Os EITU

 

“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce,
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse”…

O enorme poeta que foi Fernando Pessoa apesar da brevidade dos anos que viveu, e cuja produção literária é (também) herança dos cabo-verdianos de hoje, lança assim o poema “Infante”, um dos 44 da “Mensagem”, uma obra publicada em 1934, um ano antes da sua morte, aos 47 anos, e a dois anos de Manuel Lopes, Baltazar Lopes da Silva e Jorge Barbosa lançarem em Cabo Verde o Movimento da Claridade, outro ciclo notável de vitalidade da literatura em língua portuguesa...

Não deixa de ser sintomático que no mesmo poema o talentoso e premonitório escritor dê por encerradas, ante factum, veleidades antigas de impérios condenados a serem desfeitos e postule que se cumpram os desígnios genuínos da nação, por um lado reconvertida à sua expressão geográfica e cultural, ainda carente de aprofundamento e de afirmação, mas ao mesmo tempo encontrando outra amplitude, global, abrangente e criativa, traduzida em nova afirmação, plena de sentido universalizante, desta vez no “Livro do Desassossego”, uma recolha que viria a ser publicada pela primeira vez em 1961: “a minha Pátria é a língua portuguesa” ...

E o roteiro dessa restauração está todo no primeiro verso: Deus quer, o homem sonha, a obra nasce... Presumindo que Deus quer sempre o melhor dos mundos para o mundo, resulta que a união, o desenvolvimento e a felicidade emergem em primeira instância dos nossos sonhos, como antecâmara impulsionadora do projeto, seguido de ação.

Pareceu-me apropriado recorrer a este introito com estas frases geniais de Fernando Pessoa, a propósito de um lamento que aflora com recorrência em desabafos, privados ou públicos, de quem se envolve em planos de organização e de concretização de estudos, de debates, de conferências, de workshops, de powerpoints, em suma, em tarefas de programação visando à partida o desenho de um futuro virtualmente melhor para as pessoas e para as nações, mas se depara com o malogro de um grau de concretização residual ou até nulo, a denunciar uma cultura de procrastinação em círculo vicioso, numa agenda mais de proclamação que de materialização, uma espécie de máquina trituradora de discurso e papel, alimentada por uma boa dose de impermeabilidade entre as individualidades e as equipas que se sucedem nos cargos operacionais, com pouca disponibilidade para retomar e estudar dossiês, tantas vezes condenados à obnubilação em gavetas, estantes, computadores, ou, como soe dizer-se na gíria virtual das tribos tecnológicas pós-modernas, não sem que até tenha laivos de adesão ao real, na nuvem

À semelhança de outras matérias, o Turismo conheceu em Cabo Verde vagas sucessivas de eventos em que se procuraram caminhos para fazer andar a Economia, a Política, a Sociedade. Uma dessas vagas foi, entre 2005 e 2016, a dos Encontros Internacionais de Turismo, que ficaram mais conhecidos pelo respetivo acrónimo, EITU, lançados e organizados pela União Nacional dos Operadores Turísticos (Unotur), fundada em setembro de 2002, convertida anos mais tarde em Câmara de Turismo.

O Primeiro Encontro Internacional de Turismo da Unotur, que decorreu no Mindelo de 16 a 19 de junho de 2005, foi uma joint venture com o Segundo Encontro Intermunicipal de Turismo, e marcou o timbre do que seriam os restantes da série, agregando todos os atores da indústria na procura de conhecimento e ação, dando deste modo sinal de que a cooperação entre os diversos setores da sociedade é o caminho certo da metodologia na busca de soluções para os seus desafios, e de que existe vitalidade cívica para além dos centros geográficos habituais de organização de eventos importantes, tendencialmente afunilados para Santa Maria, devido à acessibilidade ligada ao aeroporto de Espargos, ou para a Praia, por ser a Capital do País. Sobre este importante evento em particular ficou já nota em outro artigo dos Contos das Ilhas[1].

