41 - Os Clubes de Embaixadores

 

2005 foi para todos os efeitos um ano fecundo em iniciativas e projetos que marcaram fortemente um tempo de aceleração no desenvolvimento turístico em Cabo Verde. Foi nesse ano que se concluíram as obras de transformação do aeroporto da Praia, finalmente aberto a voos de longo curso; foi nesse ano que a Unotur[1] iniciou a caminhada para se transformar em Câmara de Turismo, e lançou a importante série de Encontros Internacionais de Turismo, levando por diante o primeiro, no Mindelo, em geminação com o IIº Encontro Intermunicipal de Turismo da Associação Nacional de Municípios; foi esse o ano do lançamento de novos voos dedicados ao Turismo, com origem em vários países da Europa; foi nesse ano que se registou o maior aumento na oferta de camas de hotel no país, de 5.804 para 8.278; foi em 2005 que foi registada a Sociedade que lançaria a companhia aérea capaz de pôr em marcha o programa mais completo de aproximação entre as ilhas no âmbito do turismo e dos negócios por longo tempo, a Halcyon Air[2]; foi ainda nesse ano que se constituiu em Lisboa o Clube Vela[3], um grupo de empresários, portugueses e cabo-verdianos, empenhados no desenvolvimento da Economia e do Turismo em Cabo Verde, que assumiram papéis relevantes em várias das suas vertentes, e lhes deram continuidade nos anos subsequentes.

Linda Pereira
Foi também em 2005, precisamente no Primeiro EITU, que uma mulher de alta voltagem, com ligações recentes à Unotur e a Cabo Verde, se abalançou à tarefa improvável de organizar no Mindelo um evento de tamanho e de qualidade que pareciam incompatíveis com as estruturas e os meios que à época estavam disponíveis na cidade e na ilha, porque havia que dar um sinal de descentralização na criação de produto e serviços turísticos, até então muito confinados à ilha do Sal, e a Unotur conseguiu essa proeza, muito graças à personalidade e competências de Linda Pereira, que depois do sucesso retumbante do Iº EITU não mais abandonaria o apoio marcadamente profissional dispensado a Cabo Verde, através da Unotur, depois Câmara de Turismo, e ainda ao respetivo Ministério, em toda uma série de iniciativas relacionadas com o desenvolvimento económico e turístico de Cabo Verde, muito particularmente toda a série de Encontros Internacionais, que organizámos em conjunto, e ainda num evento inesquecível, que animou durante dez dias a Cidade de Santa Maria[4], com atuações de numerosos artistas, de 17 a 27 de outubro de 2013.

O objetivo, ambicioso, visava a constituição de Clubes de "Embaixadores" no seio das principais comunidades cabo-verdianas da Diáspora.

Uma outra dessas iniciativas foi a tentativa de criação de Clubes de Embaixadores, uma ferramenta preciosa para atrair e dinamizar investimento em projetos de desenvolvimento nas mais diversas áreas da Economia, da Ciência e da Cultura. Com vasta experiência de contactos e cooperação em clubes de embaixadores em diversos países de vários continentes, Linda Pereira disponibilizou-se para comunicar e sugerir a um grupo de pessoas notáveis da diáspora cabo-verdiana quão fértil poderia ser a constituição de um primeiro CE[5] que servisse de fermento a outros, nas comunidades cabo-verdianas espalhadas pelo mundo, para o que foi organizado um primeiro encontro na Messe da Marinha em Cascais, em 22 de setembro de 2007, que reuniu Wladimir Brito, professor universitário na Universidade do Minho, José Pedro Morais, oftalmologista estabelecido na região, João Manuel Chantre, presidente da CCITPCV (Câmara de Comércio, Indústria e Turismo Portugal Cabo Verde), Alberto Rui Machado, Presidente da Associação Cabo-Verdiana, e Mário Lima Moreira, também quadro da Associação Cabo-Verdiana. Todos os presentes no encontro se manifestaram entusiasmados com a perspetiva de uma participação próxima e efetiva em projetos de desenvolvimento no país e em eventos que os preparassem e viabilizassem, pelo que avançámos logo com um segundo encontro, desta vez na Soltrópico, na Quinta do Lambert, em 11 de outubro, já com um conjunto mais alargado de participantes, juntando-se ao grupo personalidades muito representativas como Elisabeth Moreno, quadro superior da DELL em França; António da Graça, da Associação Cabo-Verdiana na Holanda; Celeste Correia, Deputada e 1ª Secretária na Assembleia Nacional Portuguesa; ou António Semedo, vice-presidente do Congresso de Quadros Cabo-Verdianos na Diáspora, entre outros.

