41 - Os Clubes de Embaixadores
2005
foi para todos os efeitos um ano fecundo em iniciativas e projetos que marcaram
fortemente um tempo de aceleração no desenvolvimento turístico em Cabo Verde.
Foi nesse ano que se concluíram as obras de transformação do aeroporto da Praia,
finalmente aberto a voos de longo curso; foi nesse ano que a Unotur[1]
iniciou a caminhada para se transformar em Câmara de Turismo, e lançou a
importante série de Encontros Internacionais de Turismo, levando por diante o
primeiro, no Mindelo, em geminação com o IIº Encontro Intermunicipal de Turismo
da Associação Nacional de Municípios; foi esse o ano do lançamento de novos
voos dedicados ao Turismo, com origem em vários países da Europa; foi nesse ano
que se registou o maior aumento na oferta de camas de hotel no país, de 5.804
para 8.278; foi em 2005 que foi registada a Sociedade que lançaria a companhia
aérea capaz de pôr em marcha o programa mais completo de aproximação entre as
ilhas no âmbito do turismo e dos negócios por longo tempo, a Halcyon Air[2];
foi ainda nesse ano que se constituiu em Lisboa o Clube Vela[3],
um grupo de empresários, portugueses e cabo-verdianos, empenhados no
desenvolvimento da Economia e do Turismo em Cabo Verde, que assumiram papéis
relevantes em várias das suas vertentes, e lhes deram continuidade nos anos
subsequentes.
Uma outra dessas iniciativas foi a tentativa de criação de Clubes de Embaixadores, uma ferramenta preciosa para atrair e dinamizar investimento em projetos de desenvolvimento nas mais diversas áreas da Economia, da Ciência e da Cultura. Com vasta experiência de contactos e cooperação em clubes de embaixadores em diversos países de vários continentes, Linda Pereira disponibilizou-se para comunicar e sugerir a um grupo de pessoas notáveis da diáspora cabo-verdiana quão fértil poderia ser a constituição de um primeiro CE[5] que servisse de fermento a outros, nas comunidades cabo-verdianas espalhadas pelo mundo, para o que foi organizado um primeiro encontro na Messe da Marinha em Cascais, em 22 de setembro de 2007, que reuniu Wladimir Brito, professor universitário na Universidade do Minho, José Pedro Morais, oftalmologista estabelecido na região, João Manuel Chantre, presidente da CCITPCV (Câmara de Comércio, Indústria e Turismo Portugal Cabo Verde), Alberto Rui Machado, Presidente da Associação Cabo-Verdiana, e Mário Lima Moreira, também quadro da Associação Cabo-Verdiana. Todos os presentes no encontro se manifestaram entusiasmados com a perspetiva de uma participação próxima e efetiva em projetos de desenvolvimento no país e em eventos que os preparassem e viabilizassem, pelo que avançámos logo com um segundo encontro, desta vez na Soltrópico, na Quinta do Lambert, em 11 de outubro, já com um conjunto mais alargado de participantes, juntando-se ao grupo personalidades muito representativas como Elisabeth Moreno, quadro superior da DELL em França; António da Graça, da Associação Cabo-Verdiana na Holanda; Celeste Correia, Deputada e 1ª Secretária na Assembleia Nacional Portuguesa; ou António Semedo, vice-presidente do Congresso de Quadros Cabo-Verdianos na Diáspora, entre outros.
Estas
primeiras reuniões serviram essencialmente a quem nelas participou para se
aperceber de todo um conjunto de movimentações à data em curso no tecido da
Economia e do Turismo de Cabo Verde, e da apetência que despontava um pouco por
todo o lado onde houvesse presença cabo-verdiana em participar ativamente no
desenvolvimento do país. Durante 2008 foi trocada abundante informação entre as
pessoas que se propunham avançar com este primeiro clube de embaixadores,
floresceram ideias promissoras, algumas que vieram a concretizar-se, como a da
Câmara de Turismo, dinamizada por Gualberto do Rosário, ou a do Triplo Salto[6],
graças à conjunção de vontades de várias entidades, nacionais e estrangeiras,
ou a da Escola de Hotelaria e Turismo, que avançaria na Praia; outras que foram
travadas por circunstâncias adversas; e outras que nutrem ainda o sonho de
virem a concretizar-se e que dão por nomes como REDE, Mind Tree Hotels,
Parques Temáticos, Centros de Interpretação, e vários outros.