II EITU - Gualberto do Rosário, Felisberto Vieira, João Duarte e Victor Fidalgo

O II EITU teve lugar em Santa Maria de 18 a 20 de outubro de 2006, no Hotel Belorizonte, depois de ter ocorrido na Unotur a eleição de novos corpos sociais, com António Manuel Lobo na Presidência da Assembleia e António Gualberto do Rosário Almada a assumir a Presidência do Conselho Diretivo. Contou com a presença do então Ministro da Economia, Crescimento e Competitividade, João Pereira Silva; com o Presidente da Associação Nacional de Municípios (ANMCV), Américo Silva; com o Presidente da Câmara do Sal, Jorge Figueiredo; com a Diretora Geral do Desenvolvimento Turístico (DGDT), Filomena Ribeiro; com o Presidente da Cabo Verde Investimentos (CI), Víctor Fidalgo; e com um Representante da Organização Mundial de Turismo (OMT), Hélder Tomás, entre diversas outras personalidades de relevo na vida política, económica, artística, académica e social do país, numa demonstração clara do dinamismo da Unotur, em sintonia com o vigor da afirmação do setor como motor central no desenvolvimento do país.

Com 7 painéis, os temas abordados e discutidos foram (i)”A Construção da Oferta Turística em Cabo Verde”, apresentado por José Luís Sá Nogueira, Direto Geral da Oásis Atlântico no Brasil; (ii)”Perfil do Turistra do Século XXI”, apresentado por Armando Ferreira, Diretor de Promoção da Unotur; (iii)”Acessibilidades à Oferta Turística em Cabo Verde”, apresentado por Jorge Spencer Lima, Presidente do Conselho de Administração da Halcyon Air; (iv)”Oportunidades Colaterais”, apresentado por Tom Sheehy, da Cape Verde Development; (v)”Promoção e Marketing do Destino Cabo Verde”, apresentado por Roger Carter, Consultor em Branding; (vi)”Alicerces Estruturais de Sustentabilidade no Turismo de Cabo Verde”, apresentado por Sara Lopes, Ministra Adjunta do Primeiro Ministro, e da Qualificação e Emprego; (vii)”Cooperação Público-Privada – Oportunidades para o Turismo”, apresentado por Hélder Tomás, Assistente Sénior da Administração Regional da Organização Mundial do Turismo (OMT) em África.

Equipa da Organização e alguns dos conferencistas do II EITU

Moderaram os diversos debates as jornalistas Rosana Almeida e Arminda Barros, e o jornalista português David Borges, e presidiram às diversas mesas João Pereira Silva, Ministro da Economia, Crescimento e Competitividade; Jorge Figueiredo, Presidente da Câmara do Sal; Orlando Mascarenhas, Presidente da Câmara de Comércio de Sotavento; Víctor Fidalgo, Presidente da Cabo Verde Investimentos (CI); Mário Paixão, Presidente da ASA (Aeroportos e Segurança Aérea). E os debates foram lançados por José Pedro Oliveira, do Hotel Pedracin; Alcides Graça, Administrador e Docente do Instituto de Estudos Superiores  Isidoro da Graça (IESIG); Olavo Correia, ex-Governador do Banco de Cabo Verde e Administrador da Tecnicil; Filomeno Monteiro, ex-Secretário de Estado, Deputado, e Administrador da Editur; Linda Pereira, CEO da CPL Events; e José Almada, Empresário.

Ao festejar o 5º aniversário, a UNOTUR apresentou-se como crisálida prestes a levantar voo com uma nova personalidade, conferida pelo novo estatuto camarário, ainda com a designação híbrida de UNOTUR – Câmara de Turismo de Cabo Verde. Uma aposta ambiciosa do novo Presidente, Gualberto do Rosário, amadurecida e conseguida com aprumo e rapidez. O III EITU, que se desenrolou de 3 a 5 de outubro de 2007 em Santa Maria, no Hotel Crioula, com a presença de mais de duzentos delegados que afluíram de todas as ilhas e da diáspora, foi uma espécie de consagração-oficialização da nova natureza da Unotur, corporizada na sessão de abertura solene, presidida pelo Presidente Pedro Pires, com a interpretação do Hino Nacional protocolar acompanhada em polifonia pela orquestra convidada Camerata Medina, num clima que gerou especial emoção pelo grau de exigência qualitativa que surpreendeu e sensibilizou quem esteve presente.

