quadrantes, quer geográficos
quer étnicos, quer ideológicos, a mostrar novos horizontes, mais humanistas, mais
equitativos, mais participativos, mais realistas e mais ricos, com mais
segurança, física, lógica, ativa e passiva.
Aplicável a qualquer das facetas da atividade humana e não só, seja a económica, a social, a ambiental, a técnica, a comunicacional, a cultural, a securitária, a sanitária, a jurídica, a física, a mental, a emocional ou a política, a conectividade relaciona, produz, soma, apazigua, racionaliza, faz progredir, quer considerada na verticalidade da organização hierárquica das instituições, das empresas ou mesmo das famílias, quer na horizontalidade dos direitos, dos deveres, da equidade, das leis e tradições, da justiça das pessoas, animais e natureza, e é talvez dela que pode vir a emergir o almejado 'algoritmo-mestre' da harmonia universal que logrará neutralizar os flagelos que ainda inquinam a sã convivência humana, da guerra, da ignorância, da alienação, do parasitismo, abrindo enfim caminhos a paraísos que não nos cansamos de imaginar mas que tardam a materializar-se...
Sendo o TURISMO um ramo da atividade
humana que interage com todo este poliedro, não deixando nenhuma das suas componentes
de fora, é relevante, neste contexto de uma tentativa de análise do turbilhão
de interconexões por que se rege a multifacetada atividade de uma sociedade,
composta por indivíduos já de si complexos,
e inserida num universo de outras sociedades ao mesmo tempo estranhas e fatalmente
interligadas, começarmos por mapear o modelo de organização desta indústria em
Cabo Verde, partindo de uma visão panorâmica para o detalhe, para podermos prosseguir com a tentativa de chegarmos a algumas conclusões programáticas, aplicando o
modelo científico de lançarmos algumas hipóteses, naturalmente sujeitas ao
escrutínio da comparação com realidades e conceitos já conhecidos e
escrutinados que validem as subsequentes escolhas.
Vejamos então, valendo-nos da infografia a seguir, quais os atores que se movem no palco do nosso Turismo.
1. Sem prejuízo da bondade de soluções anteriores, em particular as que foram projetadas no Plano Estratégico para o desenvolvimento Turístico de Cabo Verde 2010-2013 do Sétimo Governo Constitucional, o Governo da Nona Legislatura criou, em 2017, o Ministério do Turismo e Transportes (MTT), conservando na sua estrutura a Direção Geral de Turismo e Transportes (DGTT). Mais recentemente, foram criados o Conselho Nacional de Turismo (CNT), órgão consultivo de apoio ao MTT, e o Instituto de Turismo I.P. surge por último em 2019 para “melhorar a coordenação e implementação de políticas públicas para o desenvolvimento sustentável do turismo no país e, desta forma, redinamizar o setor turístico, através de uma estrutura com capacidade de congregar todos os organismos da administração pública implicados na matéria, favorecer o relacionamento com os agentes económicos e criar um ambiente facilitador de parcerias e de diálogo institucional permanentes com o setor privado”2. A Câmara de Turismo de Cabo Verde (CTCV), nascida da União Nacional dos Operadores Turísticos (UNOTUR) decidiu transformar-se na Federação das Associações de Turismo de Cabo Verde (FATCV), tornando-se assim largamente representativa do setor privado da indústria do Turismo no país e, por isso, um interlocutor privilegiado da tutela (Governo) e das estruturas de governo regional e local.
3. A Direção Nacional da Administração Pública (DNAP) desempenha um papel de charneira na articulação entre as diversas entidades do poder central, as quais, em complementaridade, têm papéis importantes a desempenhar no Turismo.
4. As Câmaras Municipais, individualmente ou por atuação da Associação Nacional de Municípios (ANM), sendo poder local, estão no cerne de todas as questões do Turismo, desde logo porque os turistas usufruem quer da natureza dos seus territórios, quer dos seus serviços, quer do seu ordenamento urbano, rural e das orlas marítimas, quer das suas posturas, dependendo dos municípios em grande parte a qualidade da segurança nas suas diversas vertentes, bem como a acessibilidade aos recursos turísticos, identificados em Inventários em 2015, aspetos estes que condicionam em grande parte quer a emergência do produto turístico, em especial o que se radica na história, na cultura e na natureza, quer a capacitação dos operadores turísticos, com destaque para o respetivo setor da distribuição, para o divulgarem e comercializarem junto dos operadores dos mercados de origem dos turistas, quer os que promovem charters ou voos low cost, quer os que organizam cruzeiros, quer os que se especializam em ciência e tecnologia, investigação, arte, cultura, quer ainda os setores mais cirúrgicos mas não menos interessantes, como os da pesca desportiva, mergulho, surf, windsurf, kitesurf, desportos na praia, na montanha e outros…
5. A Cabo Verde Trade Invest (CVTI), que absorveu a ADEI (Agência para o Desenvolvimento Empresarial e Inovação) e que já tinha absorvido o IADE (Instituto de Apoio ao Desenvolvimento Empresarial), é também uma parceria incontornável para os players do Turismo, pois inclui nos seus propósitos atrair Investimento Direto Estrangeiro à indústria do Turismo de Cabo Verde e disponibilizar nos seus balcões uma valência de empreendedorismo.