Por
outro lado, cruzaram-se contactos e informações dentro do universo de forças
vivas com ligações a Cabo Verde, quer em Portugal quer pelas comunidades da
diáspora cabo-verdiana em países da Europa, nos Estados Unidos e no Canadá, fossem
os diversos movimentos associativos, fossem personalidades notáveis, fossem
empresas ou instituições: um vasto campo de recrutamento de “embaixadores” a
quem enviar convites de adesão ao Clube
que se estruturava[7].
Em
2009 promovemos ainda novos encontros em Lisboa, um deles no Altis Park, nas
Olaias, em 19 de janeiro, mas nos tempos que se seguiram outras prioridades se
impuseram às pessoas que dinamizavam este projeto, que nem por isso perdeu
fulgor, pois foi entre 2009 e 2012 que se procurou decantar o modelo que melhor
serviria o período que atravessava a estruturação da indústria do Turismo em
Cabo Verde. Foi neste período que redigimos, muito à base dos conhecimentos
específicos da Linda Pereira na matéria, uma espécie de Nota Conceptual do que
entendíamos por um ‘Clube de Embaixadores’ no contexto cabo-verdiano, um país
arquipelágico com uma diáspora estabelecida em diversas comunidades espalhadas
pelo mundo, nos seguintes termos:
A - DEFINIÇÃO
1. Definição
do Embaixador de Destino
Pessoa
com conhecimento e estatura, influente no seu meio, vivendo no
país de origem ou fora dele, capaz de
atuar como representante dos interesses de um destino e preparado para
promover reuniões, encontros e outras ações com pessoas e entidades visando
captar conhecimento, investimentos e negócios para esse destino.
2. Definição
de Clube de Embaixadores
Um conjunto de pessoas ("embaixadores")
capazes de, organizadamente e em conexão com a sociedade civil e as
instituições do destino em causa, planificar atividades, ferramentas e serviços
de apoio desenhado por profissionais locais ou outros para criar pontes entre as comunidades diasporizadas e as residentes, e
através delas atrair conhecimento,
investimentos e negócios, identificando oportunidades e organizando eventos
e outras ações de reflexão e concretização, a uma cidade ou país, criando desse
modo um legado de benefícios para o destino e/ou local que acolhem o evento,
investimento ou outra cooperação.
Um primeiro exemplo de argumento
que justifica a criação de um CE é de que a maioria das conferências (eventos
do conhecimento) periódicas que rodam de país para país requerem a submissão a concursos competitivos
envolvendo contactos locais ou nacionais detalhados e por vezes complexos para
conseguir propostas e convites e obter resultados, tanto individualmente como
partilhando uma proposta, ou fazendo parte de um protocolo formal ou outro
subgrupo nacional.
Enquanto que as regras,
procedimentos e critérios de decisão diferem de associação para associação
entre as que promovem eventos, e o poder relativo e a influência das
associações locais ou grupos organizados apresentam variações semelhantes,
quase sempre acontece que a contribuição
trazida por estes Embaixadores tem um impacto significativo sobre a escolha do
destino de um evento, quer ele vise um upgrade
de conhecimento, um investimento, um negócio, ou outro apport para o destino.
Numerosas cidades pelo mundo e um
número mais reduzido de organizações de marketing
que promovem destinos nacionais posicionaram-se numa perspetiva de que criando
um CE reforçam muito a sua posição e
estatura como destinos de qualidade, equipados para competir neste
apetecido, procurado e crescente setor.
Os Clubes de Embaixadores que emergiram na
última década criaram condições
financeiras, políticas e económicas locais e cobrem agora uma vasta gama de
modelos diferentes. Por exemplo, uns envolvem um relacionamento intenso de
20 a 30 Embaixadores, outros requerem um grupo de trabalho dedicado gerindo o
relacionamento e programas de atividade com mais de 1000 contactos utilizando
sofisticadas bases de dados.
Para que tudo se torne plenamente
funcional, é indispensável que cada CE seja assumido como elemento integrado num plano estratégico do
respetivo destino, para atrair conhecimento, negócio, investimento ou
eventos, mais do que para figurar como um projeto isolado, mesmo que se possam
encontrar alguns exemplos destes que obtiveram sucesso. As atividades de
pesquisa, vendas e marketing
dos CE devem visar o apoio a iniciativas dos Embaixadores, e não os deixar
desapoiados a fazer o seu trabalho.