Estas primeiras reuniões serviram essencialmente a quem nelas participou para se aperceber de todo um conjunto de movimentações à data em curso no tecido da Economia e do Turismo de Cabo Verde, e da apetência que despontava um pouco por todo o lado onde houvesse presença cabo-verdiana em participar ativamente no desenvolvimento do país. Durante 2008 foi trocada abundante informação entre as pessoas que se propunham avançar com este primeiro clube de embaixadores, floresceram ideias promissoras, algumas que vieram a concretizar-se, como a da Câmara de Turismo, dinamizada por Gualberto do Rosário, ou a do Triplo Salto[6], graças à conjunção de vontades de várias entidades, nacionais e estrangeiras, ou a da Escola de Hotelaria e Turismo, que avançaria na Praia; outras que foram travadas por circunstâncias adversas; e outras que nutrem ainda o sonho de virem a concretizar-se e que dão por nomes como REDE, Mind Tree Hotels, Parques Temáticos, Centros de Interpretação, e vários outros.

Por outro lado, cruzaram-se contactos e informações dentro do universo de forças vivas com ligações a Cabo Verde, quer em Portugal quer pelas comunidades da diáspora cabo-verdiana em países da Europa, nos Estados Unidos e no Canadá, fossem os diversos movimentos associativos, fossem personalidades notáveis, fossem empresas ou instituições: um vasto campo de recrutamento de “embaixadores” a quem enviar convites de adesão ao Clube  que se estruturava[7].

Em 2009 promovemos ainda novos encontros em Lisboa, um deles no Altis Park, nas Olaias, em 19 de janeiro, mas nos tempos que se seguiram outras prioridades se impuseram às pessoas que dinamizavam este projeto, que nem por isso perdeu fulgor, pois foi entre 2009 e 2012 que se procurou decantar o modelo que melhor serviria o período que atravessava a estruturação da indústria do Turismo em Cabo Verde. Foi neste período que redigimos, muito à base dos conhecimentos específicos da Linda Pereira na matéria, uma espécie de Nota Conceptual do que entendíamos por um ‘Clube de Embaixadores’ no contexto cabo-verdiano, um país arquipelágico com uma diáspora estabelecida em diversas comunidades espalhadas pelo mundo, nos seguintes termos:

A - DEFINIÇÃO

1. Definição do Embaixador de Destino

Pessoa com conhecimento e estatura, influente no seu meio, vivendo no país de origem ou fora dele, capaz de atuar como representante dos interesses de um destino e preparado para promover reuniões, encontros e outras ações com pessoas e entidades visando captar conhecimento, investimentos e negócios para esse destino.

2. Definição de Clube de Embaixadores

Um conjunto de pessoas ("embaixadores") capazes de, organizadamente e em conexão com a sociedade civil e as instituições do destino em causa, planificar atividades, ferramentas e serviços de apoio desenhado por profissionais locais ou outros para criar pontes entre as comunidades diasporizadas e as residentes, e através delas atrair conhecimento, investimentos e negócios, identificando oportunidades e organizando eventos e outras ações de reflexão e concretização, a uma cidade ou país, criando desse modo um legado de benefícios para o destino e/ou local que acolhem o evento, investimento ou outra cooperação.

Um primeiro exemplo de argumento que justifica a criação de um CE é de que a maioria das conferências (eventos do conhecimento) periódicas que rodam de país para país requerem a submissão a concursos competitivos envolvendo contactos locais ou nacionais detalhados e por vezes complexos para conseguir propostas e convites e obter resultados, tanto individualmente como partilhando uma proposta, ou fazendo parte de um protocolo formal ou outro subgrupo nacional.

Enquanto que as regras, procedimentos e critérios de decisão diferem de associação para associação entre as que promovem eventos, e o poder relativo e a influência das associações locais ou grupos organizados apresentam variações semelhantes, quase sempre acontece que a contribuição trazida por estes Embaixadores tem um impacto significativo sobre a escolha do destino de um evento, quer ele vise um upgrade de conhecimento, um investimento, um negócio, ou outro apport para o destino.