Sessão de abertura do III EITU: José Brito, Pedro Pires, Gualberto do Rosário, Américo Silva
Os temas do III EITU distribuíram-se por seis painéis: (i)”Turismo em Espaço Rural em Cabo Verde”, apresentado por João Pombo, ex-Presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo e Administrador da Herdade do Meio no Alentejo; (ii)”Turismo e Sustentabilidade – Regulamentação, Fiscalidade, Código de Conduta Ambiental e seus destinatários”, uma dupla exposição por Olavo Correia, Administrador da Tecnicil, e por José Brito, Ministro da Economia, Crescimento e Competitividade; (iii)”Sal, Cluster Turístico em Cabo Verde”, por Jorge Figueiredo, Presidente da Câmara do Sal; (iv)”Imobiliária Turística e Arquitetura em Cabo Verde”, apresentado por Luís Carvalho, Arquiteto; (v)”Que Imagem de Cabo Verde?”, apresentado por Carlos Coelho, Presidente da Empresa de Design ‘Ivity Brand’; (vi)”Tendências de Mercado do Turismo Internacional e Recursos Humanos Compatíveis”, apresentado por Linda Pereira, Presidente da Empresa de Organização de Eventos ‘CPL Events’.

O III EITU foi o mais participado de todos.

Foram moderadores os jornalistas David Borges, Margarida Fontes, José Leite, Arminda Barros, Fernando Carrilho e Daniel Medina.

Acoplada ao III EITU foi lançada a Primeira Feira Internacional de Turismo de Cabo Verde, com a designação de Atlantic Travel Fair. Pretendia-se replicar no país um polo de atração de agentes do Turismo e de atividades relacionadas, à semelhança dos que pelo mundo atraem anualmente fornecedores e compradores de produto turístico a cidades e países que pretendem promover-se como destinos turísticos. No caso pendente, da Ilha do Sal, uma forma de proporcionar oportunidades de negócio em complemento e como corolário dos estudos, reflexões e debates abordados nos EITU. Feitas as diligências adequadas, verificou-se uma adesão de tal modo entusiasta que colocou desafios inesperados à Organização, em especial logísticos, a começar pelos stands, adrede comprados num hipermercado de Lisboa, por não se encontrarem no Sal em número suficiente, despachados num voo para o Sal e logo retidos na Alfândega de Espargos, de onde foram levantados in extremis, graças aos bons ofícios e à proficiência de Anacleto Soares, da Morabitur. O ‘venue’ do evento, Hotel Crioula, dispunha de um amplo terraço, que servia de espaço de animação, com bar no extremo oeste e palco no topo leste, e o máximo que se podia acomodar ali eram 20 stands, incluindo na varanda, os quais foram ocupados por 18 empresas e organizações: a ASA (Aeroportos e Segurança); a GDP (Gabinete de Desenvolvimento de Projetos e de Gestão de Participações Empresariais); Armando Cunha (Construção Civil); CESE (Estudos e Consultoria); AMB&TUR (Promoção Turística e Imobiliária); FM Cabo Verde (Imobiliária Turística); Contacto Virtual (Design de Comunicação); BCA (Banco); PriceWaterhouseCoopers (Auditoria); Soltrópico (Operador Turístico); TAAG (Transporte Aéreo): Sermaq (Equipamentos Industriais); Morabitur (Operador Turístico); Câmara Municipal do Sal; ENAPOR (Administração Portuária); e CPL Events (Organização de Eventos). Se a designação ATF não logrou impor-se nos anos subsequentes, a ideia vingou, já com patrocínio público e sob a designação de Expotur.