Um CE bem planeado não só ajuda o
destino a ganhar uma maior fatia de eventos de conhecimento, investimento ou
outros, e a atrair a ele oportunidades de negócio, como pode também desempenhar
um papel-chave para potenciar reuniões,
transações, indústria, políticas locais, empreendedorismo e desenvolvimento
local, assim como suscitar o aparecimento de uma visão estratégica partilhada
para o desenvolvimento futuro do destino a todos os níveis.
B - CRIAÇÃO DE VALOR
Estes CE podem gastar tempo e
requerer a aplicação de recursos a longo prazo, pelo que é importante entender
todas as facetas da taxa de retorno que podem gerar.
Um programa ativo capacita os
destinos para estarem preparados muito mais depressa para os processos
competitivos a que se candidatem para o investimento e para o negócio, e desse
modo perderem menos oportunidades. Os
Embaixadores atuam como polos de uma espécie de sistema premonitório, na
medida em que estão vocacionados para perspetivar nichos de mercado,
assegurando uma corrente continuada de oportunidades de propostas a concurso, e,
portanto, de propostas em curso.
Os destinos que mantêm colaboração
estreita com Embaixadores obtêm normalmente mais sucesso nos seus esforços, uma
vez que as suas diligências podem combinar de modo consistente o suporte
profissional com os conhecimentos intrínsecos de objetivos específicos e aí os Embaixadores podem fornecer-lhes
informação sobre o modo de construir uma proposta com probabilidades de sucesso,
justificando campanhas com mais tempo e meios investidos, mas com uma maior
probabilidade de sucesso.
A contribuição dos Embaixadores é
de um valor inestimável para determinar
o melhor momento para submeter propostas, bem como, ao contrário, evitar
concursos em que as hipóteses de sucesso sejam reduzidas ou nulas. Os destinos
de top
raramente se esforçam para concorrer a eventos pouco atrativos, em parte pelo feedback
negativo transmitido pelos seus Embaixadores. Não alocar recursos a atividades
improdutivas é tão importante quanto investir dinheiro nas que são produtivas.
Um programa de Embaixadores pode
elevar as discussões com os políticos locais, assim como os profissionais de
turismo de negócios podem claramente evidenciar a ligação entre o seu trabalho
e o desenvolvimento económico, a ciência, os cuidados de saúde ou as políticas
de educação a nível local, ou outras áreas politicamente importantes. O CE gera um fórum significativo em que os
políticos podem interagir com os Embaixadores, que desempenham um papel como
líderes na sociedade civil.
Quando os Embaixadores trabalham em
estreita parceria com os profissionais locais de negócio logo a partir de um
estádio embrionário do planeamento dos processos, torna-se muito mais fácil assegurar que os planos visíveis e bem
executados, do ponto de vista financeiro, operacional, de marketing, obtenham sucesso.
Os CE são também grandes oportunidades de Relações Públicas
para os destinos. A focagem em Embaixadores empenhados e bem sucedidos leva
os meios de comunicação locais a reportar relatos positivos de famosos locais,
o que gera uma cobertura muito mais positiva do destino que simples press release a falar de direções
institucionais. Cumulativamente, isto ajuda a atrair outros potenciais
Embaixadores.
O reconhecimento prático formal do
sucesso de Embaixadores em ganhar negócios e eventos para o destino é um dos
caminhos mais simples para gerar orgulho
cívico. Os líderes de negócios devem ser exortados a não se limitarem a
sentir-se orgulhosos com a liderança das suas empresas, mas honrarem-se também
por serem atores marcantes na sociedade civil local, e o CE torna-se então numa
plataforma apta a os fazer interagir com
outros potenciais líderes de forma estruturada.
Os custos com a montagem de um CE são normalmente muito menores que os
charmosos programas de marketing
promovidos pelos destinos, tais como missões empresariais ao estrangeiro,
viagens de negócios intercontinentais e outros. Numa altura em que as viagens
ao estrangeiro e as despesas com a promoção económica estão debaixo de estreito
escrutínio, e bem, esta atividade informal a domicílio é ao mesmo tempo
eficiente e de custos ajustados.