6. O Núcleo Operacional para a Sociedade de Informação (NOSI) é uma EPE (Entidade Pública Empresarial) que garante aos servidores públicos acesso à Rede Tecnológica Privativa do Estado (RTPE), que lhes disponibiliza internet e correio eletrónico, e constrói numerosas aplicações de gestão administrativa e de e-government, mas também presta serviços eletrónicos de última geração aos cidadãos e empresas, designadamente através da Casa do Cidadão. Mais um parceiro incontornável na plataforma do Turismo, portanto.
7. A Casa do Cidadão é outro parceiro de grande valia na plataforma do Turismo, e será uma das estruturas de maior proximidade com os cidadãos, tanto nacionais como turistas e investidores estrangeiros, quando uns e outros necessitem de se dirigir aos seus balcões, que foram concebidos para agilizar ao máximo a burocracia sem comprometer a segurança e as boas práticas.
8. A Unidade de Coordenação da Reforma do Estado (UCRE) desempenhou até 2016 um papel importante na reforma da Administração Pública, reformando, melhorando e modernizando, foi igualmente uma força de renovação e desenvolvimento do Turismo, pois promoveu a Segurança Nacional, a Justiça, a Regulação e Fiscalização, o fomento da Atividade Económica, a Proteção Social, tudo pilares em que assenta a qualidade da oferta turística. Foi substituída pela Direção Geral de Modernização Administrativa (DGMA), com a missão de agilizar o ambiente de negócios em Cabo Verde.
9. Ao IGAE (Inspeção Geral das Atividades Económicas) cabe também um papel relevante na fiscalização da atividade económica, cujo regular funcionamento é de crucial importância para um Turismo de qualidade.
10. O Instituto de Gestão da Qualidade e da Propriedade Intelectual (IGQPI), com quem a CTCV celebrou desde 2016 um protocolo de cooperação, é a organização que tem por missão garantir a implantação e monitorização de processos de qualidade em Cabo Verde. Como é sabido, o Turismo (hotelaria, transportes, restauração, animação turística, organização de eventos…) é um dos setores mais exigentes em matéria de standards de qualidade, a qual só atinge níveis sólidos e estáveis quando se torna preocupação a todos os níveis, e do ponto de vista do turista tem de estar presente em todos os bens e serviços de consumo, públicos, naturais e privados, incluindo os ambientais, desde o aeroporto ou porto de chegada até à partida…
11. As Câmaras de Comércio são igualmente atores de grande relevância para o Turismo, pelo papel de dinamização que desempenham junto das empresas, incluindo as que direta ou indiretamente se dedicam às atividades da indústria do Turismo, até porque se encontram e se articulam no Conselho Superior das Câmaras de Comércio (CSCC), devendo no seu conjunto trabalhar e harmonizar os diversos campos da Economia, do Comércio à Indústria, da Agricultura aos Serviços e ao Turismo, passando pela atividade sindical e pela concertação social.