Uma das Empresas expositoras

Em consonância com os temas abordados e debatidos nos dois dias do Encontro, as conclusões e recomendações lidas na sessão de encerramento em seis pontos sublinharam a necessidade de diversificação da oferta turística, a ser conseguida com o incremento de vertentes como a do turismo rural e de natureza, sem prejuízo de melhorar as condições de fruição do sol e do mar, nas praias e marinas; do turismo de negócios; de uma imobiliária turística que tenha em conta aspetos da arquitetura tradicional do país, com inclusão de materiais das ilhas; de uma oferta cultural que inclua e exponha a especificidade das raízes e da herança identitária cabo-verdianas. Foi dado especial relevo à urgência de ser criada uma “marca Cabo Verde”, que o designer Carlos Coelho alvitrou, na sua intervenção, como podendo transmitir a ideia expressiva de “terra de morna, com fogo no coração, e alma de sol e sal”… Apelou-se ainda à emergência de uma reforma fiscal que conferisse maior competitividade ao Turismo de Cabo Verde comparativamente com destinos concorrentes que lograram tornar-se mais atrativos por essa via, bem como à necessidade de regulação, regulamentação, desburocratização e celeridade nos procedimentos de licenciamentos turísticos  e subsequente fiscalização. Foi também, entre outros assuntos, destacada a importância de garantir, aos turistas e à população em geral, apoio médico-hospitalar adequado.

Grupo de animação musical do jantar de gala
O III EITU culminou num jantar de gala no Morabeza, de um requinte a condizer com o alto nível das respetivas organizadoras, Linda Pereira e Geneviève Vynckier, que incluiu, para além de um opíparo banquete, animação musical e desfile de moda.

Linda Pereira e Geneviève Vynckier

Apesar de temos avançado com a preparação do IV EITU, reservando datas (26 a 29 de novembro de 2008), mantendo o venue no Hotel Crioula mas deslocando a Feira de Turismo para o Mercado Novo na Cidade de Santa Maria, definindo como temas centrais (i)“A Sustentabilidade da Indústria e dos Serviços do Turismo em Cabo Verde”; (ii)”Ordenamento do Território – Papel das Autoridades Locais na Divulgação”; (iii)”Implicação dos Quadros da Diáspora Cabo-Verdiana no Turismo de Cabo Verde”, tivemos que optar pelo cancelamento a duas semanas das datas, devido a um surto de dengue que atingiu Cabo Verde no outono/inverno 2008/2009.

Tal como acontece aos atletas que treinam nas cidades, ao terem que interromper o ritmo da corrida devido a um sinal vermelho numa passadeira, a retoma do ritmo anual dos EITU foi interrompida, e o V EITU só chegou em 2012, de resto inserido numa iniciativa mais vasta da Câmara de Turismo, o Sal Meeting Point, de 18 a 26 de outubro, em que os temas abordados foram configurados em ateliês, e versaram desde o regime jurídico de instalação, exploração e funcionamento dos empreendimentos turísticos, aos desafios da gestão de oportunidades do Turismo, à gastronomia, ao papel dos guias turísticos e animadores, e à importância da hotelaria para um serviço de qualidade.

Dinis Fonseca, Basílio Ramos e Humberto Brito

Em 2013 os EITU voltaram em força, com a Sexta Edição, uma vez mais em Santa Maria e no Hotel Crioula, tendo a sessão de abertura sido presidida pelo Presidente da Assembleia Nacional, Basílio Ramos Mosso, ladeado do Ministro do Turismo, Humberto Brito, e do Presidente em Exercício da Câmara de Turismo, Dinis Fonseca, sob o tema “Resposta de Cabo Verde às Tendências da Procura Turística”, desta vez com um grau de internacionalização inédito, abrindo a série de 8 painéis Roger Pride, um especialista de primeiro plano internacional em brading e marketing, vindo do País de Gales, onde fora Diretor de Marketing do Turismo, e que apresentou o tema “Criar Comunicabilidade para os Destinos”; no 2º painel, Olavo Correia, um orador costumeiro dos EITU, apresentou as “Conclusões, Objetivos e Recomendações do Grupo de Reflexão do Cluster do Turismo”, que acabara de liderar em 2012; e Scott Taylor, CEO do Glasgow City Marketing Bureau, vindo da Escócia para apresentar, por seu turno, um case study particularmente oportuno à realidade de Cabo Verde, pois versou a importância do marketing de um destino junto da sua diáspora, no caso pendente corporizada num evento que estava a lançar na sua cidade, designado “Homecoming 2014”; a oradora do 3º painel foi Iris Hiller, na altura consultora em Turismo da THR de Barcelona, que dissertou sobre “A Importância dos Media para o Turista na Promoção do Produto; no 5º painel, foi a vez de Peter Jordan, especialista em turismo juvenil, então à frente da WYSE - World Youth Student & Education Travel Confederation, sedeada em Amesterdão, expor o tema “O Poder do Turismo Jovem. Como Atrair a Próxima Geração de Visitantes a um Destino”. De seguida, Simon Punter, consultor da algarvia ILM Real Estate, veio falar d’”A Cultura como Elemento Chave do Produto; no 6º painel, Sue Wilkes, Diretora da SW Business & Events Solutions, no Reino Unido, com forte ligação ao Convention Bureau de Sidney, falou-nos de “Destinos de Reuniões & Eventos, um Casamento Perfeito”, secundada no painel por Linda Pereira, CEO da CPL Events, que expôs, com o brilho que lhe é habitual, case studies ilustrativos de “Estratégias de Destinos para Atração e Captação de Eventos”. E as apresentações do VI EITU fecharam com chave de ouro com Carlos Torres, especialista em jurisprudência do Turismo, longos anos consultor jurídico da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), que analisou e comentou a “Nova Legislação Cabo-Verdiana de Agências de Viagens e Operadores Turísticos”.