Os Embaixadores naturais para um
destino, tipicamente líderes no seio dos grupos dos seus pares internacionais,
frequentemente serão envolvidos em
terrenos que são estrategicamente importantes para esse destino. Por
exemplo, um neurocirurgião que é proeminente no seio da sua associação
profissional provavelmente não se coaduna com uma unidade fraca de
neurocirurgia num hospital. E é altamente provável que queira fortalecer a área
da sua especialidade. Um CE bem estruturado procurará aproveitar os trunfos locais
para um alinhamento de um evento internacional que “encaixe” na necessidade
detetada localmente.
No contexto específico de Cabo
Verde, um país arquipelágico e fortemente dissperso, cabe aos CE, cujos membros
possuem experiências de penetração, adaptação e socialização sempre ricas e bem-sucedidas,
um papel preponderante na remoção de
burocracias dispensáveis, de pruridos protecionistas e/ou isolacionistas e de
outros entraves à cooperação, estabelecendo laços e pontes entre o puzzle de comunidades e organizações em
presença em cada um dos processos que desenvolverem.
C - CONSIDERAÇÕES ESTRATÉGICAS
Há numerosas aproximações
estratégicas que podem ser feitas para definir a estrutura, os objetivos,
âmbito e procedimentos de operacionalização dos CE. Uma aposta forte depende da situação político-económica local (incluindo
áreas chave de especialização ou de influência) no destino, a força e os orçamentos das instituições locais, a
consciência cívica que se verifique, as relações institucionais e os níveis de
empenho político na “meetings industry” (turismo de congressos, incentivos
e negócios).
Um comprometimento de longo prazo
com a criação de um CE é, portanto, essencial para lhe garantir sucesso.
Qualquer aproximação estratégica
deverá visar o entendimento e a incorporação de motivações e objetivos quer das
instituições locais quer dos Embaixadores individualmente. O ideal é que se
verifique um alinhamento com os
objetivos dos decisores políticos locais e/ou nacionais. Por exemplo, pode
uma universidade estar fortemente interessada em aumentar os níveis de perceção
da sua liderança na investigação em determinado tema académico, ao mesmo tempo
que o objetivo da cidade seria o de atrair investimento interno por parte do
governo e/ou de capitais de risco. É conhecida a legítima e saudável apetência
de qualquer personalidade para tentar deixar legado que perpetue a memória da
sua atuação profissional à cidade, região ou país de origem.
O orgulho cívico não é coisa fácil
de qualificar ou definir, mas o Embaixador com mais sucesso não deixará de
incorporar esta componente nas suas diligências. Os Embaixadores não se eximem
a dedicar tempo e competência mesmo sem garantias de sucesso ou retorno
financeiro; instituições e políticos
necessitam também de uma grande motivação anímica, para além de argumentos
económicos concretos. Atividades tais como cerimónias de atribuição de
prémios de grande perfil ou entrega de certificados e condecorações constituem
focos de identificação das contribuições de Embaixadores para o progresso
económico, cultural e social no seu destino. Ninguém aceita tornar-se
Embaixador através de uma fria análise custo-benefício; há sempre um mix de racionalidade e emoção
que os criadores de clubes de Embaixadores têm de detetar e dele fazer uso.
D - MONTAGEM DE UM Clube de
Embaixadores
1.- Estatutos e registos
Um Clube de Embaixadores estabelece-se no
contexto legal do país em que se insere. Normalmente, constitui-se como uma
Associação sem fins lucrativos e regista-se em consequência.
2.- Ligação à Embaixada
Um CA, sendo o seu eixo de pulsação a criação e
fortalecimento de pontes com o país, terá a maior das conveniências em
estabelecer fortes laços com a Embaixada
de Cabo Verde.
Dado que as Embaixadas de Cabo Verde de modo
geral carecem de adidos especializados em algumas matérias relevantes para a
sua atuação, um Clube de Embaixadores pode tornar-se, havendo interesse de
parte a parte, num forte aliado da
diplomacia, em especial nas vertentes económica e cultural.
E - RETORNAR À
TERRA DE ORIGEM
Depois de uma fase da vida longe
das origens, quem não ambiciona regressar, episódica ou definitivamente, com o
legado de saber e experiência adquiridos ao longo de naos de luta por uma vida
melhor, um estatuto, uma reserva de património?