Numerosas cidades pelo mundo e um número mais reduzido de organizações de marketing que promovem destinos nacionais posicionaram-se numa perspetiva de que criando um CE reforçam muito a sua posição e estatura como destinos de qualidade, equipados para competir neste apetecido, procurado e crescente setor.

Os Clubes de Embaixadores que emergiram na última década criaram condições financeiras, políticas e económicas locais e cobrem agora uma vasta gama de modelos diferentes. Por exemplo, uns envolvem um relacionamento intenso de 20 a 30 Embaixadores, outros requerem um grupo de trabalho dedicado gerindo o relacionamento e programas de atividade com mais de 1000 contactos utilizando sofisticadas bases de dados.

Para que tudo se torne plenamente funcional, é indispensável que cada CE seja assumido como elemento integrado num plano estratégico do respetivo destino, para atrair conhecimento, negócio, investimento ou eventos, mais do que para figurar como um projeto isolado, mesmo que se possam encontrar alguns exemplos destes que obtiveram sucesso. As atividades de pesquisa, vendas e marketing dos CE devem visar o apoio a iniciativas dos Embaixadores, e não os deixar desapoiados a fazer o seu trabalho.

Um CE bem planeado não só ajuda o destino a ganhar uma maior fatia de eventos de conhecimento, investimento ou outros, e a atrair a ele oportunidades de negócio, como pode também desempenhar um papel-chave para potenciar reuniões, transações, indústria, políticas locais, empreendedorismo e desenvolvimento local, assim como suscitar o aparecimento de uma visão estratégica partilhada para o desenvolvimento futuro do destino a todos os níveis.

B - CRIAÇÃO DE VALOR

Estes CE podem gastar tempo e requerer a aplicação de recursos a longo prazo, pelo que é importante entender todas as facetas da taxa de retorno que podem gerar.

Um programa ativo capacita os destinos para estarem preparados muito mais depressa para os processos competitivos a que se candidatem para o investimento e para o negócio, e desse modo perderem menos oportunidades. Os Embaixadores atuam como polos de uma espécie de sistema premonitório, na medida em que estão vocacionados para perspetivar nichos de mercado, assegurando uma corrente continuada de oportunidades de propostas a concurso, e, portanto, de propostas em curso.

Os destinos que mantêm colaboração estreita com Embaixadores obtêm normalmente mais sucesso nos seus esforços, uma vez que as suas diligências podem combinar de modo consistente o suporte profissional com os conhecimentos intrínsecos de objetivos específicos e aí os Embaixadores podem fornecer-lhes informação sobre o modo de construir uma proposta com probabilidades de sucesso, justificando campanhas com mais tempo e meios investidos, mas com uma maior probabilidade de sucesso.

A contribuição dos Embaixadores é de um valor inestimável para determinar o melhor momento para submeter propostas, bem como, ao contrário, evitar concursos em que as hipóteses de sucesso sejam reduzidas ou nulas. Os destinos de top raramente se esforçam para concorrer a eventos pouco atrativos, em parte pelo feedback negativo transmitido pelos seus Embaixadores. Não alocar recursos a atividades improdutivas é tão importante quanto investir dinheiro nas que são produtivas.

Um programa de Embaixadores pode elevar as discussões com os políticos locais, assim como os profissionais de turismo de negócios podem claramente evidenciar a ligação entre o seu trabalho e o desenvolvimento económico, a ciência, os cuidados de saúde ou as políticas de educação a nível local, ou outras áreas politicamente importantes. O CE gera um fórum significativo em que os políticos podem interagir com os Embaixadores, que desempenham um papel como líderes na sociedade civil.

Quando os Embaixadores trabalham em estreita parceria com os profissionais locais de negócio logo a partir de um estádio embrionário do planeamento dos processos, torna-se muito mais fácil assegurar que os planos visíveis e bem executados, do ponto de vista financeiro, operacional, de marketing, obtenham sucesso.

Os CE são também grandes oportunidades de Relações Públicas para os destinos. A focagem em Embaixadores empenhados e bem sucedidos leva os meios de comunicação locais a reportar relatos positivos de famosos locais, o que gera uma cobertura muito mais positiva do destino que simples press release a falar de direções institucionais. Cumulativamente, isto ajuda a atrair outros potenciais Embaixadores.