12. Estão também na mira as Sociedades de Desenvolvimento Regional, existindo a experiência já madura da Sociedade de Desenvolvimento Turístico das Ilhas da Boa Vista e Maio (SDTIBM) e perfilando-se a ideia de sociedades da mesma natureza (gestão regional e mesmo local do desenvolvimento) em diversos pontos do país, como na região norte, na Praia, na Cidade Velha, etc.. É um debate que a nível político surfa a onda da regionalização, um assunto a ser aprofundado pela sociedade civil. A SDTIBM está empenhada em todos os dossiês estruturantes e fraturantes das ilhas da Boa Vista e Maio, e os seus estatutos conferem-lhe meios que escasseiam no próprio Governo. Parece óbvio que urge uma articulação virtuosa entre todos, exatamente na filosofia subjacente à infografia em análise, de complementaridade, sinergias, economias de escala, neutralização de custos de contexto, em suma, de harmonização e concretização…
13. As Organizações Não Governamentais (ONG), sendo sociedades sem fins lucrativos, têm acesso a fundos de cariz desenvolvimentista e social que são complementares à Banca e à Bolsa, entre outros, e dos quais há a esperar um papel de compensação das carências públicas e privadas. Seria sobremaneira interessante que a respetiva Plataforma conseguisse identificar cada vez mais e melhor quais as áreas em que a sua ação pudesse encontrar efeitos multiplicadores na eliminação das carências da Economia e da Sociedade e fazer brotar um empreendedorismo e uma criatividade fecundadoras do mundo novo que Cabo Verde está em condições de ser.
14. A Diáspora, a tão propalada 11ª ilha de Cabo Verde, detém uma parte significativa mas pouco identificada e ainda menos explorada da maior preciosidade de uma nação: as pessoas. Com o atrativo de nela se encontrarem numeroso(a)s cidadãos/cidadãs com conhecimento, experiência e recursos por vezes acima da média nacional (é um primeiro passo importante começar por identificar, reconhecer, aceitar e potenciar estas valências). Numa plataforma em que pretendemos agregar um máximo de hipóteses de sucesso em rede, os Clubes de Embaixadores, um movimento conhecido através do mundo em especial em países diasporizados, mas incipiente em Cabo Verde, são potenciais construtores de pontes sólidas entre as comunidades residentes e as comunidades emigradas.
15. As Fundações, à semelhança das ONG, são organizações de captação de estrutura e financiamento capazes de alavancar projetos de grande importância para o país. E o Turismo é sem dúvida o grande projeto da atualidade para Cabo Verde.
16. As Instituições Financeiras (Banca, Bolsa e outras) desempenham o papel vital de viabilizadoras de todos os projetos, que nada são se não lhes é garantida sustentabilidade na cobertura ajustada dos custos que acarretam. O Fundo de Sustentabilidade Social para o Turismo (FSST), instituído em 2013, alimentado por uma taxa sobre as pernoitas nos alojamentos, tornou-se uma importante fonte de receita, alegadamente para fomentar atividades e projetos ligados ao setor a partir do financiamento de ações de desenvolvimento e manutenção de serviços ligados ao bem-estar dos moradores e turistas.
17. Finalmente, como ponto de órgão desta Plataforma do Turismo de Cabo Verde, a UNIVERSIDADE. No 7º EITU (Encontro Internacional de Turismo da Unotur/CTCV), em dezembro de 2016, foi lançada a ideia da montagem de uma Cátedra do Turismo, e desde logo surgiu um desafio ambicioso para essa estrutura: INVESTIGAR, RESGATAR, RESSIGNIFICAR, RECICLAR, FORMAR. Todo um programa de conectividade na sua base pedagógica, a dispensar comentários e a apelar à ação… A Escola de Hotelaria e Turismo de Cabo Verde (EHTCV), estabelecida na Praia ao abrigo de uma cooperação do Luxemburgo em 2011, tem vindo a tornar-se um polo importante de formação da juventude cabo-verdiana em várias áreas do Turismo, preenchendo paulatinamente uma lacuna no deficit de mão de obra qualificada no setor. Outras iniciativas de investigação e qualificação serão bem vindas, sempre e quando construam elos de majoração e ligação dos patamares em que se desenvolve o Turismo…
18. Não me alongarei em considerações sobre a esfera privada (o chamado trade) desta Plataforma, porque é óbvia a sua função em todo o contexto do Turismo, sendo que nela a dinâmica de desenvolvimento e modernização é vital, sob pena de as empresas que não vingam serem simplesmente ejetadas da cadeia de valor da indústria, por força da pressão inexorável da oferta e da procura, inerente à natureza mesma da economia liberal vigente, regulada entretanto pela lei e pelas instituições democráticas. Fica porém uma nota importante: as agências de viagens e todos os operadores do Turismo (hotéis, companhias aéreas, restaurantes, transportistas, empresas de animação turística, empresas de eventos, agendas de guias turísticos, etc.) precisam de intensificar o seu associativismo, quer agrupando-se por setores, quer acolhendo-se a associações regionais, pois por natureza a melhor maneira de defender os próprios interesses é lutar por eles nas instituições próprias… Para o bem próprio, e para o justo equilíbrio do conjunto… Mas sobretudo para discutirem e partilharem ideias e ferramentas de melhoria. Porque a conectividade em complementaridade de valências e de interesses das empresas é o melhor garante do seu sucesso, tanto individualmente como na globalidade do setor.