Scott Taylor, Roger Pride, Iris Hiller,Linda Pereira, Sue Wilkes e Peter Jordan

Tendo em conta que a maioria das apresentações do VI EITU versaram sobre case studies de países estrangeiros, expostos por estrangeiros, a Organização consagrou o último painel de cada um dos dois dias do Encontro (o 4º no primeiro dia e o 8º no segundo) a debates de ligação à realidade cabo-verdiana, em que os moderadores Virna Ramos, Diretora Regional Norte da Direção Geral do Turismo e Giordano Custódio, jornalista, apresentador da série de programas televisivos Nha Terra Nha Crêtcheu, procuraram estabelecer com os delegados elos de conexão entre os casos reais exógenos que foram sendo apresentados e as ilações que deles podiam ser tiradas para aplicação endógena ao desenvolvimento do Turismo no país.

Após três anos de pousio, e ultrapassada que foi uma sucessão de atos eleitorais, que em Cabo Verde tendem a abrandar o ritmo da vida civil em geral, ocorreu o VII e último EITU, desta vez na Praia, de 4 a 7 de dezembro de 2016, sob o lema QUALIFICAR–SUSTENTAR–INOVAR–CONCRETIZAR, uma quadrilogia que refletia o estado de espírito que se vivia nessa altura, de algum cansaço com a abundância de eventos de abordagem meramente teórica de situações que demandavam agora qualificação, sustentabilidade, inovação e concretização.




Alguns dos partricipantes nas sessões do dia 7

O Encontro foi precedido de um cocktail no Hotel Trópico, no domingo à tarde, dia 4; as sessões de trabalho tiveram lugar no Oásis Praia-Mar, dias 5, 6 e 7, segunda, terça e quarta-feira, e encerrou com um jantar de gala junto à piscina do hotel.

Presidiu à abertura Sua Excelência o Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, na companhia do Presidente da Câmara de Turismo, António Gualberto do Rosário Almada, do Presidente da Câmara da Praia recém-eleito, Óscar Santos, do Presidente da Associação Nacional de Municípios, Manuel Monteiro de Pina e do Ministro da Economia e Emprego, José Gonçalves.