É verdade que o acolhimento à
generosidade de quem um dia partiu não é automático, e pode mesmo ser frio. Mas
um Clube de Embaixadores tem mecanismos para criar as pontes necessárias à
remoção de entraves, quer burocráticos quer psicossociológicos, tornando as
contribuições dos filhos da terra bem-vindas, apreciadas e estimadas.
E o mais importante mesmo para os
membros de um Clube de Embaixadores, é atingir o nobre objetivo de verem
crescer e desenvolver-se a sua terra de origem e as gentes que são as suas
próprias raízes.
______________________
No
rescaldo deste longo intervalo de amadurecimento de ideias, manifestaram-se
duas visões à primeira vista antagónicas quanto ao modelo a adotar, as quais
foram sendo debatidas e comparadas com modelos reais que sobretudo a Linda
Pereira conhecia bem, mas que só em 2012 foram clarificados e expressos,
particularmente em três comunicados, (i)um primeiro da mesma Linda Pereira, de
12 de abril, no qual advogava a adoção de um cariz de voluntariado, presumindo
que quem se propõe a ‘embaixador’ se sinta honrado em trabalhar em prol do bem
da comunidade, com espírito de missão, com carácter mais informal do que
formal, mais dinâmico do que estático, gerando encontros frequentes e
iniciativas que acrescentem valor às estruturas administrativas, comerciais e
políticas, particularmente do ramo do Turismo, sem no entanto descurar o cuidado
com a sustentabilidade, a ser conseguida através da organização de eventos
regulares que ao meso tempo nutram o entusiasmo pelas causas abraçadas e suscitem
proventos que suportem os custos da estrutura. (ii)Wladimir Brito, por sua vez,
em correspondência do dia seguinte, abundava no mesmo sentido, e advogava que
não devia ser criada uma associação rígida, mas sim manter o grupo com carácter
de clube informal, com um estatuto interno, dando tempo ao tempo para se aferir
se sim ou não se avançaria para uma instituição mais estruturada oficialmente.
(iii)Quem no entanto se propôs assumir a responsabilidade de aceitar a condução do
Clube de Embaixadores acabou por ser Rolando Borges, que dispunha já de um curriculum
no associativismo cultural, e que defendia um Clube de Embaixadores formal, com
estatutos, registo oficial e regulamento interno, condição sine qua non,
segundo explicou em correspondência de 15 de abril, para aceder a programas de
financiamento da União Europeia, e em particular a programas no âmbito da
Parceria Especial de Cabo Verde com a mesma União Europeia.
Os
argumentos de Rolando Borges acabaram por pesar, perante a perspetiva de a
máquina administrativa deste primeiro clube de embaixadores poder ter assim, logo
à partida, garantias de financiamento, pelo que propôs que se adotasse o modelo
de estatutos da ‘Associação na Hora’ disponível no Registo Nacional de Pessoas
Coletivas em Portugal, imprimindo-lhe ademais carácter internacional, com
mandato de 3 anos para os corpos sociais, uma Direção de três elementos, um
Conselho Fiscal de dois elementos, e um Regulamento, a elaborar.
No
intuito de garantir a concretização o mais rápida e sólida possível do primeiro
CE cabo-verdiano, admitimos, a expensas da Contacto Virtual, no quadro vigente
de apoio ao emprego do IEFP[8],
uma colaboradora, Sandra Fernandes, na perspetiva de se tornar a Secretária
Geral do Clube, que passou a assumir a gestão das diligências necessárias para
o efeito, desde (i)o pedido do Certificado de Admissibilidade da Associação,
que viria a resultar numa designação pouco apelativa (EMBCV – Clube de Cabo
Verde), em lugar do que seria a designação óbvia e universalmente utilizada
(Clube de Embaixadores de Cabo Verde de Lisboa, no caso pendente), por alegada
incompatibilidade com a designação de outras instituições existentes; (ii)à
elaboração e registo dos Estatutos, adotando-se por facilidade o modelo já
referido proposto pela RNPC; (iii)à elaboração de um regulamento interno; (iv)ao
desenho de um logótipo; (v)e, o mais importante de tudo, à angariação de
“embaixadores”, o verdadeiro sangue da Instituição.