19. A Comunicação Social, tal como o Turismo, desempenha um papel transversal a toda a atividade, quer seja política, económica, social, cultural… Como tal, cabe-lhe ser a antena que tudo vê, tudo ouve, tudo anota e tudo faz saber, para usufruto, monitorização e intervenção de toda a sociedade civil em toda a vida da Nação, pelo que, em sintonia com o epíteto com que é caracterizada, de “quarto poder”, desempenha um papel insubstituível na articulação, escrutínio e interação que se desejam entre todos os atores da plataforma do Turismo.
20. Impõe‑se ainda uma palavra final sobre esta infografia. Ela tem que ver com a chamada de atenção para a ECONOMIA DIGITAL. Para sublinhar quão fundamental é para todos os parceiros de negócio, de governação ou de socialização, termos em conta a necessidade incontornável de nos mantermos ligados pelo caldo de cultura tecnológico, na comunicação, na atualização do nosso conhecimento, nas ferramentas de gestão, numa era em que já não é imaginável atuarmos por fora de sistemas de Qualidade, ou seja, de planeamento, ação, monitorização e avaliação, e em que se torna praticamente impossível chegar a objetivos mantendose o isolamento do “orgulhosamente sós”, quando até as próprias coisas já comunicam entre si e os sistemas isolados e vetustos de gestão e computação deram lugar à rapidez e discernimento da Inteligência Artificial e passaram a armazenar dados em Centros seguros e acessíveis, na denominada “nuvem”, virtualmente partilhável pelos mais diversos atores da sociedade, da economia e da cultura, uma via coincidentemente incontornável e ao mesmo tempo virtuosa de confluência na economia de meios, velocidade de frutificação, contenção de custos e majoração de proveitos…
Eis um retrato rápido dos meandros em que a conectividade é chamada a operar no ordenamento turístico que Cabo Verde adotou, no qual deverá eliminar gorduras e redundâncias, aproximar e somar esforços, implantar e monitorizar tecnologias, remover barreiras de atavismo, ou mesmo queimar etapas tornadas inúteis ou obsoletas pelos avanços da ciência, da tecnologia, da sociologia, da metodologia, da política, condições sine qua non se queremos, como parece razoável e plausível, chegarmo-nos ao pelotão da frente do desenvolvimento, humano, económico, cultural e ambiental que sustentem uma oferta turística abrangente e de qualidade.
Não é de crer que a atual vaga de
isolacionismo pretensamente nativista e protecionista vingue por muito tempo, simplesmente
porque é reducionista, retrógrada, e por isso fatalmente autofágica. Ganhará
mais quem for capaz de apostar em políticas de contraciclo, e se prepare para a
próxima onda de multilateralismo e globalização, essa sim condizente com os avanços
da tecnologia, da ciência, da filosofia, da psicologia, da justiça e da ética…
Em 2016 a ONU lançou um programa portador
de abertura e esperança, sob a designação de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS), em 17 pontos que contêm todas as vertentes do que deverá ser a
progressão da qualidade de vida humana no horizonte 2030, numa trama de
conectividade que não deixa nenhuma sociedade e nenhuma pessoa de fora do radar
da dignidade e do bem estar, ao visar a erradicação da pobreza, da fome, da
doença, da ignorância, da desigualdade, da guerra, e ao promover o acesso generalizado
ao crescimento, à inovação, à inclusão, à habitação, à segurança, à cultura, à
fruição da natureza… Dir-se-á que, passados 7 anos, as metas projetadas parecem
cada vez mais longínquas. Mas convém não esquecer o velho princípio que nos
lembra que ‘a Natureza não dá saltos’, ao mesmo tempo que importa perceber que
nos cabe modulá-la para que não se percam os esforços de planeamento e de
construção de um futuro progressivamente melhor para toda a gente. E isso passa
por adquirirmos, pessoas e instituições, capacidade de perscrutar sinais do que
aí vem, não tanto a curto prazo, mas mais para além, e percebermos a
importância de apostarmos em somar e multiplicar, mais que dividir e subtrair, fazendo
jus àquela outra máxima, que nos lembra que ‘a União faz a Força’…
Na complexa encruzilhada de opções que se
nos apresentam, só juntos e coordenados seremos bem sucedidos…
Comentários
Enviar um comentário