O primeiro tema do 1º painel foi “A Experiência das Ilhas Canárias – o Caso do Município de Las Palomas, na Gran Canaria”, apresentado por José Vegas, coordenador do Projeto REACT, e por Néstor Jesus Padrón Castañeda, do Governo das Canárias; um segundo tema foi apresentado por José Archer, Presidente da ABAE (Associação Bandeira Azul da Europa), que desenvolveu o tema “Bandeira Azul nas Praias, Marinas e Hotéis de Cabo Verde”. No 2º painel, Luís Carvalho Lima, Presidente da APEMIP (Associação de Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal) expôs um “Estudo do Caso de Sucesso da Imobiliária Turística em Portugal”; de seguida, Carlos Torres, jurista já conhecido do III EITU, falou sobre “A Legislação e o Turismo em Cabo Verde: Desafios e Oportunidades”. Na terça-feira, dia 6, o 3º painel abriu com a comunicação da “Experiência Recente da Região Autónoma dos Açores”, por Marco Duarte, da Associação Regional do Turismo dos Açores, a que se seguiu Abraão Lopes, Presidente do Instituto de Gestão da Qualidade e da Propriedade Intelectual, de parceria com Ivan Caballero, da Empresa Cape Safety, que lidaram com o tema “A Qualidade Total – do Aeroporto de Chegada ao Aeroporto de Partida”. No 4º painel, Jorge Maurício, da ENAPOR (Portos de Cabo Verde) e Maria Leite, da Ibercruises, refletiram sobre como “Moldar os Cruzeiros a Cabo Verde”. O 5º painel versou sobre “Urbanismo, Regulação Urbana e dos Pontos Turísticos”, e foi desenvolvido por Júlio Lopes, Presidente da Câmara do Sal, e por Aristides Brito, Vice-Presidente da Câmara Municipal da Boa Vista, seguindo-se o tema “Contributos da Cultura e da História para o Turismo no Sal e na Boa Vista, proposto por Júlio Rendall, Cuardor de Pedra Lume. Já no dia 7, no 6º painel, José Almada Dias, da AfroVerde, trouxe à discussão a situação das “Ilhas do Norte (S. Vicente, Santo Antão e S. Nicolau)”, ao passo que Eugénio Inocêncio, da Câmara de Turismo, complementou a abordagem regional com “As Ilhas do Sul (Santiago, Fogo, Maio e Brava)”. Finalmente, no 7º painel, António Correia e Silva, catedrático e investigador na UNI-CV, falou sobre “História, Cultura, Natureza e Diversificação do Produto Turístico nas Ilhas”; Armando Ferreira, da Câmara de Turismo, desenvolveu o tema “Informação e Formação”; e Mário de Carvalho, Presidente da Associação Cabo-Verdiana de Lisboa, rematou as apresentações do VII EITU com o tema candente “Pontes com a Diáspora”.

Na Assembleia de Encerramento, os participantes na Praia saúdam os participantes remotos

Num debate final, em simultâneo com participantes via conference-call no Mindelo, em Santa Maria e em Lisboa, moderado por Marco Rocha, jornalista e pivot da RTC, e por Linda Pereira, da Comissão Organizadora, Olavo Correia, Ministro das Finanças de Cabo Verde, abriu com uma breve preleção sobre “O Turismo como Setor Estratégico da Economia Cabo-Verdiana”, a que se seguiram as intervenções dos delegados, monitorizadas em três vertentes: (i)Cabo Verde no contexto internacional do Turismo; (ii)Caminhos de progressão da indústria do Turismo em Cabo Verde; (iii)Projetos de concretização imediata.

O Encerramento dos trabalhos foi presidido pelo Primeiro Ministro, Ulisses Correia e Silva.

Seria certamente interessante abordar aqui mais em detalhe as matérias apontadas em cada painel de cada Encontro, numa perspetiva de transição de reflexões feitas para a respetiva concretização, monitorização e avaliação sucessivas, um repto que não se coaduna com as limitações de uma revista, mas que fica feito a quem queira inteirar-se da abrangência e profundidade na busca de caminhos e soluções para os desafios que se foram desenrolando perante quem se dedicou de alma e coração ao desenvolvimento de um Turismo de qualidade em Cabo Verde, fosse na esfera pública ou privada. Tanto mais que subsistem registos de vária ordem, suscetíveis de serem consultados, mau grado os arquivos oficiais deixarem muito a desejar.

Fica aqui um apelo particular a quem estuda Turismo ou se dedica a investigação histórica para que busque descobrir e perceber com maior profundidade as etapas que a “indústria da Paz” percorreu nas Ilhas da Morabeza, até atingir a apreciável ordem de grandeza atual, a rondar o milhão de entradas de turistas/ano e noites dormidas acima de 7 milhões/ano; a melhor forma de dar sentido ao sonho, realizando-o e cumprindo assim o desígnio, algo poético, mas realista, de aproximação entre pessoas e povos, que é o objetivo mais nobre do Turismo…



[1] Clube Vela, Turimagazine, Edição 90, setembro 2024

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