O reconhecimento prático formal do sucesso de Embaixadores em ganhar negócios e eventos para o destino é um dos caminhos mais simples para gerar orgulho cívico. Os líderes de negócios devem ser exortados a não se limitarem a sentir-se orgulhosos com a liderança das suas empresas, mas honrarem-se também por serem atores marcantes na sociedade civil local, e o CE torna-se então numa plataforma apta a os fazer interagir com outros potenciais líderes de forma estruturada.

Os custos com a montagem de um CE são normalmente muito menores que os charmosos programas de marketing promovidos pelos destinos, tais como missões empresariais ao estrangeiro, viagens de negócios intercontinentais e outros. Numa altura em que as viagens ao estrangeiro e as despesas com a promoção económica estão debaixo de estreito escrutínio, e bem, esta atividade informal a domicílio é ao mesmo tempo eficiente e de custos ajustados.

Os Embaixadores naturais para um destino, tipicamente líderes no seio dos grupos dos seus pares internacionais, frequentemente serão envolvidos em terrenos que são estrategicamente importantes para esse destino. Por exemplo, um neurocirurgião que é proeminente no seio da sua associação profissional provavelmente não se coaduna com uma unidade fraca de neurocirurgia num hospital. E é altamente provável que queira fortalecer a área da sua especialidade. Um CE bem estruturado procurará aproveitar os trunfos locais para um alinhamento de um evento internacional que “encaixe” na necessidade detetada localmente.

No contexto específico de Cabo Verde, um país arquipelágico e fortemente dissperso, cabe aos CE, cujos membros possuem experiências de penetração, adaptação e socialização sempre ricas e bem-sucedidas, um papel preponderante na remoção de burocracias dispensáveis, de pruridos protecionistas e/ou isolacionistas e de outros entraves à cooperação, estabelecendo laços e pontes entre o puzzle de comunidades e organizações em presença em cada um dos processos que desenvolverem.

C - CONSIDERAÇÕES ESTRATÉGICAS

Há numerosas aproximações estratégicas que podem ser feitas para definir a estrutura, os objetivos, âmbito e procedimentos de operacionalização dos CE. Uma aposta forte depende da situação político-económica local (incluindo áreas chave de especialização ou de influência) no destino, a força e os orçamentos das instituições locais, a consciência cívica que se verifique, as relações institucionais e os níveis de empenho político na “meetings industry” (turismo de congressos, incentivos e negócios).

Um comprometimento de longo prazo com a criação de um CE é, portanto, essencial para lhe garantir sucesso.

Qualquer aproximação estratégica deverá visar o entendimento e a incorporação de motivações e objetivos quer das instituições locais quer dos Embaixadores individualmente. O ideal é que se verifique um alinhamento com os objetivos dos decisores políticos locais e/ou nacionais. Por exemplo, pode uma universidade estar fortemente interessada em aumentar os níveis de perceção da sua liderança na investigação em determinado tema académico, ao mesmo tempo que o objetivo da cidade seria o de atrair investimento interno por parte do governo e/ou de capitais de risco. É conhecida a legítima e saudável apetência de qualquer personalidade para tentar deixar legado que perpetue a memória da sua atuação profissional à cidade, região ou país de origem.

O orgulho cívico não é coisa fácil de qualificar ou definir, mas o Embaixador com mais sucesso não deixará de incorporar esta componente nas suas diligências. Os Embaixadores não se eximem a dedicar tempo e competência mesmo sem garantias de sucesso ou retorno financeiro; instituições e políticos necessitam também de uma grande motivação anímica, para além de argumentos económicos concretos. Atividades tais como cerimónias de atribuição de prémios de grande perfil ou entrega de certificados e condecorações constituem focos de identificação das contribuições de Embaixadores para o progresso económico, cultural e social no seu destino. Ninguém aceita tornar-se Embaixador através de uma fria análise custo-benefício; há sempre um mix de racionalidade e emoção que os criadores de clubes de Embaixadores têm de detetar e dele fazer uso.

D - MONTAGEM DE UM Clube de Embaixadores

1.- Estatutos e registos

Um Clube de Embaixadores estabelece-se no contexto legal do país em que se insere. Normalmente, constitui-se como uma Associação sem fins lucrativos e regista-se em consequência.

2.- Ligação à Embaixada

Um CA, sendo o seu eixo de pulsação a criação e fortalecimento de pontes com o país, terá a maior das conveniências em estabelecer fortes laços com a Embaixada de Cabo Verde.