Em
reuniões que se foram seguindo, logo no dia 19 de abril de 2012, na Associação
Cabo-Verdiana, rua Duque de Palmela, na qual se delinearam os corpos sociais[9],
estando presentes Celeste Correia, Mário Carvalho, Rui Machado, Gladstone
Germano, Rolando Borges, Sandra Fernandes, eu próprio, e ainda, remotamente,
Wladimir Brito e Linda Pereira; no dia 7 de maio, no hotel Fontana Park, em
Arroios, perto das Picoas, em que fiz com a Linda Pereira, o Rolando Borges e a
Sandra Fernandes um ponto da situação para concluirmos o processo de
constituição do Clube; ainda uma outra no dia 20 de setembro, na Contacto
Virtual, em Carnide, com José Pedro Chantre, um amigo que na altura era quadro
superior da União Europeia de serviço em países africanos, para compreendermos
que possibilidades haveria de o Clube se candidatar a fundos da UE no âmbito de
programas de desenvolvimento com a OEACP[10].
A
“EMBCV – Clube de Cabo Verde” foi registada no dia 27 de setembro de 2012 como
Associação Cultural e Recreativa, com sede na rua Manuela Porto, 11 A (por cortesia
da Contacto Virtual), adotando o modelo simplex de Estatutos preconizado
pelo Registo Nacional de Pessoas Coletivas, tendo sido redigido um Regulamento
Interno[11]
com 38 artigos, que, além de disposições gerais e transitórias, define
critérios de adoção, direitos e deveres de novos membros, constituição e
funcionamento dos órgãos sociais e obtenção e aplicação de recursos
financeiros.
A
designação adotada por este Regulamento Interno passou a ser a de CLUBE DE
EMBAIXADORES DE CABO VERDE.
Infelizmente,
a opção tomada de avançar à partida com um figurino formal e focado na obtenção
de financiamento da União Europeia ditava um dilema: ou se conseguiam esses
recursos e tínhamos uma situação promissora, ou não conseguíamos, e seríamos
colocados perante um impasse perigoso de paralisia. Como quase sempre acontece,
cumpriu-se a lei de Murphy, e o Clube de Embaixadores de Cabo Verde, tão
laboriosamente trabalhado, estacionou no limbo costumeiro da Boa Esperança, de
onde se tem erguido em sonhos esporádicos, como quando, em março de 2017,
reunimos um grupo de boas vontades e fomos fazer prova de vida, como documenta
esta foto, com o Embaixador Eurico Monteiro e o Adido Cultural da Embaixada em Lisboa,
Elias Andrade.
Da esquerda para a direita: Carlos Torres, Armando Ferreira, Linda Pereira,
Embaixador Eurico Monteiro, Celeste Correia, Filinto Correia e Silva, Rolando
Borges, Jorge Revez, José Pedro Morais e Elias Andrade
Como paramboia resiliente mas submersa em casulo efémero à espera de melhores dias, confiemos em que este projeto, tão prenhe de promessas, tenha a magia do peixe pulmonado, e emerja em dia de chuvas vindouras que lhe emprestem nova vida…
[1] União
Nacional dos Operadores Turísticos de Cabo Verde
[2] Vide
artigo respetivo
[3] Idem
[4] SalAnima
(vide artigo respetivo)
[5] Clube de
Embaixadores
[6] Ver
artigo respetivo
[7]
Alguns desses nomes, a título de exemplo: Manuel Correia, Presidente da
Federação das Organizações Cabo-Verdianas; Corsino Tolentino, ex-Embaixador de
Cabo Verde em Portugal; Eunice Évora, Académica, membro da Comissão Paritária
Portugal-Cabo Verde; Manuel Chantre, ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros de
Cabo Verde; Carlos Machado, cônsul de Cabo Verde no Porto; Helena Lopes da
Silva, médica no Hospital de Santa Maria em Lisboa; José Zaluhar, professor na
Universidade Lusófona; Rui Lourido d’Ávila, da UCLA; Lucas da Cruz,
ex-Administrador da Cimpor; Esmeraldo Azevedo, militar de alta patente; entre
outros…
[8]
Instituto de Emprego e Formação Profissional
[9] Rolando
Borges assumiu a presidência do Conselho Diretivo
[10] Organização
dos Estados de África, Caraíbas e Pacífico
[11] Ver em
caboverde-info.com
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