Dado que as Embaixadas de Cabo Verde de modo geral carecem de adidos especializados em algumas matérias relevantes para a sua atuação, um Clube de Embaixadores pode tornar-se, havendo interesse de parte a parte, num forte aliado da diplomacia, em especial nas vertentes económica e cultural.

 

E - RETORNAR À TERRA DE ORIGEM

Depois de uma fase da vida longe das origens, quem não ambiciona regressar, episódica ou definitivamente, com o legado de saber e experiência adquiridos ao longo de naos de luta por uma vida melhor, um estatuto, uma reserva de património?

É verdade que o acolhimento à generosidade de quem um dia partiu não é automático, e pode mesmo ser frio. Mas um Clube de Embaixadores tem mecanismos para criar as pontes necessárias à remoção de entraves, quer burocráticos quer psicossociológicos, tornando as contribuições dos filhos da terra bem-vindas, apreciadas e estimadas.

E o mais importante mesmo para os membros de um Clube de Embaixadores, é atingir o nobre objetivo de verem crescer e desenvolver-se a sua terra de origem e as gentes que são as suas próprias raízes.

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No rescaldo deste longo intervalo de amadurecimento de ideias, manifestaram-se duas visões à primeira vista antagónicas quanto ao modelo a adotar, as quais foram sendo debatidas e comparadas com modelos reais que sobretudo a Linda Pereira conhecia bem, mas que só em 2012 foram clarificados e expressos, particularmente em três comunicados, (i)um primeiro da mesma Linda Pereira, de 12 de abril, no qual advogava a adoção de um cariz de voluntariado, presumindo que quem se propõe a ‘embaixador’ se sinta honrado em trabalhar em prol do bem da comunidade, com espírito de missão, com carácter mais informal do que formal, mais dinâmico do que estático, gerando encontros frequentes e iniciativas que acrescentem valor às estruturas administrativas, comerciais e políticas, particularmente do ramo do Turismo, sem no entanto descurar o cuidado com a sustentabilidade, a ser conseguida através da organização de eventos regulares que ao meso tempo nutram o entusiasmo pelas causas abraçadas e suscitem proventos que suportem os custos da estrutura. (ii)Wladimir Brito, por sua vez, em correspondência do dia seguinte, abundava no mesmo sentido, e advogava que não devia ser criada uma associação rígida, mas sim manter o grupo com carácter de clube informal, com um estatuto interno, dando tempo ao tempo para se aferir se sim ou não se avançaria para uma instituição mais estruturada oficialmente. (iii)Quem no entanto se propôs assumir a responsabilidade de aceitar a condução do Clube de Embaixadores acabou por ser Rolando Borges, que dispunha já de um curriculum no associativismo cultural, e que defendia um Clube de Embaixadores formal, com estatutos, registo oficial e regulamento interno, condição sine qua non, segundo explicou em correspondência de 15 de abril, para aceder a programas de financiamento da União Europeia, e em particular a programas no âmbito da Parceria Especial de Cabo Verde com a mesma União Europeia.

Os argumentos de Rolando Borges acabaram por pesar, perante a perspetiva de a máquina administrativa deste primeiro clube de embaixadores poder ter assim, logo à partida, garantias de financiamento, pelo que propôs que se adotasse o modelo de estatutos da ‘Associação na Hora’ disponível no Registo Nacional de Pessoas Coletivas em Portugal, imprimindo-lhe ademais carácter internacional, com mandato de 3 anos para os corpos sociais, uma Direção de três elementos, um Conselho Fiscal de dois elementos, e um Regulamento, a elaborar.

No intuito de garantir a concretização o mais rápida e sólida possível do primeiro CE cabo-verdiano, admitimos, a expensas da Contacto Virtual, no quadro vigente de apoio ao emprego do IEFP[8], uma colaboradora, Sandra Fernandes, na perspetiva de se tornar a Secretária Geral do Clube, que passou a assumir a gestão das diligências necessárias para o efeito, desde (i)o pedido do Certificado de Admissibilidade da Associação, que viria a resultar numa designação pouco apelativa (EMBCV – Clube de Cabo Verde), em lugar do que seria a designação óbvia e universalmente utilizada (Clube de Embaixadores de Cabo Verde de Lisboa, no caso pendente), por alegada incompatibilidade com a designação de outras instituições existentes; (ii)à elaboração e registo dos Estatutos, adotando-se por facilidade o modelo já referido proposto pela RNPC; (iii)à elaboração de um regulamento interno; (iv)ao desenho de um logótipo; (v)e, o mais importante de tudo, à angariação de “embaixadores”, o verdadeiro sangue da Instituição.

Em reuniões que se foram seguindo, logo no dia 19 de abril de 2012, na Associação Cabo-Verdiana, rua Duque de Palmela, na qual se delinearam os corpos sociais[9], estando presentes Celeste Correia, Mário Carvalho, Rui Machado, Gladstone Germano, Rolando Borges, Sandra Fernandes, eu próprio, e ainda, remotamente, Wladimir Brito e Linda Pereira; no dia 7 de maio, no hotel Fontana Park, em Arroios, perto das Picoas, em que fiz com a Linda Pereira, o Rolando Borges e a Sandra Fernandes um ponto da situação para concluirmos o processo de constituição do Clube; ainda uma outra no dia 20 de setembro, na Contacto Virtual, em Carnide, com José Pedro Chantre, um amigo que na altura era quadro superior da União Europeia de serviço em países africanos, para compreendermos que possibilidades haveria de o Clube se candidatar a fundos da UE no âmbito de programas de desenvolvimento com a OEACP[10].

A “EMBCV – Clube de Cabo Verde” foi registada no dia 27 de setembro de 2012 como Associação Cultural e Recreativa, com sede na rua Manuela Porto, 11 A (por cortesia da Contacto Virtual), adotando o modelo simplex de Estatutos preconizado pelo Registo Nacional de Pessoas Coletivas, tendo sido redigido um Regulamento Interno[11] com 38 artigos, que, além de disposições gerais e transitórias, define critérios de adoção, direitos e deveres de novos membros, constituição e funcionamento dos órgãos sociais e obtenção e aplicação de recursos financeiros.

A designação adotada por este Regulamento Interno passou a ser a de CLUBE DE EMBAIXADORES DE CABO VERDE.

Infelizmente, a opção tomada de avançar à partida com um figurino formal e focado na obtenção de financiamento da União Europeia ditava um dilema: ou se conseguiam esses recursos e tínhamos uma situação promissora, ou não conseguíamos, e seríamos colocados perante um impasse perigoso de paralisia. Como quase sempre acontece, cumpriu-se a lei de Murphy, e o Clube de Embaixadores de Cabo Verde, tão laboriosamente trabalhado, estacionou no limbo costumeiro da Boa Esperança, de onde se tem erguido em sonhos esporádicos, como quando, em março de 2017, reunimos um grupo de boas vontades e fomos fazer prova de vida, como documenta esta foto, com o Embaixador Eurico Monteiro e o Adido Cultural da Embaixada em Lisboa, Elias Andrade.

Da esquerda para a direita: Carlos Torres, Armando Ferreira, Linda Pereira, Embaixador Eurico Monteiro, Celeste Correia, Filinto Correia e Silva, Rolando Borges, Jorge Revez, José Pedro Morais e Elias Andrade

Como paramboia resiliente mas submersa em casulo efémero à espera de melhores dias, confiemos em que este projeto, tão prenhe de promessas, tenha a magia do peixe pulmonado, e emerja em dia de chuvas vindouras que lhe emprestem nova vida…  



[1] União Nacional dos Operadores Turísticos de Cabo Verde

[2] Vide artigo respetivo

[3] Idem

[4] SalAnima (vide artigo respetivo)

[5] Clube de Embaixadores

[6] Ver artigo respetivo

[7] Alguns desses nomes, a título de exemplo: Manuel Correia, Presidente da Federação das Organizações Cabo-Verdianas; Corsino Tolentino, ex-Embaixador de Cabo Verde em Portugal; Eunice Évora, Académica, membro da Comissão Paritária Portugal-Cabo Verde; Manuel Chantre, ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde; Carlos Machado, cônsul de Cabo Verde no Porto; Helena Lopes da Silva, médica no Hospital de Santa Maria em Lisboa; José Zaluhar, professor na Universidade Lusófona; Rui Lourido d’Ávila, da UCLA; Lucas da Cruz, ex-Administrador da Cimpor; Esmeraldo Azevedo, militar de alta patente; entre outros…

[8] Instituto de Emprego e Formação Profissional

[9] Rolando Borges assumiu a presidência do Conselho Diretivo

[10] Organização dos Estados de África, Caraíbas e Pacífico

[11] Ver em caboverde-info.com

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